O abismo entre o tênis feminino e masculino: o machismo e a audiência
O tênis feminino ainda é muito desvalorizado em comparação ao masculino. O machismo e a audiência são algumas das causas.
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É 2015, mas socialmente muitas visões não mudaram ao longo das décadas. O machismo é uma das visões de mundo adotadas pela sociedade que ainda está ao nosso redor. Se nas questões pessoais e culturais, ele ainda é muito forte, nos negócios e no esporte não seria diferente.
Todos os dias milhões de mulheres são vítimas, de alguma forma, do machismo. E por mais irônico, contraditório ou surpreendente que pareça ser, ele parte muitas vezes das próprias mulheres. Vítimas e, ao mesmo tempo, agressoras, falta às mulheres união para lutar contra tal método descabido. Talvez as coisas comecem a melhorar quando a classe feminina tomar consciência de que outras mulheres não são suas adversárias, que devem estar do mesmo lado e não no lado oposto.
O esporte, e em questão o tênis, é reflexo do cotidiano. Falta união da classe feminina para lutar a favor daquilo que acreditam ser delas um direito também. E a questão aqui vai muito além das atletas que entram em quadra, passa também pela associação, pelos patrocinadores e pela própria imprensa.
A imprensa é um caso especial a ser debatido. Enquanto os jogos masculinos – em sua maioria – são amplamente analisados do ponto de vista técnico, o tratamento da imprensa para o tênis feminino é diferente. Pare para pensar quantas vezes você ouviu mais análises e discussões acerca da beleza de tenista A, B ou C do que de seu estilo de jogo.
A diferença de estilos de jogo entre o feminino e o masculino é exatamente uma das “desculpas” para justificar o porquê de a beleza chamar mais atenção do que o esporte no caso das partidas em que elas dominam as quadras. Não poderia haver aí uma discussão que envolvesse as razões para jogos tão lentos, com números exagerados de erros não-forçados e uma escassez de jogadas plásticas e envolventes? Discussões essas que passam pela própria base. O quanto as formações de tenistas pelo mundo tem contribuído para isso? Não é preciso olharmos para longe para analisar esse tipo de situação. Qual o investimento no talento de jovens tenistas? Como tem sido a formação delas? O quanto de apoio da Confederação Brasileira de Tênis elas têm recebido?
Essas sim, são discussões enriquecedoras, que trazem à tona assuntos que talvez não gerem audiência mas que definitivamente pressionam as associações e confederações responsáveis e impulsionam o crescimento e a melhora do esporte no país e no mundo.
Se é igualdade que se busca, é com igualdade que os dois gêneros devem ser tratados. Se para ganhar o mesmo que os homens for preciso jogar tanto quanto eles (no caso de Grand Slams em que mulheres jogam melhor de três sets e homens melhor de cinco), que se joguem. O tênis talvez seja um dos únicos esportes que as regras do jogo ainda mudam por causa do gênero.
Audiência
A audiência pode ser até ser um dos impedimentos para o crescimento do tênis, especialmente quando nos referimos a investimento. São raros os patrocinadores que escolheriam – tivessem assim a oportunidade – patrocinar uma atleta (ou evento) feminino em detrimento ao masculino. Voltamos novamente a uma questão social e cultural: o público acostumou-se a acompanhar circuitos masculinos, seja de qual esporte for.
Um estudo da BBC Sport, divulgado em 2014, revelou que os homens ganham mais que as mulheres em 30% dos esportes. E nesse caso, o tênis é o mais próximo de um bom exemplo. Dentre os esportes analisados, ele é um dos que, com relação a premiações, que se encontra no degrau mais próximo ao gênero oposto. O tênis foi o primeiro a pagar prêmios com equivalência de gêneros na história do esporte. Foi em 1973, após uma campanha da ex-tenista Billie Jean King.
E essa mesma audiência que ainda figura na diferença de gêneros, é, também, a grande luz no fim do túnel do tênis feminino. A audiência do tênis feminino, na tevê e na internet, cresceu 22.5% em 2014 com relação ao ano anterior, atraindo 26.9 milhões de espectadores. A WTA acredita que as mídias sociais tenham colaborado para esse pulo na audiência. A categoria já ganha mais premiações, tem mais exibição na tevê e patrocínio do que qualquer outro esporte feminino. As conquistas nestes termos não acabam por aí. A associação espera que o tênis feminino torne-se ainda mais visível nos próximos anos. Recentemente, a WTA assinou um contrato que garante a transmissão de 2.000 partidas a partir de 2017.
Ainda existe uma considerável lacuna de audiência entre os gêneros, que poderia ser quebrada com o foco correto dado ao tênis feminino. Enquanto no masculino a hegemonia é praticamente a mesma há anos, o feminino apresenta uma nova gama de tenistas, é mais imprevisível e vai além muito além de rostinhos bonitos.
CRÉDITO DA FOTO: Federação Francesa de Tênis