É mais do que natural que o torcedor esteja empolgado com os 5 a 1 da Seleção Brasileira em cima da Bolívia. Por mais que todos nós tivéssemos noção da fragilidade do adversário nesta sexta-feira (8), ficou claro que o Brasil fez aquilo que os mais de 43 mil torcedores presentes no Mangueirão esperavam que fosse feito. Ao mesmo tempo, também é possível afirmar que a equipe já apresentou alguns traços que marcaram os trabalhos de Fernando Diniz ao longo dos últimos anos. O que se viu foi time muito mais solto em campo, que encontrou soluções rápidas e simples para os problemas que foram aparecendo e que tentou deixar os jogadores à vontade dentro de campo.
Por outro lado, é sempre bom lembrar que estamos falando apenas da estreia de Fernando Diniz no comando da Seleção Brasileira e de um jogo contra um oponente que ofereceu pouquíssima resistência para Danilo, Bruno Guimarães, Rodrygo, Raphinha e Neymar. O camisa 10, inclusive, esteve bastante solto em campo e, apesar da falta de ritmo, foi o melhor em campo (pelo menos na opinião deste que escreve). Mesmo assim, vale a pena sim segurar um pouco a empolgação com a goleada e observar mais de perto alguns detalhes da ótima atuação do escrete canarinho.
Isso porque alguns colegas de imprensa parecem empolgados além do aceitável com o futebol apresentado pelos comandados de Fernando Diniz. Sim, este que escreve concorda que suas equipes são muito agradáveis de se ver e que a Seleção Brasileira apresentou momentos do mais puro entretenimento e talento diante da frágil e esforçada Bolívia. Mas é preciso manter os pés no chão nesse início de ciclo para que a euforia não dê lugar à críticas vazias e que nada têm a ver com que está sendo feito em campo. Há pontos positivos e há pontos que merecem atenção.
Fernando Diniz mandou sua equipe a campo em algo que lembrava muito um 4-2-3-1 com Renan Lodi na lateral-esquerda, Neymar jogando logo atrás de Richarlison, Casemiro e Bruno Guimarães um pouco mais atrás e Rodrygo e Raphinha pelos lados do campo. Isso, pelo menos no papel. Sempre que a Seleção Brasileira tinha a posse da bola, o time se movimentava para dar opções de passe e sempre se lançava ao ataque com muito volume. Claro que a postura mais cautelosa da Bolívia ajudou nisso, mas foi interessante ver o Brasil variando a formação tática com bastante frequência e repetindo até o histórico 4-2-4 característico dos anos de outro da equipe. Esse é o tal “Dinizismo”.
Conforme o tempo foi passando, os jogadores foram se sentindo mais à vontade, “quebrando o gelo” da estreia nas Eliminatórias e encontrando os caminhos para furar o 5-4-1 montado pelo técnico Gustavo Costas na Bolívia. Era interessante ver a movimentação dos jogadores no campo ofensivo. Renan Lodi se comportava como meio-campista sempre que Rodrygo abria o campo pela esquerda e Danilo vinha por dentro como um armador (numa dinâmica que lembrava muito aquela exercida por Samuel Xavier e Marcelo no Fluminense). Neymar e Bruno Guimarães sempre buscavam o espaço entrelinhas e Richarlison (mesmo em atuação que destoava dos demais) prendia os zagueiros adversários.
Na prática, é possível dizer que a função de cada jogador em campo dependia de onde estava a bola e da posição do seu companheiro de equipe. O lance do terceiro gol brasileiro (o segundo de Rodrygo na partida) ajuda a explicar esse processo. Sempre que Neymar baixava ou buscava o lado do campo para receber o passe (tal como Ganso faz no Fluminense), Bruno Guimarães avançava para ocupar o espaço generoso que aparecia na entrelinha da Bolívia. Isso gerava mais apoio e mais opções de passe. Notem que Danilo e Renan Lodi repetem a dinâmica explicada acima e Richarlison prende dois zagueiros adversários. Foi a partir dessa movimentação que o Brasil construiu o resultado.
No entanto, quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES já leu que não existe time invencível ou tática perfeita. Um dos pontos que mais preocupa este que escreve nos times de Fernando Diniz é o balnaço defensivo. Como bem explicou o excelente Rodrigo Coutinho no seu blog no GE, o gol de honra da Bolívia pode ser explicado pela queda na intensidade (natural) da Seleção Brasileira e pelo número baixo de jogadores atrás da linha da bola. No lance em questão, apenas Marquinhos estava no campo defensivo e deu espaço para que Ábrego pudesse entrar em velocidade na direção da área defendida por Ederson. Contra equipes mais qualificadas, as coisas podem se complicar de verdade.
Por mais que a Bolívia não sirva de parâmetro para se analisar a atuação da Seleção Brasileira, fato é que o time se comportou bem e fez aquilo que se esperava dele contra um adversário mais fraco. O estilo de jogo de Fernando Diniz parece ter caído no gosto dos jogadores e as lideranças do grupo fizeram questão de elogiar o trabalho do treinador. E, de fato, esse estilo é algo que agrada bastante aos olhos dos espectadores mais exigentes. No entanto, este que escreve gostaria de ver o tal “Dinizismo” diante de equipes mais qualificadas e mais organizadas taticamente. Até mesmo para que a equipe encontre soluções para os problemas que possam aparecer dentro de campo e evoluir mais.
É bem possível que o Brasil já encontre mais dificuldades na partida contra o Peru, marcada para a próxima terça-feira (12) no Estádio Nacional de Lima. O ambiente hostil (bem diferente daquele encontrado no Mangueirão) e o adversário mais qualificado do que a Bolívia serão ótimas oportunidades para os comandados de Fernando Diniz provarem seu valor e a eficiência do estilo de jogo que vem sendo proposto dentro de campo. O “Dinizismo” pode fazer muito bem para a Seleção Brasileira. Mas é preciso ir com calma na empolgação.