Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota do Brasil para a Colômbia e as escolhas de Fernando Diniz
A atuação terrível da Seleção Brasileira na derrota (justíssima) para a Colômbia na última quinta-feira (16) pode ser explicada de várias e várias maneiras diferentes. Este que escreve escolheu dois pontos para esta humilde análise. O primeiro deles tem a ver diretamente com a proposta de jogo implementada por Fernando Diniz na equipe pentacampeã mundial. Por mais que vejamos traços do chamado “Dinizismo” em determinados momentos, o escrete canarinho ainda sofre demais com a falta de organização na defesa. Não foram poucas as vezes em que o Brasil simplesmente não sabia o que fazer quando “Los Cafeteros” tinham a posse e aceleravam o jogo.
E o segundo (e talvez o mais importante) é a falta de perspectivas. Afinal de contas, me expliquem como avaliar o trabalho de um treinador com um recorte de apenas cinco jogos sabendo que ele vai deixar o comando da equipe daqui a alguns meses. Esse cenário bizarro torna o trabalho de Fernando Diniz ainda mais difícil. Não que ele não tenha sua parcela de culpa nas atuações ruins da Seleção Brasileira, mas fica difícil pensar no técnico do Fluminense como a melhor opção para se preparar o terreno para a chegada de Carlo Ancelotti (se ele vier mesmo). Ainda mais sabendo que seu modelo de jogo precisa de mais tempo e paciência para ser assimilado do que a média.
Tudo, absolutamente tudo isso se reflete no que eu e você estamos vendo em campo. Não é apenas uma questão de resultados, mas de problemas na implementação de um sistema de jogo sólido e bem compreendido e a ausência de perspectivas concretas para o futuro. O jogo desta quinta-feira (16) também trouxe marcas negativas. Essa foi a primeira vez que a Colômbia derrotou o Brasil em Eliminatórias da Copa do Mundo e a primeira vez em que o escrete canarinho perdeu duas vezes seguidas na competição. Além disso tudo, as 22 finalizações do escrete comandado por Néstor Lorenzo ajudaram a escancarar a falta de segurança defensiva da Seleção Brasileira.
Muita coisa já foi dita sobre essa partida, mas vale a pena relembrar alguns pontos importantes. Este que escreve lembrou aqui mesmo no TORCEDORES que o esquema com quatro atacantes (embora interessante) poderia ser um problema contra adversários que povoam o meio-campo. E foi exatamente o que vimos na quinta-feira (16). Fernando Diniz mandou a Seleção Brasileira a campo num 4-2-4 bastante semelhante ao utilizado por ele no Fluminense com Cano e John Kennedy no ataque. Do outro lado, a Colômbia se organizou num 4-3-1-2/4-3-3 que conseguia facilmente vencer os duelos por dentro com Castaño, Uribe e Carrascal jogando logo atrás de James Rodríguez, o “enganche” da equipe.
Os primeiros minutos deram a impressão de que a Seleção Brasileira finamente havia reencontrado com seu bom futebol. O gol marcado por Gabriel Martinelli teve elementos claros daquilo que se convencionou chamar de “Dinizismo” e a já conhecida “paralela cheia”. Rodrygo e Vinícius Júnior se aproximaram do camisa 22, Renan Lodi deu profundidade e Raphinha deu amplitude pela direita. A tabela rápida dos dois pontas brasileiros lembrou algumas “rodas de bobinho” que vemos por aí. Um toca e o outro ataca o espaço. Aproximação e passe curto. Quando funcionam, os times de Fernando Diniz deixam ótima impressão. Exatamente como a Seleção Brasileira deixou nesses primeiros minutos.
Só que nem tudo são flores. Bastou que a Colômbia tomasse a iniciativa e se impusesse no meio-campo. Além da inferioridade numérica no setor, André e Bruno Guimarães tinham que se desdobrar para cobrir os espaços à frente de Emerson Royal e Renan Lodi (ambos muito mal na partida). A recomposição defensiva ruim e a desorganização total do time quando o adversário tem a bola resultam numa série de problemas. O primeiro deles são os espaços concedidos no meio da área (o chamado “funil”). Lembrem-se de que o Brasil perdeu para o Uruguai sofrendo dois gols nesse setor. E contra a Colômbia, não foi diferente. Havia campo de sobra para ser explorado por Borré, James e Luis Díaz.
Está claro para este que escreve e mais uma porção de gente que a Seleção Brasileira ainda não sabe o que fazer quando o adversário tem a bola. Enquanto alguns saltam para a pressão, outros correm para trás. E isso gera verdadeiras crateras na frente da última linha. Não foram poucas as vezes em que a Colômbia atacou com superioridade numérica e encontrava uma facilidade para encontrar um jogador livre no campo de ataque. Marquinhos saltava constantemente e obrigava André e Gabriel Magalhães a cobrir uma grande faixa do campo. E para piorar a situação, as mexidas ruins de Fernando Diniz (principalmente a saída de Rodrygo) derrubaram o escrete canarinho.
Os dois gols da Colômbia saíram de cruzamentos para Luis Díaz às costas dos laterais brasileiros depois de um bom tempo trocando passes na intermediária esperando o melhor momento de atacar a área. Era a vitória justa da equipe que finalizou 22 vezes e escancarou todos os problemas mencionados anteriormente. Ao mesmo tempo, o resultado mostrava aos “puristas” que ter segurança defensiva é tão ou até mais importante do que o talento dos nossos craques com a bola nos pés. Nesse ponto, falta a Fernando Diniz um pouco mais de pragmatismo. Simplificar os processos pode ser a chave para amenizar um pouco as críticas e trazer um pouco de paz para a Seleção Brasileira.
Por outro lado, ainda é bastante contraditório para este que escreve cobrar qualquer coisa do treinador do escrete canarinho sabendo que ele deve ser substituído por Carlo Ancelotti. É como se a gente resolvesse jogar um ano e meio de preparação no lixo na espera pelo treinador italiano (que nem contrato assinou ainda). Enquanto isso, Fernando Diniz segue implementando seu modelo de jogo sem se preocupar muito com o futuro. E essa falta de perspectiva é o nosso grande inimigo. Não por parte de Diniz, mas por parte da CBF.