Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o jogo desta terça-feira (21) e as escolhas de Lionel Scaloni e Fernando Diniz
A primeira derrota da Seleção Brasileira em jogos disputados em casa na história das Eliminatórias da Copa do Mundo pode ser explicada de diversas maneiras. Todas elas nos levam ao planejamento tenebroso feito pela CBF desde a saída de Tite e ao futebol pobre que vimos nessas últimas partidas. De fato, a atuação contra a Argentina de Messi, De Paul e Lionel Scaloni não foi de tão ruim assim. O Brasil tentou competir, empurrou a atual campeã do mundo para seu campo e criou chances de gol. No entanto, faltou mais poder de decisão e um pouco de concentração nos momentos decisivos. Assim como faltou bom senso por parte da CBF no planejamento para esse novo ciclo.
É mais do que natural que o torcedor brasileiro esteja na bronca com Fernando Diniz. Este que escreve já levantou outras vezes aqui no TORCEDORES que o treinador da Seleção Brasileira poderia ser mais pragmático do que o costume diante do pouquíssimo tempo para treinar e implementar seu conhecido estilo de jogo. Ao invés de impor seus conceitos de uma vez, talvez fosse mais sensato ir se adaptando e usando mais os jogadores experientes numa transição até a SUPOSTA chegada de Carlo Ancelotti no ano que vem. No entanto, Diniz não é o principal culpado.
De fato, o que eu e você vimos em campo nas derrotas para Uruguai, Colômbia e agora para a Argentina é o resultado das escolhas da CBF depois da Copa do Mundo do Catar. A opção por um treinador que precisa de mais tempo do que o normal para implementar seu estilo de jogo (e ainda assumindo com o caráter de “interino de luxo”) ajuda a compreender bem o que se passa na Seleção Brasileira. Observando o que foi feito durante todo o ano de 2023, fica fácil de entender como a equipe pentacampeã do mundo caiu tanto. O bastidor influencia demais no jogo.
A grande verdade é que o jogo desta terça-feira (21) pode ser resumido como uma comédia de erros por parte da CBF. Desde a organização do evento até a ausência de dirigentes da entidade na beira do gramado depois da confusão entre as duas torcidas. Falando sobre campo e bola, Fernando Diniz optou pela entrada de Gabriel Jesus no lugar do lesionado Vinícius Júnior e Carlos Augusto no lugar de Renan Lodi. O 4-4-2/4-2-4 estava mantido. Do outro lado, Lionel Scaloni apostou num 4-4-2 com Lo Celso e Mac Allister pelos lados, Júlian Álvarez voltando mais e Messi mais avançado, livre de obrigações defensivas. Enzo Fernández organizava a saída de bola e De Paul fazia o “trabalho sujo”.
Conforme mencionado anteriormente, é preciso dizer que o Brasil não fez um primeiro tempo ruim. A equipe de Fernando Diniz marcava em cima e disputava cada lance dentro de campo (talvez pilhada pela confusão entre argentinos e a Polícia Militar antes da partida). No entanto, o 4-2-4 brasileiro carecia de consistência em determinados momentos. Não foram poucas as vezes em que Rodrygo (justamente o cara que deveria organizar as jogadas de ataque) apareceu mais enfiado entre os zagueiros Romero e Otamendi enquanto Gabriel Jesus vinha mais de trás. Difícil não perceber que esse posicionamento prejudicava demais a conhecida inversão para um 2-4-4 que Diniz tanto fez e faz nas suas equipes.
O Brasil conseguiu criar chances, como a falta cobrada por Raphinha e o chute de Gabriel Martinelli que Cristian Romero salvou quase em cima da linha. Mesmo assim, faltava poder de decisão e controle dos nervos para não cair na constante “pilha” dos adversários. E foi nesse ponto que a Argentina começou a vencer o jogo desta terça-feira (21). Mesmo com Messi mais apagado e com todo o time sentindo um pouco o ímpeto da Seleção Brasileira na primeira etapa. Depois do intervalo, o panorama mudou um pouco, já que a Albiceleste passou a “cozinhar” mais o jogo.
A grande chance do Brasil nasceu de jogada individual de Gabriel Jesus. O camisa nove se livrou da marcação e levou a bola até a entrada da área. Na sobra, Gabriel Martinelli parou em Emiliano Martínez. Com a Argentina mais “inteira” no segundo tempo, a Seleção Brasileira ia encontrando dificuldades para chegar no ataque e só conseguia levar certo perigo nas inversões de jogo da esquerda para a direita buscando Emerson Royal e Raphinha. No entanto, nem isso e nem mesmo a “paralela cheia” de Fernando Diniz conseguiram fazer o Brasil balançar as redes.
Na prática, apenas Bruno Guimarães (embora bem marcado e jogando bem abaixo do que já jogou) e André conseguiam dar alguma criatividade ao escrete canarinho. Mesmo assim, ainda era pouco para superar a consistência da Albiceleste. Depois do gol de Otamendi, a Seleção Brasileira simplesmente se desmanchou em campo. Fernando Diniz, por sua vez, demorou demais para mexer na sua equipe. E quando o fez, viu Lionel Scaloni desfazer seu 4-4-2 e apostar num 4-1-4-1 com Lautaro Martínez mais à frente, Nico González e Di María pelos lados e Paredes na proteção da zaga. Com o jogo controlado, a Argentina impunha ao Brasil a sua primeira derrota em casa em jogos de Eliminatórias de Copa do Mundo.
É óbvio que podemos e devemos reclamar da expulsão injusta de Joelinton no segundo tempo. Mas a impressão que fica é a de que a Seleção Brasileira não conseguiria empatar o jogo nem se ficasse jogando até o dia seguinte. Os atletas parecem perdidos em campo. Difícil entender o que levava Rodrygo, Gabriel Jesus e companhia a sempre dar um toque a mais na bola quando a finalização de média distância parece a melhor decisão. E difícil entender o que Fernando Diniz quis fazer escalando Raphael Veiga como ponta pela direita num momento em que o Brasil mais precisava de quem pensasse o jogo por dentro. Fora isso, o deslocamento de André para a zaga já estava bem manjado pela Argentina.
No entanto, conforme mencionado lá no começo da nossa análise, todas as explicações da derrota de ontem e do péssimo 2023 da Seleção Brasileira nos levam às escolhas terríveis feitas pela CBF nesse início de ciclo. A mesma entidade que escolhe com quem deseja falar é quem optou por jogar um ano de preparação fora na espera de um suposto acerto “de boca” com Carlo Ancelotti. E se o italiano vier mesmo, o que ele vai encontrar por aqui? Qual o legado que ficou desse ano? O que fica para a Copa América e para o restante das Eliminatórias? Alguém sabe a resposta?