Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as ideias de Mikel Arteta na vitória dos Gunners neste sábado (2)
O chamado “jogo de posição” já foi abordado aqui neste espaço uma série de vezes. Ao contrário do que muitos pensam, ele não “prende um jogador num setor do campo” e nem “alija a criatividade do atleta”. E a prova disso foi a ótima atuação coletiva do Arsenal na vitória por dois a um sobre o Wolverhampton neste sábado (2), no Emirates Stadium. O placar pode até sugerir um jogo mais disputado do que realmente foi. Mas não é exagero nenhum afirmar que a equipe comandada por Mikel Arteta poderia ter marcado mais dois ou três gols em cima do Wolves. Tudo por conta da boa execução do “jogo de posição” trabalhada pelo técnico espanhol nos Gunners.
É lógico que o resultado final acaba se impondo em cima de todos os processos. E isso pode prejudicar o entendimento de uma filosofia que é mais antiga do que muita gente pensa. A ideia aqui, não é entrar de cabeça no que é o “jogo de posição”, mas apenas mostrar que ele é mais uma forma de se treinar uma equipe e fazer com que os jogadores levem a bola até o ataque sem limitar a criatividade de ninguém. A vitória do Arsenal segue essa linha de pensamento exatamente pelo que se viu em campo neste sábado (2) e pela forma como os Gunners controlaram o jogo.
A grande sacada de Mikel Arteta foi o posicionamento do meio-campo do seu 4-3-3/4-1-4-1 diante do 5-3-2 do Wolverhampton. Com a bola, o Arsenal abria seus dois pontas (Saka e Gabriel Martinelli) em cima de Nelson Semedo e Hugo Bueno, mantinha Gabriel Jesus (que não balançou as redes, mas foi importante para abrir espaços) como um “falso nove” e posicionava Odegarrd como o grande organizador de jogadas ao lado de Trossard, jogador que foi fundamental na marcação e nas chegadas ao ataque ao lado de Declan Rice no meio-campo. O domínio dos Gunners era claro.
O gol que abriu o placar no Emirates Stadium já mostra bem a forma como Mikel Arteta pensa o “jogo de posição” no Arsenal. Saka recebe na direita, Tomiyasu (o lateral-direito) aparece por dentro, Odegaard ataca o espaço que Gabriel Jesus abre prender a zaga do Wolverhampton dentro da área. Ao mesmo tempo, Gabriel Martinelli abre o campo pela esquerda e Trossard se infiltra às costas dos volantes Doyle e Bellegarde. Sempre que tinham a posse da bola, os Gunners valorizavam a posse da bola e exploravam bem a ausência de João Gomes nos Wolves e dificuldade do time comandado por Gary O’Neil na marcação do quinteto ofensivo. Volume de jogo e muita intensidade.
Quem via o Arsenal em campo empilhando chances de gol e circulando a bola no campo do Wolverhampton via uma ótima demonstração do que é o “jogo de posição” bem executado. Como toda e qualquer filosofia dentro do velho e rude esporte bretão, cada treinador vai imprimir a sua marca em cada equipe. Mikel Arteta faz isso no Arsenal e pede um jogo mais vertical em determinados momentos, principalmente nos contra-ataques. Odegaard fez o segundo dos Gunners logo aos 13 minutos da primeira etapa mas o time londrino não tirou o pé. E sempre usando bem os lados do campo e buscando cada espaço na defesa adversária. Ótima atuação coletiva do Arsenal.
A vantagem no placar fez com que o time de Mikel Arteta “tirasse um pouco o pé” no segundo tempo (o que é até certo ponto natural). Mas vale a pena aqui destacar a boa atuação de Matheus Cunha pelo Wolverhampton. O camisa 12 foi bastante criticado (assim como Gabriel Jesus, Gabriel Martinelli e todos aqueles que participaram da última Data-FIFA pela Seleção Brasileira) há algumas semanas, mas mostrou que tem qualidade. Não somente pelo gol marcado nos minutos finais, mas pela disposição em buscar os espaços no 4-1-4-1 de Mikel Arteta. A compreensão dos espaços no campo e da melhor maneira para explorá-los pode ser o caminho para a redenção de Matheus Cunha.
A boa atuação do Arsenal pode ser analisada de diversas maneiras. Todas elas nos levam à boa execução do “jogo de posição” trabalhado por Mikel Arteta com o elenco dos Gunners. Ao contrário do que muitos pensam, essa filosofia, essa maneira de se pensar o futebol não tira a criatividade do jogador e nem os transforma em “cones” dentro do campo. É apenas mais uma forma de se armar equipes e que ficou famosa com o advento do Barcelona de Pep Guardiola na virada dos anos 2000 para a década de 2010. O bom desempenho de Saka, Odegaard, Gabriel Jesus, Trossard, Gabriel Martinelli e vários outros só reforça essa ideia e rebate aqueles que cismam em analisar o jogo com o fígado.
Fato é que o Arsenal parece ter reencontrado a consistência apresentada na Premier League passada, quando chegou a liderava a competição com certa folga e acabou perdendo fôlego nas rodadas finais. O Manchester City de Pep Guardiola (olha ele aí de novo) pode ser o algoz de Mikel Arteta novamente e ao mesmo tempo comprovar a eficácia do “jogo de posição” mais uma vez. Mas fica a certeza de que os Gunners parecem mais maduros e mais consistentes do que na temporada passada. Principalmente com todo o elenco mais focado e concentrado.