O fato lamentável ocorrido com Felipe Silveira, amigo e assessor pessoal de Vinícius Júnior, já era motivo suficiente para que a CBF simplesmente cancelasse o amistoso contra Guiné ou que (pelo menos) exigisse que o imbecil que cometeu o ato racista fosse preso. No entanto, a bola rolou mesmo assim. Difícil entender o que se passa lá pelos lados da Barra da Tijuca e explicar por que a CBF decidiu fazer um “amistoso antirracista” justo num país que trata Vini Jr e vários outros jogadores dessa maneira. Este que escreve entende que o assunto da coluna é tática e as formas de se entender o jogo, mas é impossível fingir demência nessas horas. Ainda mais diante de um assunto tão sério.
É possível sim dizer que a Seleção Brasileira fez um bom jogo apesar das dificuldades impostas pelo contexto que todos nós já conhecemos. O que eu e você vimos no estádio Cornellà-El Prat foi uma equipe que se impôs meio que na base do talento individual e do bom entrosamento vindo da última Copa do Mundo. O jogo deste sábado (17) deixou claro que o Brasil ainda é forte com Ramon Menezes, mas a indefinição sobre o novo treinador ainda é um problema que precisa de solução urgente. E tal fato pôde ser notado em vários momentos da partida contra a aplicada seleção da Guiné. Por mais que o time fosse forte, a falta de uma linha de trabalho ainda é um problema que precisa de solução.
Ramon Menezes mandou a Seleção Brasileira a campo no seu conhecido 4-3-3 que se transforma num 2-3-5 nos momentos de posse com Ayrton Lucas na lateral e Joelinton junto de Casemiro e Lucas Paquetá. O final de temporada e o pouco tempo para treinamentos nos mostrou um time que tentou se impor na base do talento e das bolas longas buscando Vinícius Júnior e Rodrygo pelos lados e Richarlison mais centralizado no campo ofensivo. Mais atrás, Danilo (vez por outra) aparecia mais por dentro para auxiliar na construção das jogadas e Joelinton chegou a aparecer pela direita (quase como um ponta) em alguns momentos. No entanto, o Brasil encontrava dificuldades para entrar na defesa adversária.
Os gols de Joelinton e Rodrygo mostraram que a Seleção Brasileira ainda é muito forte nas bolas paradas e que há talento de sobra para descomplicar as coisas dentro de campo. Mesmo assim, os problemas de criação e na saída de bola da equipe de Ramon Menezes eram escancarados sempre que a equipe da Guiné se fechava na defesa ou subia mais a marcação. Casemiro era o único que baixava para receber a bola dos zagueiros. Com Lucas Paquetá e Joelinton mais próximos do ataque e Ayrton Lucas mais espetado pela esquerda, não era difícil notar que o time se organizava nuam espécie de 3-1-6 sem compactação alguma. O gol de Guiné (marcado por Guirassy) saiu da exploração desses espaços na defesa brasileira.
As coisas só melhoraram depois que Ramon Menezes lançou de um artifício que usou muito no Sul-Americano Sub-20 com a Seleção Brasielira. Ele adiantou Lucas Paquetá como um “camisa 10” de ofício e deixou Joelinton mais preso ao lado de Casemiro. Jogando no 4-2-3-1/4-2-4, a Seleção Brasileira conseguiu ser mais incisiva com Vinícius Júnior e Rodrygo saindo do lado para dentro e abrindo o corredor para a descida de Ayrton Lucas e Danilo. Ainda que a bola parada tenha salvado a equipe de Ramon Menezes no início da segunda etapa, a mudança na formação deixou o Brasil mais encorpado e mais compactado no meio-campo. Só faltou mesmo Richarlison entrar no jogo e fazer aquilo que se espera que ele faça.
A mudança na formação tática também permitiu que Vinícius Júnior crescesse na partida. Sempre partindo da esquerda para dentro, o atacante do Real Madrid formou boa dupla com Ayrton Lucas e ainda viu o time crescer com as entradas de Bruno Guimarães, Raphael Veiga, Malcom e Pedro mais para o final da partida. O 4-2-3-1 mencionado anteriormente foi mantido e ganhou ainda mais contundência com mais jogadores pisando na área e mais agressividade nas transições com o bloco um pouco mais baixo do que no primeiro tempo. Além disso, Malcom entrou bem e manteve o nível que Rodrygo deu para o lado direito de ataque da Seleção Brasielira. O gol de Vini fechou bem a boa vitória do Brasil diante de Guiné.
É óbvio que estamos falando de um amistoso que soma pouco nesse ciclo apesar dos pontos destacados anteriormente. A indefinição sobre o técnico e a completa ausência de uma linha de trabalho na Seleção Brasileira talvez sejam os problemas mais graves atualmente. Por mais que Ramon Menezes tenha ganhado a confiança dos jogadores (pelo menos no discurso para a imprensa) e por mais que o time tenha feito o que se espera dele diante de um adversário mais fraco, ainda não vemos uma linha, uma ideia de jogo a ser trabalhada. Isso porque ainda não se sabe com certeza se Carlo Ancelotti será mesmo o treinador da Seleção Brasileira ou se a CBF tem um “plano B” em caso de negativa do italiano.
Este que escreve vai abordar a insistência da CBF pelo atual comandante do Real Madrid numa outra oportunidade. Por hora, é preciso ter em mente que essa indefinição sobre o novo técnico da Seleção Brasileira é o grande problema nesse início de ciclo (se é que podemos dizer que a equipe iniciou de fato esse ciclo da Copa do Mundo de 2024). Temos uma base, temos ótimos jogadores, talento de sobra e temos o entrosamento que vem desde os tempos de Tite. Falta só quem organize tudo dentro de campo. Sem essa figura, o Brasil vai continuar na mesma.