A Copa do Brasil inicia nesta quarta-feira (8) a sua 29ª edição sendo um campeonato completamente consolidado, viável economicamente, e ambição de todos os seus 91 participantes, que sonham com uma vaga na Libertadores do ano que vem. Mas nem sempre a competição reuniu todos esses fatores. A partir de sua criação, em 1989, apenas a vaga na competição continental era um atrativo. O torneio só ficou forte em termos financeiros quando o SBT, de Silvio Santos, apostou alto em 1995.
Nos primeiros anos, a Copa do Brasil tinha em média 32 participantes, era uma competição quase marginalizada no calendário. Ao passo que era muito importante por causa da vaga na Libertadores, o torneio não tinha tanto apelo midiático como passou a ter na metade da década de 1990. A Globo, por exemplo, maior emissora do país, não fazia questão de transmitir o torneio.
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Em 1995, o SBT passava por um processo profundo de mudanças em sua grade de programação. A ideia de que a emissora era forte em audiência desde sua criação, em 1981, mas rejeitada pelo mercado publicitário por causa do conteúdo “popularesco” da maioria de suas produções, fez com que Silvio Santos mudasse os rumos do canal, apostando em produção de novelas fortes, como “Éramos Seis”, de 1994, em um jornalismo diferente, reforçando o time que Bóris Casoy comandava desde 1989 com nomes como Heraldo Pereira, Zileide Silva, Tonico Pereira, Giuliana Morrone e Celso Teixeira, e também no futebol.
A Copa do Brasil foi transmitida pela Band, Manchete, mas só ganhou status de torneio de luxo quando caiu nas mãos do SBT, em 1995. A emissora comprou os direitos exclusivos de transmissão, mudou a cara do torneio, investiu alto em publicidade na imprensa escrita, fez um barulho nunca antes visto, e conseguiu atrair o público para ver os jogos pela TV. E ainda deu uma sorte fantástica. Logo na primeira edição do contrato, a final reuniu Grêmio e Corinthians.
A Globo sentiu na pele pela segunda vez o que era perder o Corinthians, segunda maior torcida do Brasil, em uma final de campeonato para uma concorrente. A primeira tinha sido logo no título brasileiro do Timão em 1990, contra o São Paulo, quando a competição foi exclusiva da Band. Mas, agora, a situação era pior. O SBT era uma rede muito maior, consolidada, e vice-líder na média geral de audiência em todo o país.
O resultado foi um dos maiores sucessos da história do SBT. O jogo decisivo, que deu ao Corinthians o título da Copa do Brasil contra o Grêmio em Porto Alegre, rendeu média de 42 e pico de 54 pontos de audiência no Ibope em São Paulo ao canal de Silvio Santos. Foi o maior índice da emissora em todos os tempos até então. Só seria superado pela final da Casa dos Artistas, reality show inspirado no Big Brother, em 2001, que fez média de 47 e pico de 55 pontos.
A expressão “divisor de águas” cabe perfeitamente à Copa do Brasil de 1995. O SBT ainda ficou com a exclusividade da competição por mais dois anos, com os títulos de Cruzeiro e Grêmio sobre Palmeiras e Flamengo, respectivamente.
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Em 1998, a Globo voltou ao torneio, que seguiu transmitido pelo canal de Silvio Santos por mais um ano. A partir dali, a emissora carioca nunca mais largou a Copa do Brasil, que transmite com exclusividade em 2017 mais uma vez após o fim da parceria com a Band.
Nos próximos anos, vai entrar em vigor um novo contrato da CBF com a Globo, o maior da história, que vai render ao campeão uma premiação de até R$ 68 milhões (R$ 50 mi pelo título, mais R$ 18 na soma das fases anteriores). O acordo, que inclui TV aberta, TV paga, internet e outras mídias, gira na casa dos R$ 300 milhões.
Todo esse sucesso comercial da Copa do Brasil pode ser creditado à aposta feita pelo SBT há 22 anos. Hoje a emissora está completamente afastada do futebol, já que não conseguiu suportar por muito tempo a pressão “global” na disputa por direitos de transmissão. Tentou, em vão, comprar o Brasileirão de 1997, mesmo afirmando na época que oferecia mais dinheiro do que a Globo pagou.
Outra investida foi a compra do Paulistão 2003, em uma negociação polêmica que envolveu batalhas judiciais, guerra de liminares entre SBT e Globo, que alegava ter preferência na renovação do contrato anterior com a FPF, um acordo para divisão dos direitos, e acabou provocando a queda do então presidente da federação, Eduardo José Farah, e a consequente ascensão de seu vice, Marco Polo Del Nero. Este hoje é o presidente da CBF. O SBT nunca mais voltou ao futebol depois de 2003.