O grito angustiante que sufocou tão forte a alma do torcedor do Botafogo durante décadas chegou ao fim e em dose dupla. Acabou o desespero de ver os sonhos sempre se tornando pesadelos intermináveis. Aquilo que parecia utopia, distante e irreal, aconteceu.
Tudo tem um fim, até o sofrimento. A torcida botafoguense viveu em uma verdadeira montanha-russa. O amargo do quase e a dura sina de sempre sofrer se impregnou mais uma vez com a derrocada em 2023.
A atual temporada trouxe o fantasma do Campeonato Brasileiro passado à tona, onde o Palmeiras arrancou nas últimas rodadas e deixou o Glorioso sem o título após 31 rodadas na liderança da competição.
Mas o destino é implacável. Como em um roteiro digno de Oscar, a dor se transformou em um grito de liberdade. De Libertadores. Libertadores da América. E para lavar a alma de vez, veio também o Brasileirão Série A.
Brilha a estrela e a torcida do Botafogo
O botafoguense conhece de perto a angústia. E a vitória não aconteceria sem luta e sem o medo de novamente o sofrimento se sobrepor ao sonho. Antes que o primeiro minuto de partida se completasse na final da Libertadores, Gregore transformou a ansiedade de vencer em exagero e foi expulso.
A estrela solitária fez-se uma constelação de guerreiros desfilando em campo e passando por cima de qualquer incerteza. A torcida do Glorioso, acostumada a duvidar, parecia convicta diante de tanto brilho. Luiz Henrique, destaque de 2024, fez o dele e resplandeceu de novo ao arrancar um pênalti, que foi convertido por Alex Telles. Fogão 2 a 0.
Mas calma, não é possível ser torcedor do Botafogo sem sofrimento. Vargas vazou o goleiro John e colocou o Atlético Mineiro novamente na disputa; 2 a 1 no placar. Dali pra frente foram apenas suspiros, fé e sentimentos que vem do fundo do coração. A libertação derradeira veio apenas no último minuto de jogo, com Junior Santos, que foi ‘o cara’ no início da trajetória do clube na Libertadores, e tratou de encerrar qualquer dúvida.
Brilha uma estrela no país que tem o sol em sua bandeira. A estrela solitária brilha mais forte do que tudo. O Glorioso é campeão da Libertadores.
Da gloriosa camisa 7, que um dia foi de Garrincha, o primeiro grito de liberdade aconteceu pairando de Buenos Aires até o Rio de Janeiro. De Norte a Sul, de qualquer lugar onde um botafoguense percebesse a esperança brilhando em forma de estrela.
Da Argentina ao Brasil, é campeão de novo
E se a América foi conquistada, o Brasil se tornou apenas mais uma parte para que o time aguerrido levantasse mais uma taça e colocasse novamente o Botafogo nos dias de glória.
No dia 8 de dezembro, o Glorioso pôs fim ao fantasma de 2023 que assombrou a temporada e conquistou o título do Campeonato Braisleiro. O roteiro de 2024 foi construído com o encaixe perfeito da jornada do herói.
Líder por muito tempo, o time de Artur Jorge teve um momento de oscilação na reta final e perdeu a liderança para o Palmeiras de Abel Ferreira. No entanto, em mais uma demonstração de força, a equipe foi até o Allianz Parque e impôs um histórico 3 a 1 no duelo decisivo.
Depois de levantar o troféu da América, o Botafogo teve um desafio pesado: o Internacional de Roger Machado no Beira-Rio. E foi dos talentosos pés de Savarino que a vitória veio de forma heroica, resultado que foi crucial para o título.
Contra o SPFC, na última rodada, neste domingo (8), o venezuelano marcou de novo e abriu o placar de cobertura. O Tricolor empatou no segundo tempo e Gregore protagonizou sua própria jornada do herói ao anotar o gol da vitória. De expulso na final da Libertadores ao chute que encerrou a trajetória gloriosa no Brasileirão Betano.
E a torcida pode, mais do que nunca, fazer valer os versos de Beth Carvalho, considerada madrinha do Botafogo: “Eu vou festejar, vou festejar! O teu sofrer, o teu penar”.
Estava escrito nas estrelas que o Botafogo viria novamente a brilhar.