Há 47 anos, morria o único campeão póstumo da Fórmula 1
Hoje, dia 5 de setembro, a morte do grande piloto germano-austríaco Jochen Rindt completa mais um aniversário. Infelizmente, foi seu falecimento aos 28 anos que lhe fez entrar para a história do automobilismo, pois até hoje, ele é o único que conquistou o maior título da categoria após ter partido deste mundo. Conheça um pouco mais de sua história.
Hoje, dia 5 de setembro, a morte do grande piloto germano-austríaco Jochen Rindt completa mais um aniversário. Infelizmente, foi seu falecimento aos 28 anos que lhe fez entrar para a história do automobilismo, pois até hoje, ele é o único que conquistou o maior título da categoria após ter partido deste mundo. Conheça um pouco mais de sua história.
Infância e tragédia durante a Segunda Guerra
Karl Jochen Rindt nasceu em 18 de abril de 1942 em Mainz, na Alemanha e era fruto de um casamento entre um advogado alemão e uma jogadora de tênis austríaca. A vida do futuro campeão foi impactada pelos efeitos da Segunda Guerra logo em seu primeiro ano de vida: em 1943, seus pais foram mortos durante um bombardeio incendiário na cidade de Hamburgo e isso fez com que o pequeno Karl fosse criado por sua avó na cidade de Graz, na Áustria.
Apesar de ter a cidadania alemã mantida por seu avô, Rindt, que tinha um irmão chamado Uwe, optaria por representar a Áustria em sua carreira como piloto.
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Adrenalina na veia desde a adolescência
Durante sua fase colegial, Rindt foi um jovem impulsivo e impetuoso e isso lhe fez sofrer um acidente de esqui que quebrou a cabeça do fêmur de sua perna esquerda. A consequência de seus ímpetos foi ter que realizar várias cirurgias e com apenas 16 anos, ficar com a perna machucada quatro centímetros mais curta do que a outra. Antes dessa lesão, o futuro campeão já havia ganhado uma moto e desenvolvido o hábito de correr nas trilhas de motocross com seus amigos.
Apesar de já saber dirigir, ele quase não tirou sua carteira de motorista devido ao fato de ter cometidos alguns delitos durante sua juventude e um deles foi o fato de guiar um carro durante 18 meses sem habilitação, já que era menor de idade. Ao assistir, em 1961, ao GP de Fórmula 1 da cidade germânica de Nuerburg, o interesse do trágico campeão pelo automobilismo aumentou consideravelmente.
Início como piloto profissional
Após dois anos participando de corridas não oficiais, conseguindo oito vitórias, em 1963, Rindt, através da ajuda de um grande empresário chamado Kurt Budi Barry, conseguiu uma vaga na Fórmula Júnior. Barry era proprietário de uma equipe da categoria e como pilotava um dos carros, cedeu a outra vaga para o austríaco. O jovem piloto se tornou conhecido pelo seu estilo perigoso de dirigir ao fazer manobras como ultrapassar uma ambulância que estava na pista (em Cesenatico, Itália) e quase atingir a plateia que estava assistindo-o durante uma etapa de Budapeste, na Hungria.
Vitórias, fama e ascensão na Fórmula 2
Sua primeira corrida na F2 foi em abril de 1964, na capital austríaca Viena e, pilotando os carros da Brabham, novamente teve Barry como companheiro de equipe. Em 18 de maio, poucos dias depois de sua estreia na F2, Rindt venceu o grande piloto Graham Hill com o seu carro Brabham BT10 e conquistou a corrida do Troféu de Londres, em Crystal Palace. A partir desse momento, o mundo das corridas passou a conhecê-lo.
Naquela época, muitos pilotos, inclusive Rindt, disputavam a Fórmula 1 e a F2 paralelamente. Devido a isso, algumas vitórias do piloto austríaco não lhe renderam pontos na categoria secundária, porém, através da imprensa da época, sua popularidade lhe rendeu o apelido de “Rei da Fórmula 2”. Ao todo, o austríaco acumulou 29 vitórias, sendo nove delas em 1967, com um modelo Brabham BT23.
Conquista nobre do automobilismo
Além de estar na F1 e F2, Rindt participou das corridas de resistência em carros esportivos durante a década de 1960 e se destacou principalmente nas 24 Horas de Le Mans, uma das três provas nobres do automobilismo (as outras são o GP de Mônaco – que ele venceria em 1970 – e as 500 Milhas de Indianápolis). A estreia aconteceu em 1964, quando Rindt compartilhou uma Ferrari 250LM com o piloto inglês David Piper, porém o carro falhou antes de chegar a vez de Rindt assumir o volante.
No ano seguinte, o piloto da Áustria usou o mesmo carro, porém, trocou o seu parceiro e apesar de não estar interessado na corrida (acreditava que seu carro não era competitivo), Rindt e seu novo colega, o norte-americano Masten Gregory, representaram a equipe North American Racing Team e, mesmo com uma série de problemas mecânicos, venceram a disputa.
Apesar de ter participado de mais algumas corridas de resistência, Rindt nunca mais concluiu a prova de Le Mans. Em 1966, seu Ford GT40 – em parceria com o escocês Innes Ireland – teve uma falha no motor e no ano seguinte, quando dirigiu um Porsche 907 com o alemão Gerhard Mitter, o eixo de sua máquina falhou.
Naquela época, o piloto também correu na Indy 500 em 1967 e 1968, mas não conseguiu concluir nenhuma das corridas. Segundo o jornalista austríaco Heinz Prueller, Rindt disse que, na pista de Indianápolis, sentia que “estava a caminho de seu próprio funeral e que só dirigia naquele circuito por causa do dinheiro”.
Início complicado na Fórmula 1 – Cooper e Brabham
O impetuoso piloto austríaco fez a sua estreia na Fórmula 1 dentro de seu país de criação em 1964, quando foi convidado para participar de apenas uma corrida dirigindo um Brabham BT11 fornecido pela equipe Rob Walker Racing.
No ano seguinte, ele assinou como piloto permanente da Cooper, onde teria como colega de equipe o lendário Bruce McLaren. Seu desempenho naquela temporada não foi muito bom (acabou o campeonato em 13º com 4 pontos) devido à queda de desempenho do carro da Cooper, que apresentou problemas mecânicos durante toda a temporada. Sua melhor apresentação foi um 4° lugar no GP da Alemanha.
Em 1966, Jochen Rindt viu a Cooper melhorar o carro e isso o ajudou a conseguir seu primeiro pódio na Fórmula 1 (ficou em segundo lugar no GP da Bélgica debaixo de muita chuva). Mesmo tendo girado várias vezes na pista devido a limitação de seu carro, manteve-se na liderança até a 21ª volta, quando foi ultrapassado pela Ferrari de John Surtess e manteve sua posição até o final. No fim do campeonato, o austríaco foi para o pódio três vezes e ficou com o 3º lugar na classificação geral.
Após uma temporada fracassada em 1967, onde terminou apenas duas de onze corridas – Bélgica e Itália, ambas em 4º lugar – e acabou novamente em 13º lugar no campeonato, com seis pontos, Rindt foi para a Brabham, que tinha sido campeã mundial de construtores nos dois anos anteriores.
No ano de 1968, o motor Repco V8 de sua nova equipe já não era tão competitivo quanto o moderno Cosworth DFV de suas adversárias e por causa disso, novamente o piloto da Áustria foi prejudicado e terminou apenas duas das doze corridas da temporada, ambas com o 3º lugar. Com oito pontos na classificação geral, ficou com a 12ª colocação.
Velocidade, insegurança e risco mortal – Team Lotus – 1° ano
Em 1969, Rindt assinou com a Team Lotus, campeã mundial de construtores do ano anterior e famosa pelo alto índice de acidentes; entre 1967 e 1969, a equipe se envolveu em 31 ocorrências, nove deles com o principal piloto da equipe, o inglês Graham Hill. Quando assinou o seu contrato, pouco antes do GP da Espanha, o futuro campeão fez um comentário que acabaria se concretizando de forma trágica: “Em um Lotus, eu posso ser campeão do mundo ou posso morrer”.
Durante a corrida em território espanhol, tanto ele como seu parceiro Hill tiveram as asas de seus carros quebradas e isso fez com que o carro de Rindt levantasse e colidisse com o carro de seu parceiro, que estava parado. Dois comissários da pista se machucaram (um perdeu o olho e outro quebrou o pé) e o austríaco quebrou o nariz.
O acidente fez com Jochen não participasse do GP de Mônaco (vencido por Hill) e também levantou sua ira contra o dono da equipe, Colin Chapman, pois acreditava que ele devia ter previsto que as asas iriam quebrar. A relação entre ambos sempre foi muito turbulenta.
Rindt terminou aquela temporada na 4ª colocação do mundial de pilotos, com 22 pontos e sete abandonos, além de conseguir uma vitória na penúltima corrida do torneio, no autódromo de Watkins Glen, nos EUA, onde recebeu aproximadamente 50 mil dólares, o maior prêmio da história da F1 na época. Entretanto, sua vitória foi deixada de lado devido ao acidente sofrido por seu companheiro de equipe, que bateu em alta velocidade e sofreu grandes lesões nas pernas.
Curto, triste e vitorioso auge – Team Lotus – 2° ano
Em 1970, Graham Hill saiu da Lotus e deixou o posto de primeiro piloto para Rindt, que teria como parceiro de equipe, o britânico John Miles. Logo no primeiro GP da temporada (África do Sul), o carro falhou após um acidente com os pilotos Chris Amon e Jack Brabham.
Na corrida posterior (Espanha), a equipe apresentou um novo modelo, chamado Lotus 72, que utilizava dois radiadores. Na prova, entretanto, o eixo esquerdo da máquina falhou e fez o piloto austríaco rodar na pista e abandonar o circuito na nona volta.
O GP seguinte era em Mônaco e devido as falhas de seu carro, Rindt decidiu usar o antigo Lotus 49 e apesar da instabilidade do veículo, o austríaco não deu nenhuma oportunidade de ultrapassagens e ficou em segundo lugar até a última volta, quando o líder Jack Brabham tocou as zebras e foi direto para a fora da pista, permitindo que Rindt vencesse novamente uma prova nobre do automobilismo.
Na sequência da temporada, o piloto da Lotus voltou a ter problemas e abandonou o GP da Bélgica após nova falha no motor. Após esse revés, Rindt conseguiu quatro vitórias seguidas (Holanda, França, Inglaterra e Alemanha), porém, não teve muitos motivos para comemorar, já que, durante a prova dos Países Baixos, houve um acidente que gerou morte de seu amigo, o piloto inglês Piers Courage, com quem havia jantado na noite anterior. Isso lhe fez pensar em uma aposentadoria.
Após a sequência invicta, o germano-austríaco ficou com a pole position no Grande Prêmio da Áustria, porém teve que abandonar a corrida por causa de uma falha no motor e isso levou a decisão do título mundial para o GP de Monza, na Itália. Vale lembrar que faltavam apenas quatro provas para o fim da temporada.
Tragédia fatal
Na Itália, muitas equipes, inclusive a Lotus, resolveram soltar as asas traseiras dos carros para redução de arrasto e aumento de velocidade. Durante uma sexta-feira de treinos, o segundo piloto da equipe, John Miles, disse que o “carro não estava correto”, Rindt, entretanto, não levou as reclamações de Miles para o proprietário da equipe, Colin Chapman, pois, nas palavras do magnata, o austríaco disse que sem as asas, “o carro era bem mais rápido nas retas”.
No treino classificatório do dia 5 de setembro de 1970 (sábado), Jochen Rindt estava pilotando seu carro normalmente até chegar na histórica curva chamada de “La Parabólica”. De repente, o veículo perdeu controle, começou a ziguezaguear e “voou” contra a mureta da pista. Quando os comissários chegaram ao local, o carro estava totalmente destruído e Rindt estava morto por causa de um grande corte que o cinto de segurança mal colocado causou em sua garganta [o piloto não prendia o cinto totalmente ao corpo pois tinha medo de ficar preso ao carro se ele pegasse fogo após uma batida]. Apesar disso, levaram o cadáver para o hospital devido ao fato de que, pelas leis da Itália, se a morte fosse declarada no circuito, o GP não poderia acontecer no dia seguinte. Vale lembrar que Colin Chapman fugiu de Monza para não ser pego pela polícia, que o indiciou por homicídio involuntário.
Diante de 100 mil pessoas no autódromo, a corrida do GP da Itália teve como vencedor o suíço Clay Regazzoni, da Ferrari. Isso fez o público delirar, já que fazia quatro anos que a construtora italiana não ganhava uma corrida em casa. A prova não teve participação de nenhum carro da Lotus.
O enterro da estrela germano-austríaca ocorreu no dia 11 de setembro daquele ano, no cemitério central da cidade austríaca de Graz. O nome de sua viúva é Nina Rindt (Finlândia) e sua filha chama-se Natasha Rindt.
Título póstumo e entrada para história
Como havia ganho cinco dos dez GP’s que ele disputou na temporada, a vantagem do finado piloto na liderança do Campeonato Mundial era de 17 pontos após a vitória do belga Jacky Ickx no Grande Prêmio do Canadá. A vitória do piloto substituto da Lotus, Émerson Fittipaldi, junto com o quarto lugar de Ickx no GP seguinte, nos Estados Unidos, consagrou Rindt como o único campeão póstumo de F1 da história com uma rodada de antecedência no dia 4 de outubro de 1970.
No dia 18 de novembro, o troféu do torneio foi entregue pelo lendário piloto escocês Jackie Stewart para Nina Rindt na praça da Concórdia, em Paris. Em 2000, quando sua morte completou 30 anos, o campeão de 1970 foi homenageado na cidade de Graz com uma placa de bronze. Outra honraria importante foi a do tradicional circuito Red Bull Ring, na Áustria, que mudou o nome de sua penúltima curva para Jochen Rindt.