Não fosse a perna direita de Galatto, fundamental na abafada tarde pernambucana do dia 26 de novembro de 2005, talvez o Grêmio sequer estivesse prestes a disputar uma final de Libertadores. Decisivo, o ex-goleiro nem usou as mãos para fazer uma das defesas mais importantes da história tricolor: com apenas sete homens em campo e o jogo contra o Náutico já na reta final, ele defendeu o pênalti cobrado por Ademar, abriu caminho para o Grêmio subir de divisão e fez parte da construção da estrada que hoje guia o clube à condição de finalista da América.
Galatto tem gravado na memória até os mínimos detalhes do que ele e o Grêmio vivenciaram nos Aflitos, contra o Náutico, em um jogo que a derrota custaria um lugar na elite em 2006. Ao Torcedores.com, em entrevista exclusiva concedida na última terça-feira, ele revelou que conseguiu guardar apenas a camisa utilizada naquela tarde – exposta em um quadro como motivo de maior orgulho da carreira interrompida em 2015, no Juventude.
Gaúcho de Porto Alegre e gremista de coração, Rodrigo José Galatto trocou a bola pelo comércio e hoje tem a sua própria loja de venda de peixes e frutos do mar em Gravataí, região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul. Antes, exerceu a função de representante comercial de uma empresa da mesma área. O futebol até parece página virada na vida do ex-goleiro, mas só parece, porque o Grêmio está fixo no seu horizonte.
À reportagem, o herói tricolor em 2005 admitiu um “pingo” de frustração por não ter permanecido mais tempo no Grêmio. Uma lesão sofrida na cabeça em um jogo contra o Veranópolis, pelo Gauchão de 2006, representou a ele um longo período inativo. Depois, nunca mais se firmou, conforme revelou no bate-papo abaixo:
Torcedores.com: Como você o momento do Grêmio? Está pronto para ganhar a Libertadores?
Galatto: Eu, como gremista que sou, vejo o Grêmio atravessando um bom momento. Um time bem entrosado e muito bem comandado. É nítido que estão querendo atingir o seu objetivo. Então, eu fico na torcida. Torço muito para que o Grêmio consiga se sagrar campeão da América e se torne tricampeão da Libertadores.
T: Por ter feito aquela defesa histórica de pênalti na Batalha dos Aflitos, em 2005, você também se sente parte desse momento atual?
G: Olha, a Batalha dos Aflitos para mim é o maior feito da minha carreira. No ano de 2005 eu estive dentro do campo, ajudei o Grêmio e como gremista tinha mesmo que ajudar o Grêmio. Fiz a minha parte. Eu sou muito feliz por todos os dias encontrar pessoas na rua que me agradecem por aquele jogo contra o Náutico, que me agradecem por ter ajudado o Grêmio. Em um momento tão difícil e tão delicado que o clube vivia naquela temporada. Disputava uma Série B, não tinha dinheiro, havia muitas restrições para gastar. Então o Grêmio naquele período tinha que fazer até milagre com dinheiro. A gente se uniu, o torcedor veio junto, começou a se associar e nós conseguimos aquele feito. Eu posso dizer que ajudei lá atrás. Hoje eu sou mais um na arquibancada gritando e apoiando o Grêmio. Gostaria de estar no clube até hoje, mas no futebol nem sempre acontece o que queremos. Mas fico feliz por ter ajudado naquele momento e feliz pela fase que o clube vive atualmente. Se o que eu fiz lá atrás ajudou para o Grêmio de hoje, fico muito feliz.
QUER LER MAIS CONTEÚDO EXCLUSIVO DO TORCEDORES.COM? CLIQUE AQUI!
T: Você teve uma lesão grave na cabeça em 2006, e depois não conseguiu mais se firmar no Grêmio. Ficou uma frustração por não ter jogado mais tempo no clube?
G: Se eu não tivesse me machucado no ano de 2006, naquela grave lesão que eu tive na cabeça, acredito que o meu ano teria sido melhor. Na sequência, em 2007, também seria melhor. Então, eu saí do Grêmio para o Atlético-PR, onde eu tive um bom desempenho. Fui reconhecido pela torcida, fiz um Brasileirão de 2008 muito bom. Eu fui para lá com um ano de contrato e no meio do campeonato o Atlético-PR já quis renovar por mais três. O que fica é um pingo não de frustração, mas de vontade de ter ficado mais tempo no Grêmio. Se não tivesse acontecido aquela lesão, eu acho que eu poderia ter ficado mais, sim. Depois eu saí, respirei novos ares e também foi bom. Mas como gremista desde a infância é claro que eu gostaria de ter permanecido por um tempo maior.
T: Ainda sobre a Série B de 2005, Galatto. Naquele período, subir era mais difícil do que é hoje?
G: Jogávamos por chaves. Primeiro classificavam oito times, que se dividiam em duas chaves de quatro e depois saíam mais dois de cada chave. No fim, um quadrangular com jogos de ida e volta. Subiam só dois times e era bem mais disputado, com certeza. Naquela época era mais disputado. E hoje sobem quatro, com pontos corridos, 38 jogos que tu pode começar bem, terminar mal, ou começar mal e recuperar… tu tem tempo dentro da competição para se organizar. Hoje em dia o clube grande, quando cai, tem mais de 80% de chance de subir. A não ser que o trabalhado administrativo não seja bem feito. Comparando o Inter de hoje com o Grêmio, naquela época de 2005 o Grêmio estava mal financeiramente, subia apenas dois, e hoje o Inter estruturado, com muitos sócios, se não subisse esse ano seria uma tragédia.
T: O que aquele jogo contra o Náutico representou para a tua vida? Há algo que você ainda não tenha revelado daquele dia?
G: Já são 12 anos desde aquele lance, então tudo o que aconteceu lá dentro dos Aflitos eu já contei para amigos, entrevistas, enfim. Mas eu lembro perfeitamente do pênalti, do jogo, do dia como foi. É um dia que vai ficar para sempre na minha memória, bem vivo, bem guardado, porque não tem como tu esquecer de um fato assim. Tu tem quatro homens expulsos, segunda penalidade contra, o jogo já perto do fim, tudo favorecendo o adversário… quando ninguém mais acreditava, a gente foi lá e superou. Para mim, sinceramente, foi surreal. Não só para mim, mas para o futebol em si. Tive o prazer de jogar fora do país e me perguntavam muito sobre a Batalha dos Aflitos. Feliz demais por ter participado e especialmente por ter ajudado o clube do meu coração a deixar aquele calvário que era a Série B.
OUÇA! GALATTO DÁ DETALHES DA BATALHA DOS AFLITOS AO TORCEDORES
T: Por curiosidade, o que ainda tem daquela partida?
G: Eu só tenho a camiseta daquele jogo, que está em um quadro. As luvas eu perdi durante a pré-temporada de 2006 e a chuteira estourou. Dei para o roupeiro arrumar, mas não voltou mais.
T: Como contemporâneo do Grohe e amigo pessoal, como viu aquela defesa contra o Barcelona pela Libertadores e o momento dele?
G: Não tem o que falar daquela defesa, sinceramente. Arrojado demais. Evitou o gol do Barcelona, que poderia mudar o desenvolvimento do jogo. O time rival cresceria e ganharia força para buscar o empate. E o Marcelo subiu praticamente junto comigo. Eu tinha um ano de profissional e ele começou a subir da base para ajudar nos treinamentos. Com sua qualidade, foi ficando e o Grêmio não contratou mais ninguém. Ficou eu e ele, e aí veio o Cássio, que hoje está no Corinthians. A gente fez uma amizade muito legal nós três. Hoje eu tenho mais contato com o Marcelo, seguido estamos nos falando, ele vem na minha casa ou eu vou na casa dele. Particularmente, eu fico muito feliz por ele. É um cara que mesmo depois que se firmou sempre tinha dúvida sobre o trabalho dele, mas depois ele mostrou pra todo mundo que é o goleiro número 1 do Grêmio. Torço por ele, fico feliz por ele estar passando esse momento e tomara que ele consiga essa Libertadores para coroar de vez a carreira dele no clube.
T: Como está sendo a sua vida fora do futebol? O Grêmio ainda está nos planos?
Eu estava com essa representação, em escritório, mas eu acabei cedendo a minha parte e resolvi abrir o meu próprio comércio. Aqui na cidade de Gravataí eu tenho e mantenho uma loja especializada em peixes e frutos do mar. Não atuo mais como representante e sim como comerciante. Em paralelo, me inscrevi em um curso de gestão online, porque, sim, ainda tenho vontade de participar no futebol, que é uma área que eu entendo, então por que não contribuir? Quem sabe um dia possa voltar ao Grêmio com um cargo de gestor ou de repente nos treinamentos de goleiros, já que eu tive o prazer de conviver com bons preparadores de goleiros ao longo da minha carreira. Pretendo sim voltar a exercer algum trabalho profissional em outra área do Grêmio no futuro.
LEIA MAIS NOTÍCIAS:
Lanús não vê favoritismo, mas ressalta força da torcida do Grêmio: “Tem um peso”
Gremistas dividem opiniões sobre possibilidade de Roger treinar o Inter