Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória sobre o Al-Ittihad e as ideias implementadas por Marcel Koller
Este que escreve estranhou quando quase toda a imprensa esportiva brasileira “rasgou confetes” para o Al-Ittihad depois da vitória sobre o Auckland City na terça-feira (12). Mesmo dominando a partida, o escrete saudita apresentou problemas que poderiam ser facilmente explorados por qualquer equipe minimamente organizada. Só que o Al-Ahly fez mais do que colocar o “Clube do Povo” na roda em partida realizada no Cidade dos Esportes Rei Abdullah. A equipe egípcia mostrou organização, consistência, muito boa execução dos conceitos do técnico suíço Marcel Koller e provou que o Fluminense não terá vida fácil na partida da próxima segunda-feira (18).
É lógico que o Tricolor das Laranjeiras tem mais qualidade com a bola no pé e valorizando sua posse como bem gosta e defende Fernando Diniz. A questão aqui é simples. O Al-Ahly superou o milionário Al-Ittihad jogando na base da transição rápida para os pontas Percy Tau e El Shahat às costas dos laterais adversários. Nem é preciso lembrar que esse estilo de jogo explora uma das maiores vulnerabilidades defensivas do Fluminense, que é o controle da profundidade na defesa. E sabendo que o seu adversário de sexta-feira (15) também jogava de forma propositiva, o técnico Marcel Koller apostou no velho 4-1-4-1 e num bloco mais baixo de marcação.
Do outro lado, Marcelo Gallardo manteve o 4-3-3 da vitória sobre o Auckland City apenas com a entrada de Al-Mayoulf no lugar do brasileiro Marcelo Grohe no gol. No entanto, a equipe saudita foi percebendo aos poucos que não teria a mesma facilidade da estreia no Mundial de Clubes da FIFA. Isso porque o Al-Ahly jogava bem, valorizava a posse da bola e atacava sempre em bloco, com muito volume de jogo. Destaque para a movimentação de Kahraba no comando de ataque, para as chegadas constantes de Nabi Koka e Ashour por dentro e para o apoio alternado dos laterais Mohamed Hany e Ali Maâloul. Os “Vermelhos” se impuseram no jogo com sem dificuldades.
O Al-Ittihad, por sua vez, até conseguiu levar perigo à meta do bom goleiro El-Shenawy em finalizações de Romarinho e Benzema antes do Al-Ahly abrir o placar com Ali Maâloul cobrando penalidade questionável marcada com o auxílio do VAR. A equipe saudita até que tentou povoar mais o campo de ataque, mas esbarrou na boa marcação do sistema defensivo do escrete egípcio e sofria demais com as bolas longas às costas dos laterais Shanqeeti e Al Hawsawi. E a falta de intensidade nas transições defensivas só piorava a situação do time de Marcelo Gallardo.
Ao mesmo tempo, não era difícil perceber que Romarinho, Igor Coronado e Al-Ghamdi embolavam demais o jogo pela esquerda e deixavam Kanté quase como um ponta pela direita completamente isolado. Com isso, Fabinho ficou extremamente sobrecarregado na marcação. Logo no começo do segundo tempo, Kahraba recebeu lançamento da direita às costas do meio-campo e viu El Sahat atacando as costas da última (e desorganizada) linha do Al-Ittihad. O camisa 14 teve tempo para ajeitar o corpo e acertar belo chute no canto direito do goleiro Al-Mayoulf. Belo gol.
Mas nem tudo são flores nos “Vermelhos”. Assim como seu adversário, o Al-Ahly também apresenta problemas defensivos que podem ser muito bem explorados pelo Fluminense de Fernando Diniz. O que mais chamou a atenção deste que escreve é o espaço que existe às costas dos volantes no 4-1-4-1 de Marcel Koller. É bem verdade que essa é uma das vulnerabilidades desse desenho tático, mas a demora na cobertura e a distância grande entre o lateral e o zagueiro podem ser “mapas da mina” para o Tricolor das Laranjeiras. Ainda mais sabendo que seu adversário nas semifinais pode sentir a exigência física de um jogo com ainda mais intensidade do que o da última sexta-feira (15).
Ainda haveria tempo para Ashour fazer o terceiro do Al-Ahly (em jogada semelhante ao segundo gol) e para Benzema descontar para o Al-Ittihad. Vitória mais do que justa da equipe que jogou mais e melhor no Cidade dos Esportes Rei Abdullah e também a certeza de que o Fluminense não terá vida fácil na semifinal do Mundial de Clubes. Eu e você sabemos que o time comandado por Fernando Diniz tem mais qualidade com e sem a bola e tem plenas condições de vencer sem maiores problemas. Por outro lado, o Al-Ahly baseia seu jogo na maior vulnerabilidade do Tricolor das Laranjeiras, que é a recomposição defensiva. É algo que precisa de muita atenção dentro de campo.
Se conseguir manter a posse da bola e bloquear bem os espaços de circulação do ataque adversário, o Fluminense pode encontrar a tranquilidade necessária para se garantir na grande final. Do contrário, a equipe das Laranjeiras pode sofrer bastante como sofreu diante de adversários que jogavam mais fechados no seu campo. É ter calma, trabalhar a bola sem muita pressa e não subestimar um adversário de grande experiência internacional e que vai contar com grande apoio da sua torcida no Cidade dos Esportes Rei Abdullah na próxima segunda-feira (18).