Assim como aconteceu em todos os 110 anos de história da seleção brasileira, a primeira lista de Dorival Júnior como treinador da equipe dividiu opiniões. O que pouca gente entendeu, no entanto, é que a convocação realizada nesta sexta-feira (1) indica um novo caminho no escrete canarinho, algo pedido por muitos nesses últimos anos.
Estamos falando da tão sonhada reformulação na equipe, da “passagem de bastão” feita dos mais velhos para os mais novos de maneira gradual e sem solavancos como ocorreu nas décadas anteriores. É verdade que alguns nomes da relação fazem parte da “cota de confiança” do técnico e que nomes como Murillo (zagueiro do Nottingham Forest) e Vitor Roque (atacante do Barcelona) poderiam ter recebido oportunidades. Mesmo assim, o conjunto traz boas opções.
Vale lembrar que nenhuma reformulação seguirá seu caminho natural sem resultados positivos. E a grande missão de Dorival Júnior à frente da seleção brasileira será recuperar a confiança do elenco e a já absurdamente desgastada relação com o torcedor. E isso vem antes de qualquer lista de convocados ou discurso apaixonado na sede da CBF.
O estilo de jogo de Dorival Júnior e o encaixe dos convocados
Eu e você sabemos que a capacidade de adaptação ao elenco é uma das características mais fortes do comandante. Foi assim que ele conseguiu recuperar o Flamengo depois da passagem do português Paulo Sousa pela Gávea em 2022. A aposta num 4-3-1-2, que reuniu Gabigol e Pedro jogando à frente de Arrascaeta, e a recuperação de jogadores como Everton Ribeiro, Thiago Maia e Rodinei marcou sua passagem pelo Rubro-Negro com os títulos da Copa do Brasil e da Libertadores.
No ano seguinte (depois de não ter seu contrato renovado com o clube), Dorival mostrou essa mesma capacidade no São Paulo. Motivou o elenco e montou um 4-2-3-1 forte na defesa e descobriu em Pablo Maia (convocado para a Amarelinha) e Alisson a dupla de volantes que precisava para ter segurança na defesa. Além disso, a aposta em Lucas Moura como “10” e em Rodrigo Nestor como “falso ponta” também foram outros acertos.
Mas talvez um dos seus times mais lembrados seja o Santos campeão da Copa do Brasil de 2010. Dorival montou um 4-2-3-1 de muita mobilidade e foco no toque de bola com Robinho e Neymar pelos lados, Ganso, Arouca e Wesley vindo por dentro e André “Balada” no comando de ataque. Era a base do Peixe que seria campeão da Libertadores no ano seguinte com Muricy Ramalho. Mesmo tendo saído por conta da polêmica com Neymar, Dorival deixou sua marca.
Montagem de times competitivos não parece ser problema para o técnico da Canarinho. No entanto, o dia a dia num clube é muito diferente da rotina na seleção brasileira, onde os encontros são mais raros e o tempo para treinamentos é muito menor. Esse último ponto até pode ser usado como justificativa para a convocação de Rafael, Pablo Maia e Ayrton Lucas, jogadores já conhecidos do treinador. Não é a primeira vez que isso acontece. Nem será a última.
O caminho para a renovação da seleção brasileira passa pelos jovens
É verdade que a primeira lista de convocados por Dorival Júnior esteve cercada de expectativas, muito por causa do péssimo ano de 2023 na pentacampeã do mundo. Todos querem bons resultados e a retomada do protagonismo por parte do escrete canarinho. Só que isso não vai acontecer da noite para o dia. Assim como a tão pedida reformulação da equipe. É preciso ter calma e paciência.
Esse caminho passa pela presença de nomes como Beraldo, Yan Couto, André, João Gomes, Endrick e Savinho, apenas para citar alguns. E se Dorival terá pouquíssimo tempo para conquistar bons resultados, o mesmo vai acontecer com o processo de adaptação dos mais novos ao ambiente da seleção brasileira. Na prática, o que vemos hoje é o resultado de anos de reformulações feitas na base do “troca todo mundo” sem ao menos estudar o legado deixado por quem saiu.
É louvável que Dorival queira iniciar essa reformulação de nomes e essa retomada do protagonismo logo na sua primeira convocação. Por outro lado, todas as suas escolhas serão criticadas em caso de resultados ruins. E não será em dez, quinze dias de treinamentos que a equipe vai jogar o futebol que eu e você tanto desejamos. Essa é a vida de quem comanda a seleção brasileira.