Home Futebol Problemas do Corinthians vão muito além de Vanderlei Luxemburgo e da montagem de elenco; entenda

Problemas do Corinthians vão muito além de Vanderlei Luxemburgo e da montagem de elenco; entenda

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o empate com o Cuiabá e as opções do Timão para a sequência da temporada

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O Corinthians não sabe o que é paz há bastante tempo. A saída de Vítor Pereira no final de 2022, a escolha pelo inexperiente Fernando Lázaro e a absurda e conturbada contratação de Cuca (diante de todos os valores defendidos pelo clube) são alguns dos capítulos que nos levaram até a chegada de Vanderlei Luxemburgo. O que não mudou lá pelos lados de Itaquera foram as atuações muito abaixo da média nessa atual temporada. A eliminação precoce do Timão na Copa Libertadores da América e o empate sofrido contra o Cuiabá neste sábado (10) dentro de casa deixaram muita gente com medo do fracasso do “pojeto”. Só que os problemas do Corinthians vão muito além de Luxemburgo e da montagem do elenco para 2023.

Certo é que o “pofexô” não vem realizando um bom trabalho e os resultados mostram bem isso. Para este que escreve, no entanto, o Timão tem material humano para PELO MENOS brigar por vaga na Copa Sul-Americana. Isso, logicamente, se o contexto do clube fosse muito mais tranquilo do que é. Lembrem-se de que estamos falando de um clube que jogou o planejamento fora depois da saída de Vítor Pereira do clube e que o ano eleitoral deixou os bastidores pegando fogo. Tudo isso se reflete naquilo que eu e você vemos em campo. Um time que possui jogadores de talento, mas que sofre horrores com os problemas físicos e a falta de peças de reposição confiáveis.

Não é por acaso que Vanderlei Luxemburgo vem tentando de tudo nessas últimas partidas. Desde Paulinho organizando a saída de bola mais de trás, Róger Guedes atuando como “enganche” no seu 4-3-1-2 preferido e Renato Augusto mais próximo dos atacantes num esquema com três zagueiros. Além da má fase, as lesões dos jogadores mais talentosos e a necessidade de se usar os jovens da base num cenário de cobrança extrema por resultados positivos só prejudica ainda mais todo o trabalho feito na beira do gramado. E o empate contra o Cuiabá mostra bem as dificuldades que Luxemburgo vem encontrando para achar o time ideal, ou pelo menos a formação que consiga competir mais.

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Desta vez, a aposta foi por um 3-4-2-1 com Bruno Méndez jogando como “falso lateral” pela direita, Guilherme Biro e Adson se revezando por dentro e à direita, Matheus Bidu formando boa dupla com Pedro pela esquerda e Róger Guedes jogando como referência móvel na frente. Por mais que o Corinthians conseguisse manter a posse de bola e encontrar espaços às costas dos volantes do Cuiabá, o que se via era um time sem profundidade e que dependia demais da movimentação dos alas e dos pontas. Além disso, a falta de profundidade foi a grande responsável pela fragilidade ofensiva do Corinthians. E olha que o adversário deste sábado (10) concedeu espaços generosos entre suas linhas e atrás da defesa.

O Cuiabá concedeu espaços generosos para o Corinthians, mas a falta de profundidade prejudicou demais o desempenho do trio ofensivo. Foto: Reprodução / Premiere / GE

Luxemburgo ainda tentou dar mais ofensividade ao Corinthians com a entrada de Fagner no lugar de Bruno Méndez depois do intervalo. Ao invés dos três zagueiros, um 4-2-3-1 mias nítido com Guilherme Biro e Pedro abertos, Adson por dentro e Róger Guedes no comando de ataque. No entanto, o time acabou ficando ainda mais frágil na defesa e sofrendo com as investidas do Cuiabá pelo lado esquerdo de ataque. Não foi por acaso que o único gol do Dourado nasceu de belo cruzamento de Rikelme após bola roubada por Denilson ainda no meio-campo. Daí para a cabeçada de Deyverson, o torcedor se depararia com uma sucessão de erros defensivos de todos os tipos.

A começar pela falha no posicionamento de Fagner e na liberdade que o lateral Rikelme teve para ajeitar o corpo e fazer o cruzamento sem receber marcação. Ao mesmo tempo, Deyverson vai avançando e temporizando (isto é, controlando a velocidade na arrancada) até que o espaço apareça dentro da área. Difícil não perceber também que o Corinthians ainda peca demais na transição defensiva. Tivesse o Cuiabá apenas mais um pouco de capricho nas conclusões das jogadas e nas finalizações a gol, o time comandado por António Oliveira poderia ter criado ainda mais problemas para o Timão. Retrato de uma equipe ainda sem consistência.

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Fagner deixa o corredor aberto, Gil e Murillo vacilam e os volantes não recompõem. O gol do Cuiabá nasceu de uma sucessão de erros. Foto: Reprodução / Premiere / GE

Vanderlei Luxemburgo só percebeu o óbvio depois de ver sua equipe ser vazada dentro de casa. A entrada de Yuri Alberto (ainda que esteja em péssima fase) deu mais profundidade ao Corinthians e deixou o ataque mais contundente. Ruan Oliveira e Wesley deram a criatividade que ficou faltando no Timão após a saída de Renato Augusto (lesionado) ainda na primeira etapa. É verdade que o gol de empate saiu muito mais na base do “abafa” do que na jogada mais trabalhada. Mas foi possível notar o “dedo” de Vanderlei Luxemburgo com dois jogadores abertos (Wesley e Fagner), Matheus Bidu, Adson e Yuri Alberto por dentro e Ruan Oliveira atacando o espaço aberto na entrada da área adversária.

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Wesley recebe de Róger Guedes, o ataque arrasta a defesa do Cuiabá e Ruan Oliveira aparece no espaço vazio. A estratégia de Luxemburgo deu certo. Foto: Reprodução / Premiere / GE

Este que escreve ainda defende a tese de que o Corithians poderia estar numa situação melhor se o contexto geral fosse mais favorável. Difícil colocar toda a culpa da má fase da equipe no técnico Vanderlei Luxembugo, nas lesões ou na má forma física dos mais experientes. O que se vê é um “combo” de decisões ruins de quem comanda o clube nos bastidores. É verdade que os números do Timão o “pofexô” não são bons e que qualquer outro treinador já teria sido demitido se não fosse o contexto desfavorável já especificado aqui neste espaço. A questão aqui é que não existe outro profissional com “costas largas” o suficiente para aguentar a pressão e blidar o elenco que não seja Luxemburgo.

É difícil saber o que virá pela frente. A janela de transferências será fundamental para que o Corinthians recupere um pouco do tempo perdido com tantas decisões equivocadas ao longo desses últimos meses. Sobre Vanderlei Luxemburgo, a discussão sobre se ele é “ultrapassado” ou se é “solução” já não cabe mais nesse cenário. A questão mais importante é saber se o clube terá condições de se reerguer depois de um primeiro semestre marcado pelas confusões extracampo e pelas decisões ruins de uma diretoria que parece estar mais preocupada com a eleição no final do ano do que com o desempenho da equipe dentro de campo.

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