Maior artilheiro antes da era Pelé, Friedenreich descansa quase anônimo em cemitério de São Paulo
O silêncio na Necrópole São Paulo, um dos maiores cemitérios da cidade, é quebrado apenas pelos ônibus que passam pela rua Cardeal Arcoverde, no bairro paulistano de Pinheiros. A um dia do feriado de Finados, poucas pessoas circulavam pelo local. Pelo Mausoléu do Esportistas, então, menos ainda. Pouquíssima coisa, aliás, indica que este local da zona oeste da cidade é a última morada de Arthur Friedenreich, o maior artilheiro do Brasil antes da era Pelé.
O silêncio na Necrópole São Paulo, um dos maiores cemitérios da cidade, é quebrado apenas pelos ônibus que passam pela rua Cardeal Arcoverde, no bairro paulistano de Pinheiros. A um dia do feriado de Finados, poucas pessoas circulavam pelo local. Pelo Mausoléu do Esportistas, então, menos ainda. Pouquíssima coisa, aliás, indica que este local da zona oeste da cidade é a última morada de Arthur Friedenreich, o maior artilheiro do Brasil antes da era Pelé.
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A reportagem do Torcedores.com esteve na necrópole na véspera do Dia de Finados. Algumas famílias limpavam o túmulo dos entes queridos, entre elas, a do ex-goleiro do Palmeiras Oberdan Cattani – uma das “celebridades esportivas” que repousam no cemitério da rua Cardeal Arcoverde.
Encontrar a morada final de Oberdan, aliás, é fácil. Na entrada principal do cemitério, há um mapa. Nele, as indicações das quadras e túmulos dos mortos mais ilustres. No caso do esporte, as referências são a Oberdan Cattani, ao doutor Osmar de Oliveira e a dois jogadores menos conhecidos: Tuffy Neugen, goleiro que marcou época no Corinthians, e Noronha, um dos ídolos do São Paulo.
E Friedenreich? Para chegar ao atacante, que por muitos anos alimentou histórias de que teria anotado 1.329 gols ao longo da carreira – Pelé teria “apenas” 1.281 – é preciso caminhar olhando atentamente, como se soubesse onde procurar. Ou, então, perguntar a um dos funcionários da necrópole.
“Olha, tem um túmulo com vários atletas aqui. Eu levo você até lá”, disse um jardineiro do cemitério à reportagem. Nenhuma menção a Friedenreich, autor de comprovados 554 gols com as camisas do São Paulo, Santos, Flamengo, entre outras que vestiu entre 1909 e 1935. Ele conta que parou de limpar o local há algum tempo. “Pararam de pagar. Antes, mandavam a gente cuidar. Agora, não. Até a grade roubaram.”
A ausência da grade, de fato, chama a atenção. Erguido entre 1956 e 1963 pela Associação Atlética Veteranos de São Paulo, o jazigo é grande. Uma imponente estátua guarda os restos mortais de Friedenreich e outras 12 pessoas. Se “El Tigre”, ali, é quase um anônimo, os demais são completos desconhecidos.
Genzo Hara, Paschoal Ferretti, Arnaldo Andreucci, Candido Cortez, Humberto Salerno, Maria Isabel Ribeiro Ramos, Alfredo Gomes, Murilo Alves de Araújo, Vitório Leoni, Lorival C. Ponce de Leon, Sargento Luiz Gonzaga Rodrigues e Professor Antonio Coelho Filho são os “companheiros” de Friedenreich no descanso eterno. Até mesmo no Google é difícil descobrir informações sobre eles.
Ilustres com e sem futebol
Oberdan Cattani e o ex-presidente do São Paulo Marcelo Portugal Gouvêa também descansam “anônimos” na necrópole. Ambos estão em jazigos familiares. Nenhuma referência ao esporte a que se dedicaram estão presentes nas lápides, que a um dia do feriado de Finados, estavam limpas e bem cuidadas.
O mesmo não se pode dizer de Osmar de Oliveira, Noronha e Tuffy.
Difícil de achar pela falta de referência ao nome de família no jazigo, a morada final do “Doutor Osmar” tem o escudo do Corinthians além de uma frase de amor ao clube alvinegro: “Eu não sou corinthiano de coração, pois um dia ele para. Sou corinthiano de alma, porque ela é eterna.” É a única das 13 pessoas no jazigo com referência a um clube de futebol.
Os restos mortais de Noronha, lateral-esquerdo que brilhou no São Paulo entre 1942 e 1951, repousam junto a familiares e a folhas secas na parte externa do túmulo. Em uma placa, há referências à seleção brasileira, ao Tricolor e também a Grêmio, Vasco e Portuguesa, times que o atleta também defendeu.
Tuffy, por sua vez, descansa solitário em uma lápide já desgastada pelos anos. Goleiro do Corinthians de 1928 e 1931 e um dos primeiros ídolos do clube – e, reza a lenda, que foi enterrado vestindo a camisa alvinegra. Na foto no lado de fora do túmulo, ao menos, a camisa está lá, junto de uma placa oferecida pela Associação dos Veteranos do Futebol Uruguaio em abril de 1936, quatro meses após sua morte.