Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do Brasil na vitória sobre a Jamaica na Arena Pernambuco
Não é exagero afirmar que a goleada sobre a Jamaica foi uma das melhores atuações da Seleção Feminina sob o comando do técnico Arthur Elias. O grande destaque do amistoso disputado neste sábado (1), disputado na Arena Pernambuco, foi a postura da equipe brasileira com e principalmente sem a bola.
Isso porque o Brasil entrou em campo ligado e aproveitou bem a atmosfera favorável para explorar a fragilidade da defesa jamaicana. Ao mesmo tempo, o técnico Arthur Elias foi encontrando soluções para os problemas apresentados pela sua equipe na Copa Ouro da CONCACAF e na She Believes Cup. Alguns deles mais naturais por conta do início de trabalho e outros já crônicos e que precisam de tempo e paciência para serem solucionados.
Seja como for, está claro para este que escreve que o “onze” ideal de Arthur Elias passa pela presença de Marta e Cristiane aliadas a um meio-campo capaz de dar suporte às duas veteranas. A Jamaica pouco ameaçou o Brasil, é verdade. Mas o saldo da partida deste sábado (1) é bastante positivo.
Seleção feminina calcada na experiência com intensidade no ataque e muita festa
Arthur Elias mandou a Seleção Femimina a campo com Ludmila, Adriana, Marta e Cristiane. A dúvida na formação acabou assim que a bola rolou na Arena Pernambuco, com Vitória Yaya e Duda Sampaio protegendo a zaga, Antônia e Tamires nas laterais, Adriana e Ludmila pelos lados, Cristiane empurrando a zaga jamaicana para trás e Marta circulando por dentro. Na prática, o bom e velho 4-4-2/4-2-4 adotado por Arthur Elias no Corinthians várias vezes.
Inicialmente, vale destacar a postura agressiva da Seleção Feminina com e sem a bola. Sempre que o time brasileiro recuperava a posse, Cristiane se lançava ao ataque (arrastando a marcação para trás), Marta aparecia no espaço vazio e Ludmila e Adriana partiam em velocidade pelos lados do campo. Foi assim que o Brasil conseguiu criar superioridade numérica diante da linha de cinco defensoras da Jamaica. Destaque para as boas arrancadas de Lud e Adriana.
Um outro ponto interessante foi a troca de posições. Eu e você sabemos que Arthur Elias gosta muito dessa dinâmica e dessa mobilidade nas suas equipes. Por isso que ele fez a aposta em Duda Sampaio (jogadora de ótimo passe) e Vitória Yaya (volante que pisa na área com frequência). Se Ludmila aparece por dentro, é a camisa 15 quem sobe pela direita para explorar as jogadas de linha de fundo. Mais pelo centro, Adriana aparece como uma terceira meio-campista e Cristiane dá profundidade.
A Seleção Feminina ganhou ainda mais espaço para jogar depois que Hubert Busby abandonou o esquema com três zagueiras e retornou ao 4-4-2. Isso porque as “Reggae Girlz” baixaram demais o bloco e permitiram que Rafaelle avançasse para armar o jogo como autêntica volante. Com Marta jogando mais à frente (e explorando bem os espaços entre Konya Plummer e Vyan Sampson), o Brasil não teve muito trabalho para construir o resultado na Arena Pernambuco.
Como de costume, Arthur Elias fez várias mexidas na equipe. A que mais chamou a atenção deste que escreve (e que também pode ser considerada a mais interessante) foi a entrada de Gabi Nunes no lugar de Cristiane. Com a mudança para um 4-2-3-1 mais nítido, a Seleção Feminina manteve a pegada no meio-campo e ainda ganhou fôlego novo no ataque com a camisa 19 segurando as zagueiras e Marta jogando na sua, como a ponta de lança que busca o espaço por dentro.
Na prática, o 4-4-2/4-2-4 de Arthur Elias conseguiu mostrar boa desenvoltura e boas dinâmicas com e sem a bola, ponto esse que reforça a ideia de que o elenco parece estar mais familiarizado com as suas ideias de jogo. Antônia (mesmo na lateral) foi importante na saída de bola e Tamires sempre foi boa opção pelo lado esquerdo. Mas a grande notícia dessa goelada esteve na atuação segura das volantes Duda Sampaio e Vitória Yaya. Ambas impecáveis e todos os aspectos.
Dá pra repetir essa formação nos Jogos Olímpicos?
Eu e você sabemos muito bem que o Brasil não vai encontrar a facilidade que teve contra a Jamaica nos Jogos Olímpicos. Portanto, é preciso segurar um pouco a euforia. É possível sim repetir essa mesma formação em cenários mais complicados desde que todo o time mantenha o nível de intensidade em patamares bem altos. Lembrem-se de que Marta e Cristiane não possuem o mesmo vigor físico de antes e isso exige uma série de “compensações táticas” por parte de Arthur Elias.
Precisamos observar o contexto geral. O time ainda comete erros demais nas tomadas de decisão e se mostra afobado em alguns momentos. É óbvio que a presença das duas veteranas ajuda as mais novas. O problema é compensar essa falta de combatividade contra adversários mais bem fortes, como Espanha, Japão e até mesmo a surpreendente Nigéria.
Fato é que Arthur Elias vem encontrando soluções dentro do grupo que escolheu para trabalhar nesse ciclo e dando a sua “cara” para a Seleção Feminina. A questão aqui é conter um pouco a euforia natural de quem sabe que vai sediar a Copa do Mundo de 2027 e focar no que está por vir. Estejam certos de que o nível de exigência será muito maior em Paris. E encontrar respostas rápidas para os problemas que a Seleção Feminina vem mostrando é fundamental.