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Klopp x Guardiola: a evolução do confronto

Manchester City e Liverpool se enfrentam amanhã (25/11), porém, o embate entre os dois treinadores vem de longe

Renato Roschel
Editor-chefe do Torcedores.com. Há mais de 30 anos com trabalhos nas áreas de jornalismo e produção de conteúdo. Já colaborou para jornais como Folha de S. Paulo e Valor Econômico. Foi correspondente da Rádio Eldorado em Londres, editor da Revista Osesp e é tradutor, revisor, organizador e autor de diversos livros, entre eles, Literatura Livre: ensaios sobre ficções que formaram o Brasil, obra publicada pelo Sesc em 2022.
Crédito: IMAGO / Sportimage

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Manchester City e Liverpool se enfrentam amanhã (25/11), porém, o embate entre os dois treinadores vem de longe

Há diversas maneiras de construir uma sólida carreira como treinador de futebol. A mais comum é daquele cara que começa em um time pequeno, faz um bom trabalho, ganha repercussão nacional e vai para um time maior. Klopp foi assim, o primeiro clube que ele comandou foi o Mainz 05, onde ficou por oito anos.

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Jurgen Klopp

Lá, ele fez o time subir para a Bundesliga, levou a equipe para a Copa da UEFA na temporada 2005-2006 (foi eliminado pelo Sevilla, que foi campeão), caiu para a segunda divisão em 2007 e retornou para a elite do futebol alemão na temporada seguinte.

Depois, foi para o Borussia Dortmund, onde foi campeão da Bundesliga em 2010-2011 e 2011-2012 (temporada em que o time também conquistou a Copa da Alemanha).

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Assim, na temporada 2012-2013, Klopp chegou à sua primeira final de Champions League, mas foi derrotado pelo Bayern, que no ano seguinte passaria a ser comandado por Guardiola, o qual perderia a primeira disputa de título da temporada (Supercopa da Alemanha) para o Borussia, de Klopp.

Vale ressaltar que o treinador alemão ficou no comando do Borussia até abril de 2015, quando, após duas temporadas ruins, não renovou seu vínculo com o clube.

Em outubro do mesmo ano, Klopp assume o Liverpool, onde conquistou uma Champions e um Mundial de Clubes, além de outros títulos.

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Pep Guardiola

Ao contrário de Klopp. Guardiola começou no Barcelona, depois foi para o Bayern e agora está no Manchester City, três gigantes do futebol europeu. 

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O espanhol é uma máquina de acumular títulos, ao todo são 15. Entre essas conquistas estão três Champions League (duas com o Barcelona e uma com o City); três Mundiais de Clubes (dois com o Barça e um com o Bayern) e vários campeonatos nacionais (espanhol, alemão e inglês), além de outros títulos.

Não são apenas diferenças no jeito de jogar que vão se enfrentar no sábado (25). São diferenças de história de vida e formação profissional que veremos em campo amanhã, no Etihad Stadium, pela Premier League.

Guardiola sempre comandou equipes do mais alto nível, enquanto Klopp começou em um clube pequeno. Portanto, o espanhol sempre teve à disposição atletas de altíssimo rendimento e clubes muito fortes financeiramente falando.

O alemão, por sua vez, participou de projetos que precisavam de muita criatividade e olhar clínico nas contratações para chegar no mesmo nível de clubes como Bayern de Munique ou Manchester City.

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É por isso que a história de Klopp, quando comparada a de Guardiola, nos parece mais taticamente e desportivamente fascinante. Até mesmo o próprio Guardiola já expressou várias vezes sua admiração pelo alemão.

Guardiola sabe que Klopp inventou o nó tático capaz de fazer frente ao controle que as equipes do espanhol constroem durante o jogo. 

“É possível que Klopp seja o melhor treinador do mundo, que cria uma equipe capaz de atacar com quatro jogadores de qualquer zona do campo. Não há muitas equipes capazes disso, e sua intensidade com e sem a bola causa dificuldades adicionais”, disse Guardiola alguns anos atrás.

Ele também mencionou que está plenamente ciente do porquê o próprio alemão descreve o estilo de jogo de suas equipes como “heavy metal”. No entanto, olhando para os anos de rivalidade entre os dois, mais de uma década, podemos perceber as inúmeras táticas que Klopp usou para enfrentar Guardiola. 

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Pensando no desenvolvimento tático do confronto entre esses dois gigantes, separamos cinco partidas que mostram como o técnico do Liverpool, gradualmente, conseguiu criar soluções para enfrentar o estilo tão dominador das equipes de Guardiola.

27.07.2013, Borussia Dortmund 4 x 2 Bayern de Munique 

Houve tantas comparações em sua primeira temporada de rivalidade na Bundesliga. As diferenças nos estilos de jogo foram enfatizadas, é claro, mas a mídia alemã contratou especialistas para explicar o que diferentes gestos significam, como eles se destacam na linguagem corporal e chegaram inclusive ao ponto de discutir as diferenças nos estilos das roupas dos dois treinadores. 

Essa primeira batalha foi vencida pelo futebol “heavy metal”. A Supercopa e a final da Liga dos Campeões vencida pelo Bayern, em Wembley, foram separadas por apenas 63 dias.

Klopp não precisou mudar muito ou motivar especialmente seus jogadores. Foi Guardiola, que acabará de assumir a equipe, quem fez mais mudanças no time: jogou com um “falso nove” (Xherdan Shaqiri) e com Mario Mandzukic na ponta.

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As mudanças feitas pelo espanhol foram uma catástrofe para o Bayern, que foi engolido pelo Borussia. Quatro jogadores: Jakub Blaszczykowski, Marco Reus, Robert Lewandowski e o onipresente Ilkay Gundogan surpreendiam repetidamente os adversários em um perde-pressiona alucinante.

O espanhol mudou o time no intervalo, o Bayern até conseguiu empatar, mas dois gols rápidos reconstruíram a confiança do Borussia.

Eles simplesmente jogaram com mais intensidade, refletindo perfeitamente essa versão de pico da equipe de Dortmund e mostrando as razões pelas quais eles eram uma equipe contra a qual ninguém gostava de jogar.

Guardiola se deparou com isso pela primeira vez e, embora tenha perdido inicialmente para o BVB, rapidamente impôs controle sobre o caos e acabou dominando seu oponente em jogos seguintes.

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01.11.2014, Bayern Monachium 2 x 1 Borussia Dortmund

Foram os primeiros momentos em sua rivalidade. Manuel Neuer pegou a bola e simplesmente a segurou debaixo do pé, olhando ao redor do campo. Havia paz lá: todos os jogadores estavam em suas posições, perfeitamente vigiados pelos oponentes de Dortmund.

Esses eram segundos que pareciam durar muito mais. Xabi Alonso e Philipp Lahm foram separados e o jogo do Bayern foi ‘perturbado’. A posse do anfitrião antes do intervalo caiu para 56%, um resultado nunca visto antes para os jogadores de Guardiola na Bundesliga.

“Esse foi o nosso melhor primeiro tempo da temporada”, disse Klopp, Embora deva ser lembrado que ele estava comparando com as partidas jogados em sua última temporada de crise em Dortmund. Ele tentou diferentes soluções táticas, procurou maneiras de desbloquear o Borussia, que perdeu, entre outros, Robert Lewandowski para o Bayern.

Nesse encontro, Klopp colocou Shinji Kagawa quase no papel de um “falso nove”, o que permitiu a Pierre-Emerick Aubameyang se mover muito amplamente para o lado direito, e Reus atacar pelo lado esquerdo. Com um meio-campista adicional se juntando ao meio, Guardiola ‘tremia’ novamente diante dos quatro atacantes.

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Até que aconteceu o seguinte segundo Lewandowski: “Guardiola nos disse várias vezes o que deveríamos mudar em nossa formação, especialmente no primeiro tempo não conseguimos abrir as asas e no segundo tempo jogamos o que deveríamos”

Assim, o Bayern conseguiu criar perigo já no primeiro tempo, e o controle crescente fez os adversários ficarem correndo atrás da bola, em vez de recuperá-la rapidamente. Com isso o Borussia cansou e cada fração de segundo custava à equipe muito mais força para se posicionar. 

Com o Bayern dominando completamente a partida, Lewandowski marcou um gol de longa distância e Franck Ribery foi derrubado na área: pênalti.

Klopp estava inconsolável, pois sabia que quanto mais tempo sua equipe ficasse sem a bola, mas o Borussia se cansaria. 

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“No segundo tempo, jogamos muito pouco com a posse. Nos tornamos passivos e não deveríamos mudar tanto como aconteceu após o intervalo”, ele explicou.

Isso ilustra perfeitamente o problema fundamental com o futebol “heavy metal” de Klopp: requer condição física ideal, a maior confiança possível, um perde-pressiona muito intenso e… resultados rápidos, ou seja, vantagem no placar. 

Porém, naquela temporada, sem Lewandowski, o Borussia sofria com a ineficácia de seu ataque. Foi nesse momento que Klopp disse que o Borussia, em razão de suas limitações econômicas, era uma equipe com o “canteiro de obras contínuo”. 

31.12.2016, Liverpool 1 x 0 Manchester City

Provavelmente, foi o confronto menos interessante de Klopp com Guardiola. As equipes dispararam apenas algumas vezes, a soma dos gols esperados não chegou a um. Gini Wijnaldum iniciou a jogada com uma interceptação e terminou com um cabeceio de algumas jardas, após um cruzamento de Adam Lallana.

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Mais uma vez, a equipe de Guardiola foi atingida pela mesma arma utilizada pelas equipes de Klopp: o perde-pressiona muito intenso; a recuperação de bola no campo do adversário, a ação em velocidade máxima com a participação de quatro jogadores de ataque e a presença surpresa de um meio-campista na conclusão do lance.

Pela primeira vez, Klopp destacou publicamente que a intensidade em um jogo contra um time treinado por Guardiola era um desafio, não uma solução. 

Para ele, a resposta tática ao esquema posicional e de domínio da posse de bola do espanhol deveria ser um jogo mais eficaz e de bolas longas.

14.01.2018, Liverpool 4 x 3 Manchester City

O completo oposto do jogo no final de 2016 foi o que aconteceu no início de 2018. – Você pode ver esse jogo como um treinador, mas também como um fã. Eu escolho o segundo e… Uau! Todo o mundo estará falando sobre este jogo, uma partida a toda velocidade, onde todos deixaram o coração no campo. Quando você combina qualidade com atitude, você obtém esses resultados. Provavelmente haverá alguém que reclamará da defesa, da falta de uma conta limpa, mas eles não precisam me incomodar com isso – Klopp estava entusiasmado.

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Foi o décimo segundo confronto desses treinadores, mas um dos últimos que foi ditado pelo coração e pulmões de suas equipes, e não pelas mentes dos treinadores.

O Liverpool foi tão agressivo que forçou Ederson a fazer passes longos, em vez de jogar curto de seu próprio gol. Os três meio-campistas centrais – Emre Can, Alex Olxalde-Chamberlain e Wijnaldum – jogaram tão perto uns dos outros sem a bola que, independentemente da altura de sua linha defensiva, sempre parecia que o Liverpool tinha um jogador a mais nessa área.

Cada um dos jogadores ofensivos – Mane, Firmino e Salah – marcou um gol nos primeiros nove minutos do segundo tempo, que destruíram o City. Embora na mesma temporada a equipe de Guardiola tenha encontrado isso duas vezes nas quartas de final da Liga dos Campeões, a temporada da liga foi simplesmente fenomenal. A derrota em Anfield foi a primeira naquela edição da Premier League, eles terminaram com cem pontos.

Também é uma questão do que é controle ao longo de uma longa temporada de 38 jogos. Naquele ano o City teve uma média de posse de bola oito pontos percentuais maior do que o Liverpool (66 a 58).

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Isso deveria se tornar uma parte chave da próxima evolução do Liverpool – uma mudança de acordo com as tendências táticas e que dá uma maior chance de suportar as dificuldades da temporada na Inglaterra. Na temporada do campeonato (2019/20), essa diferença na posse de bola caiu para apenas três pontos percentuais. 

Curiosamente, Klopp também conseguiu isso em 2020 contratando um jogador que já garantia controle no Bayern de Guardiola. Quando o espanhol assinou contrato em Munique em 2013, ele disse aos chefes do clube que só queria “Thiago ou ninguém” nas transferências.

01.04.2023, Manchester City 4 x 1 Liverpool

“Simplesmente não estávamos lá”, Klopp disse depois da goleada. 

“Ou estávamos muito longe, ou muito alto, ou muito abertos, ou muito passivos…”, completou o alemão.

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Esse jogo, em que o Liverpool saiu na frente e o goleiro, Alisson Becker, passou a ser uma arma da equipe. O brasileiro começou até mesmo a fazer assistências para os velozes Salah e Mané.

Mas, ele foi apenas um dos quatro atletas que jogaram bem, em Liverpool, naquele dia. Antes de sofrer o primeiro gol, o City estava jogando bem, no intervalo tinha três vezes mais chutes, na segunda metade a posse de bola dos anfitriões chegou a 75%.

Com a vantagem no placar, o Liverpool se tornou mais passivo, parou com o perde-pressiona mais intenso, o que é sempre sinal de alerta para um treinador como Klopp. Foi assim que o City conseguiu responder.

Além disso, Pep Guardiola encontrou em Rodri um meio-campista para sempre disputar a bola após a perda. Com isso ele voltou a ter o controle da partida. Enquanto isso, o Liverpool era uma equipe agitada, que sofria nas fases de transição (sempre interceptadas por Rodri), as quais costumavam ser seu ponto forte.

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Portanto, no sábado, teremos mais uma vez a batalha do perde-pressiona e do jogo vertical contra a posse de bola e o jogo posicional. Não é possível saber quem será o melhor. A única certeza é de um grande jogo entre duas equipes excepcionais.

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