Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as atuações das equipes comandadas por Carlo Ancelotti e Jürgen Klopp
Uma das qualidades bastante presente nesse Real Madrid de Carlo Ancelotti, Benzema, Vinícius Júnior e companhia é a mentalidade forte. O time merengue pode não estar fazendo uma grande exibição ou até sofrendo com as investidas do seu adversário. Mas a facilidade que a equipe tem para encontrar soluções e retomar o controle das partidas é assombrosa. E às vezes em situações extremamente desfavoráveis. Isso foi bem percebido nesta terça-feira (21), na goleada por 5 a 2 sobre o Liverpool de Jürgen Klopp. O confronto (que começou bastante confuso e marcado pelas falhas de Courtois e Alisson) se transformou num verdadeiro passeio merengue dentro de Anfield Road.
E esse é o grande mérito do Real Madrid nesse jogo de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões da UEFA. Ainda que o Liverpool venha sim em baixa nessa temporada, o time de Jürgen Klopp merece respeito e impôs todo tipo de dificuldades ao Real Madrid desde o começo da partida. Linhas altas de marcação, a já conhecida sintonia entre Alexander-Arnold e Salah no lado direito, o posicionamento de Gakpo como uma espécie de “falso nove” e os constantes avanços de Robertson pelo lado esquerdo. Tudo isso complicava demais a vida do time de Carlo Ancelotti.
Os Reds abriram dois gols de vantagem antes dos 15 minutos de jogo com a letra de Darwin Núñez e a bobeira incrível de Courtois na frente de Salah. Mas já estava claro que Carlo Ancelotti já havia identificado o grande problema do Real Madrid. Tudo estava na marcação pelo lado esquerdo, onde Modric não tinha perna para cobrir os avanços de Alaba e Vinícius Júnior se posicionava um pouco mais à frente. A mudança de lado do camisa 10 com Valverde e uma maior compactação do escrete merengue seriam fundamentais para a mudança de panorama desse jogo.
A alteração tática deu ao Real Madrid a consistência necessária para conter o ímpeto ofensivo do Liverpool. Não foi por acaso que o time merengue cresceu na partida e passou a ocupar um pouco mais o campo de ataque. O 4-3-3 de Carlo Ancelotti foi eficiente para explorar os lados do campo, principalmente o direito, onde Vinícius Júnior se somava a Alaba (depois Nacho Fernández) e Benzema nas trocas de passe no espaço deixado por Alexander-Arnold. O golaço do melhor brasileiro em atividade na Europa (pelo menos na oipinião deste que escreve) nasceu do já amplamente estudado jogo associativo do time de Ancelotti e também da passividade dos Reds na marcação pelo lado direito.
A falha clamorosa de Alisson no lance do segundo gol do Real Madrid já deixava claro que o Liverpool havia perdido completamente a concentração. E o segundo tempo confirmou essa tese com as falhas nos gols de Éder Militão e Benzema. As falhas na cobertura e nas tomadas de decisão deixavam claro que Jürgen Klopp não tinha muito o que fazer além de fazer a redução de dano. Do outro lado, o Real Madrid era altamente organizado na defesa (chegando até a preencher a entrada da área com cinco jogadores) e muito intenso nos contra-ataques com as trocas de posição entre Vinicius Júnior e Benzema e os passes precisos de Modric. Os Reds não conseguiram resistir a tanto volume de jogo.
É interessante destacar que o Real Madrid não viu a goleada cair do céu no Anfield Road. Ele transformou um jogo que parecia completamente maluco no primeiro tempo num confronto em que ele dava as cartas dentro das quatro linhas. Ao mesmo tempo, a entrada de Nacho Fernández no lugar de Alaba (lesionado) deu mais consistência na marcação pelo lado esquerdo. Camavinga, que tinha que largar o meio da área para fazer a cobertura, passou a ficar mais plantado e conseguiu conter as boas investidas de Gakpo, Henderson e Darwin Núñez pelo seu setor. Com a marcação controlada, as coisas ficaram mais fáceis para Benzema, Rodrygo e Vinícius Júnior no ataque do escrete merengue.
Diante do que estamos vendo nessas últimas semanas, fica meio difícil apostar numa reação do Liverpool no jogo de volta no Santiago Bernabéu (marcado para o dia 15 de março). Ainda mais diante de mais um Real Madrid que nos brindou com mais uma demonstração clara de mentalidade forte e futebol bem jogador dentro de campo. E isso sem mencionar a liderança tranquila e firme de Carlo Ancelotti na beira do gramado. Poucas equipes conseguem transformar um cenário caótico num jogo tão controlado como vimos no Anfield Road.