Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o grupo escolhido por Arthur Elias para a disputa da SheBelieves Cup no mês de abril
A seleção nrasileira feminina foi convocada nesta sexta-feira (15) para a disputa da SheBelieves Cup, competição que será realizada nos Estados Unidos. E a lista divulgada pelo técnico Arthur Elias traz os retornos das veteranas Marta, Cristiane e Tamires, além de seguir a linha de testes antes das Olimpíadas.
Vale destacar que apenas sete jogadoras que disputaram a Copa Ouro permaneceram entre as convocadas, sendo que 15 delas atuam no futebol brasileiro e outras cinco ainda não haviam sido chamadas nesse ciclo. Pode ser um indício de que o grupo da Canarinho permanece aberto e também uma tentativa de não deixar as atletas que já têm vaga certa em Paris (pelo menos na cabeça do treinador da Amarelinha) se acomodarem durante a preparação da equipe.
Seja como for, a tendência é que vejamos mais testes e mais experiências na seleção durante essa SheBelieves Cup. O formato do torneio (com semifinal e final) pode ser útil para dar ainda mais competitividade ao time. Por outro lado, Arthur Elias sabe que ainda precisa corrigir alguns problemas.
O que o vice na Copa Ouro deixou de legado para a seleção brasileira feminina?
É verdade que a seleção brasileira feminina saiu da Copa Ouro com um saldo positivo. A equipe mostrou melhor entendimento do que seu técnico deseja. Por outro lado, também ficou provado que esse estilo de jogo exige muita concentração e intensidade. Contra o Panamá, por exemplo, o Brasil se manteve sempre no campo de ataque e se impondo através do 3-4-3 preferido de Arthur Elias. Mesmo assim, a goleada por 5×0 não escondeu alguns problemas coletivos do time.
Vale destacar também que o jogo da Canarinho fluía com mais facilidade sempre que a seleção esteve concentrada em cada lance. Principalmente contra adversários mais fracos. A atuação contra a Argentina nos mostrou essa superioridade técnica e tática, mas a equipe encontrou dificuldades quando diminuiu o ritmo e começou a jogar com displicência. O único gol das nossas “hermanas” surge num desses momentos de desatenção.
Para que o time consiga executar bem esse modelo de jogo proposto por Arthur Elias, a Amarelinha precisa de jogadoras que tenham intensidade e bom preparo físico. Ponto esse que nos leva à utilização das veteranas. Não foram poucas as vezes em que elas estiveram mais apagadas nessa Copa Ouro. Era nítida a falta de alguém que chamasse a reponsabilidade.
Contra o México, por exemplo, a equipe já havia conseguido se impor nos primeiros minutos com as subidas constantes de Gabi Portilho e Yasmim, quase como pontas à moda antiga. Mesmo assim, este que escreve sentia mais a falta de Debinha, Bia Zaneratto e outras atletas que poderiam assumir o protagonismo mesmo contra um adversário mais fraco.
A final contra os Estados Unidos não deixou de ser um “choque de realidade” para a seleção feminina. Apesar do bom início, o Brasil sentiu demais a forte marcação das suas adversárias e chegaram até a apresentar uma certa apatia em alguns momentos. Não por falta de vontade, mas por falta de confiança. Mais uma vez, faltou personalidade por parte das veteranas para chamar a responsabilidade e também mais organização tática diante do maior carrasco da equipe brasileira.
Notem que boa parte dos problemas da Canarinho passa não somente pelo entendimento do novo modelo de jogo (o que é natural nesse início de ciclo), mas da falta de combatividade e até mesmo de personalidade de algumas veteranas. Este que escreve compreende o desejo de Arthur Elias de realizar mais testes dentro das suas opções, mas fica difícil entender (e defender) certas escolhas por atletas que não entregaram o desempenho esperado.
E o que esperar da seleção brasileira feminina nessa SheBelieves Cup?
Para este que escreve, Arthur Elias deve tirar suas últimas dúvidas na SheBelieves Cup e decidir qual será o grupo que vai disputar as Olimpíadas. Porém, é bom deixar claro que dificilmente veremos alguma jogadora que ainda não foi chamada aparecendo na lista final. O que é uma pena diante das boas fases de Nycole Raysla e Bruninha, além da presença de nomes que ainda não mostraram bom desempenho na na Canarinho depois de tantos anos.
O prazo curto para testes até Paris 2024 também é um grande obstáculo para Arthur Elias. Há como se assimilar a necessidade de testes e o fato do treinador já ter suas “preferidas”. Mas será que o pouco tempo para avaliações não justificaria a escolha por uma formação base, e a restrição dos testes apenas nos setores onde ainda restam dúvidas?
A SheBelieves Cup será importante para a seleção também como mais um “choque de realidade”. O formato de “mata-mata” vai exigir ainda mais força mental e mais concentração por parte de um elenco que já deveria ter superado esse problema. Ainda mais com o retorno de veteranas que andam deixando a desejar não é de hoje.