Clara Albuquerque e Arthur Quezada, da TNT Sports, dissecaram o confronto desta quarta (1) pela semifinal da Liga dos Campeões
Esse texto é a segunda parte da entrevista exclusiva de Clara Albuquerque e Arthur Quezada, correspondentes da TNT Sports, ao Torcedores.com. A primeira parte você encontra aqui.
Arthur e Clara avisaram: o Real Madrid era favorito na última terça-feira (30), mas não se pode jamais descartar o Bayer de Munique. O resultado não foi outro senão um grande jogo de semifinal de Champions League — e provavelmente não foi o único.
Em entrevista exclusiva ao Torcedores.com, os correspondentes da TNT Sports na Europa projetaram, além do grande clássico da competição europeia, a outra “perna” da semifinal, entre PSG e Borussia Dortmund, que entram em campo às 16h (horário de Brasília).
Clara, inclusive, estará presente no Signal Iduna Park, correspondente de longa data do Paris Saint-Germain que é. Já Arthur, que estava presente na Allianz Arena na terça, esteve no local para outra grande partida da Champions League, apenas algumas semanas atrás.
Assunto, então, não faltou. Muito menos conhecimento, em especial do contexto, da imprensa e de toda a “situação” do Mbappé. O resultado desse bate-papo, editado para melhor compreensão e ajuste de tamanho, você confere abaixo.
Clara e Arthur analisam PSG x Dortmund pela Champions League
Torcedores.com: Clara o que o pessoal que vai assistir o jogo da Champions League aqui no Brasil precisa saber sobre esse jogo, que por algum motivo não está sabendo, não está tão ligado, enfim, bastidores e o que mais interessar?
Clara Albuquerque: “Eu acho que a grande estrela dessa partida é a trajetória do Mbappé e a última temporada dele no PSG, com o sonho do título inédito. A gente tem um Mbappé que faz a melhor temporada dele no PSG em termos de números, até então a melhor temporada dele tinha feito 42 gols, em 2021, ele já chegou a 43 e a contagem obviamente segue aberta.
Mas não é a única história. A gente tem um PSG que passa por uma mudança muito grande de perfil desde o início da temporada. A chegada do Luis Enrique, o novo perfil de contratação e também de saída de jogadores mudou o time e esse processo é um processo mais longo, é um processo que já está dando resultados, porque é um PSG que está nas semifinais, mas ainda é um processo que está caminhando.
E a questão do Mbappé não é um processo que está caminhando, é um processo que está se encerrando, que é a passagem dele no PSG, e como maior artilheiro do clube. Então, eu acho que a história mais legal para a gente seguir nesse confronto é o Mbappé.”
T: O Mbappé e o PSG favoritos?
C: “Existe, sim, um favoritismo do PSG, não tem para onde correr. O PSG já enfrentou o Borussia Dortmund na temporada e não perdeu, do Borussia ter caído no grupo da morte e ter terminado líder. Então, existe um favoritismo.
E ainda, se a gente for pegar os números, o investimento, os jogadores, enfim, em todas as estatísticas praticamente, o Borussia Dortmund não é líder em nada. Ele não tem mais vitórias, ele não tem jogadores com mais dribles, mais finalizações. O Borussia não lidera nenhum quesito, mas mesmo assim ele está com méritos nas semifinais da Champions League.
Então, é um pouco de entender se esse Borussia Dortmund, que não tem nada absurdo, mas que faz tudo corretamente, tudo dentro dos conformes, vai conseguir bater um PSG que faz uma grandíssima temporada.”
T: Um PSG diferente, né?
C: “É um PSG que, desde que eu acompanho futebol europeu com mais profundidade, — e estou aqui na Europa há sete anos —, é a primeira vez que vejo um time de futebol. E isso não é apenas por ter chegado nas semifinais, mas, por exemplo, o PSG, nos últimos anos, sempre esteve entre os últimos times da Liga dos Campeões em termos de pressionar o adversário, em termos de compactação para pressionar o adversário. E nessa temporada ele é o líder. É o time que mais pressiona nessa Liga dos Campeões.
É um dado que em muitos jogos pode não significar nada, mas é um dado que significa que é um time. Antes, na minha opinião, não era um time, mesmo que tivesse individualmente mais qualidade.
Então, para mim, é muito importante entender que o PSG mudou. Se vai continuar nesse caminho de mudança, é outra história, porque estamos falando de menos de uma temporada. Mas é um PSG que mudou.”
Borussia Dortmund ou Fantástica Fábrica de Chocolate?
T: E o que você acha que a gente pode ver de diferente do que a gente viu dos jogos da fase de grupos entre o Borussia e o PSG?
C: “Eu acredito que o Dortmund hoje se entende mais como time. Eu acho que ele é mais ousado nesse momento na temporada. Eu imagino um jogo de muitos gols. Os jogos da fase de grupos não foram com tantos gols assim. E a gente teve, em especial também nas quartas de final, jogos com muitos gols.”
Arthur Quezada: “Os narradores tiveram dificuldades, inclusive, vocais. Eu acho que o Borussia Dortmund na temporada é muito parecido com o filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Você não sabe o que vai acontecer.
Se você está vendo o filme pela primeira vez, cara, e é uma loucura, né? Uma loucura que às vezes é desorganizada a ponto de tomar tanto os gols e sofrer tanto, como sofreu contra o Atlético de Madri. O time que fez 2×0 e tomou 2×2 em 10 minutos é capaz de qualquer coisa, é capaz de qualquer coisa ofensivamente, mas é capaz também de entregar.
Então, é essa montanha russa de emoções, que tem sido a temporada inteira do Dortmund, só que um ponto positivo para o Dortmund é que não tem compromisso com mais nada. Chegou numa semifinal, que é um objetivo que, mesmo para um torcedor mais empolgado, não cumpriria nessa temporada.
É uma semifinal de Champions League, uma temporada que o time está em quinto no Campeonato Alemão. E olha para um PSG com a corda no pescoço, que tem a responsabilidade de eliminar o Borussia.“
T: Até porque é um Borussia que não tem Haaland, não tem Bellingham. Nem um Mbappé.
A: “É um Dortmund que vai entrar em campo com uma molecada, com alguns jogadores, que são peças fundamentais ali, mais experientes, mas sem essa responsabilidade, sem esse peso nas costas. E é um time interessante do meio para frente, com algumas peças que, individualmente falando, são algumas promessas do futebol.
A gente tem o Jadon Sancho, que voltou bem, tem o Adeyemi, tem o Bynoe-Gittens, tem o próprio Brandt, tem o Fülkrug, que quando ele está feio, esquece — e geralmente ele está feio.
Enfim, é um time muito divertido de assistir, e um dos melhores jogos que eu já vi em estádio, aconteceu no dia do meu aniversário, semana passada (17), esse Borussia Dortmund 4 x 2 Atlético de Madrid.
O que aconteceu no Signal Iduna Park vai ficar para sempre marcado na minha memória. Foi um prazer enorme ver tantas emoções concentradas no mesmo jogo. Primeiro o 2 x 0, aí meio que já tinha ido para Atlético de Madrid. Aí 2 x 2, depois 3 x 2 e no 4 x 2, o que pulou de cerveja pro alto no estádio com a alegria do torcedor do Borussia Dortmund — e que caiu em todo mundo —, eu não acreditava no que estava vendo. Não está escrito, a emoção que foi viver esse jogo.”
T: Presentaço, hein.
A: “Ô, não poderia pedir melhor.”
Favoritismo e pressão para o PSG na Champions League
C: “O Quezada falou muito bem. É um time muito divertido, é um time que não terá a pressão do PSG. O PSG é o favorito, por mais que exista uma cautela ali profissional, por exemplo, da imprensa aqui na França. É esperado que o PSG esteja na final.
Mas se o Borussia tiver a ambição e essa mesma ousadia no ataque, a gente sabe que a fragilidade do PSG é defensiva. É um time que que mostrou fragilidades defensivas e um time que está no meio de um trabalho.
Porque o Luis Enrique faz um trabalho que não é rápido, né? O processo de criar um time que seja muito mais coletivo e que seja um time de controle – porque quando você tem um time para ser de contra-ataque, a depender claro das suas peças, não é que seja um trabalho mais fácil, mas ele pode ser um trabalho mais rápido – e o trabalho do Luis Enrique, que é um trabalho de controle, de uma equipe que tenha mais posse de bola e que seja a protagonista da partida, esse é um trabalho a médio e longo prazo. Então defensivamente o PSG tem muitas fragilidades ainda.
Mas, repito, para mim a expectativa é de que o PSG passe. Significa que vai passar? Não. Mas é favorito, tem o artilheiro da competição, numa grandíssima história da temporada. Claro que se fala aqui na possibilidade de um PSG x Real Madrid com o Mbappé enfrentando o Real. Então é uma história que está sendo seguida aqui com muita expectativa.”
A: “Você vê que coisa? Na Alemanha estão falando do Der Klassiker na final. E depois de onze anos em Wembley (da decisão entre Bayern e Borussia na Champions 2012-13). Pra quem sabe a redenção de Marco Reus, né? Que é uma história em paralelo às histórias que estão acontecendo.”
T: Hoje em dia ele banco, né?
A: ‘Inclusive a relação com o treinador não é muito boa. Mas é um cara que nunca ganhou um grande título pelo Borussia Dortmund. Ganhou lá a sua Copa da Alemanha e tal, mas nunca ganhou alguma Bundesliga. Nunca ganhou a Liga dos Campeões, inclusive tava nesse time aí que acabou perdendo. Enfim, então eu acho que é uma história, é uma história à parte. Essa possibilidade de voltar ao Wembley e decidir com o Bayern de Munique, que foi o carrasco lá de 2013.”
T: É legal que eu ia perguntar para você, Arthur, como é que estava justamente essa repercussão, de ter dois alemães na semifinal, pelo jeito a repercussão é de empolgação.
A: “Ah, não é todo dia que a Alemanha consegue emplacar dois semifinalistas – inclusive na questão do ranking da UEFA para a próxima temporada, de abrir uma quinta vaga na Champions League.
Então na Alemanha os caras estão empolgados, não só porque foi um ano especial, de um Bayer Leverkusen ter feito o que fez, É um momento muito, muito especial. Você ter dois times alemães nas semifinais, não é qualquer dia, não é qualquer temporada, e os caras estão projetando uma final, sim, mas não se enganem, os alemães são muito práticos. Todos também apontam o favoritismo para o Paris Saint-Germain e para o Real Madrid.”
T: Uma final que colocaria frente a frente um time e seu futuro reforço, Clara?
C: “Essa vai ser a última temporada do Mbappé pelo PSG, muito provavelmente. Muito provavelmente não, ele vai sair, não sabe ainda para onde ele vai, mas ele vai sair. A informação que a gente tem é que ele informou o clube. Que não fica. Se vai ser Real Madrid ou não, outra conversa, mas de fato é a última.”
Mbappé versão protagonista
T: E foi uma temporada que o PSG triplicou a aposta nele, não? E como que tem que você acha que ele tem saído, como que a imprensa francesa tem tratado essa temporada do Mbappé sozinho, como protagonista?
C: “Então, na verdade, essa era a expectativa, né, da gente ter o Mbappé sendo o dono do clube sozinho, mas a gente teve, na verdade, uma verdadeira queda de braço em que, já que o Mbappé vai sair, quem ganhou foi Luis Enrique.
Desde que o clube foi informado de que o Mbappé não ficaria, o Mbappé passou a entrar no rodízio do Luis Enrique, que ele faz desde o começo da temporada. Até ele ter informado o clube, e isso aconteceu em fevereiro, nas partidas das oitavas de final, o Mbappé tinha sido substituído uma vez por lesão e não tinha sido relacionado uma vez para ser poupado.
Depois disso, ele já ficou no banco diversas vezes, já foi poupado, já foi substituído em intervalo de jogo, já foi substituído com time perdendo, já foi substituído com time ganhando, então ele deixou de ser intocável.
Mesmo assim, é a melhor temporada do Mbappé no PSG em termos de gols. Mas a sensação é de que se a expectativa é que ele fosse o único dono, bom, ele continua sendo a grande estrela. Ele tem 40% dos gols do PSG na temporada, sem contar as participações, porque ele ainda tem 10 assistências, além dos 43 gols.”
T: Mas sem ser mais o centro do projeto
C: É um PSG que tenta distribuir e mexer muito com a mentalidade do grupo. Então, o Luis Enrique fala muito: ‘Eu quero que todos os meus jogadores, não só os 11 que vocês consideram titulares, achem que possam ser titulares em qualquer partida. Então, qualquer jogador, antes de eu anunciar a escalação, acha que pode ser titular’.
Porque não existe um 11 característico no PSG. Incluindo o Mbappé. Ele ficou fora de jogos importantes, de jogos em que ele individualmente está buscando marcas, — vamos lembrar que é um jogador que, para brigar por melhor jogador do mundo, o título francês não conta muita coisa, — então ele precisa de números muito inflados e, obviamente, da Champions League, ou enfim, as competições de seleção no meio do ano.”
T: E aí, gente? Mbappé ou Harry Kane? Quem tá jogando mais nessa temporada até aqui?
A: Ah, eu acho que é o Mbappé.
C: É, pra mim é o Mbappé. A diferença é muito pequena dos números, né?
T: 43 gols e 40 gols (nota de edição: Kane já está com 41 gols após a publicação).
C: Então, a diferença de números é quase irrelevante. Mas o Mbappé tem sido mais importante pra esse PSG.