Home Futebol Marrocos se agiganta diante de Portugal e coloca a África nas semifinais de uma Copa do Mundo pela primeira vez

Marrocos se agiganta diante de Portugal e coloca a África nas semifinais de uma Copa do Mundo pela primeira vez

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Walid Regragui travou o time de Fernando Santos e fez história no Catar

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Cinco partidas. Três vitórias e dois empates. Cinco gols marcados e apenas um gol sofrido. Triunfo inquestionável sobre a Bélgica na fase de grupos, classificação nas penalidades sobre a Espanha de Luís Enrique e vitória heroica sobre uma das melhores gerações de Portugal em todos os tempos. É impossível não se empolgar com a baita campanha que Marrocos está fazendo nessa Copa do Mundo, pessoal. O time comandado por Walid Regragui fez história ao se tornarem a primeira equipe do continente africano a se classificar para as semifinais de um Mundial. E tudo isso jogando um futebol de muita organização, consistência e muita intensidade em todas as transições.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

A partida deste sábado (10) no Al Thumama Stadium também provou que o Marrocos é muito mais do que uma equipe que “apenas” se defende. Há uma diferença grande entre jogar na retranca abdicando do ataque e jogar de maneira reativa e com organização para se impor nas transições ofensivas. Walid Regragui não teve o zagueiro Nayef Aguerd e o lateral Mazraoui (ambos lesionados) e apostou nas entradas de El Yamiq e Attiyat-Alah respectivamente. O 4-1-4-1/4-5-1 foi mantido com a já bem conhecidas compactação e pressão no portador da bola.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Tudo para travar o jogo de toque e velocidade de Portugal. Fernando Santos manteve Cristiano Ronaldo no banco e Gonçalo Ramos entre os titulares e fez apenas uma alteração no time que goleou a Suíça. William Carvalho foi sacado para a entrada de Rúben Neves. No mais, a “seleção das Quinas” manteve aquele seu conhecido 4-3-3 com Bernardo Silva junto a Otávio no meio-campo e João Félix (novamente um dos mais lúcidos do escrete lusitano) e Bruno Fernandes mais à frente. No entanto, as dificuldades para dar velocidade nas jogadas de ataque eram evidentes.

Walid Regragui manteve seu 4-1-4-1/4-5-1 no Marrocos com linhas bem fechadas na frente da área, Amrabat na proteção e En-Nesyri mais à frente. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

As melhores chances de Portugal saíram pelo lado esquerdo, onde Raphaël Guerreiro e João Félix conseguiam criar muito espaço. Mas ainda sem a intensidade necessária para bagunçar o organizado bloqueio defensivo de Marrocos. E conforme mencionado anteriormente, o time de Walid Regragui não é “apenas” um time que sabe se defender. Os “Leões do Atlas” sabem muito bem o que fazer com a posse da bola e o que precisa ser feito para levar a “gorduchinha” até o campo ofensivo. A jogada do único gol da partida (marcado por En-Nesyri aos 41 minutos do primeiro tempo) mostra muito bem a ocupação de espaços na frente da defesa adversária e a imposição física dos marroquinos.

Marrocos ocupou muito bem o esaço entrelinhas de Portugal. Attiyat-Alah teve liberdade para cruzar e colocar a bola na cabeça de En-Nesyri. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Apesar de Bruno Fernandes quase ter igualado o marcador no finalzinho do primeiro tempo, o que se via do lado de Portugal era uma equipe sem intensidade sem a bola e com claras dificuldades para acionar Gonçalo Ramos no comando de ataque. Essa postura mais passiva acabaria sendo fatal diante de uma adversário que fazia uma partida ainda melhor do que fez contra a Espanha. Principalmente na compactação das suas linhas e na pressão no portador da bola. Nesse sentido, Walid Regragui montou os “Leões do Atlas” para não deixar João Félix e companhia jogarem.

PUBLICIDADE

Fernando Santos não teve outra alternativa senão mandar Cristiano Ronaldo para o jogo no segundo tempo. Mas foi aí que Marrocos assumiu de vez a retranca e se fechou ainda mais. Sempre com Amrabat onipresente na proteção da última linha, Ounahi ligado na movimentação ofensiva de Portugal e Hakimi e Ziyech formando boa dupla pela direita. CR7 foi jogar quase como um centroavante adicional ao lado de Gonçalo Ramos, mas viu sua equipe errar demais na hora de concluir as jogadas. E nesse momento, o goleiro Bono começou a se destacar com grandes defesas.

PUBLICIDADE
Cristiano Ronaldo entrou em campo no segundo tempo e foi jogar como um centroavante adicional. Marrocos se fechou mais ainda na frente da área. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Com a lesão do ótimo zagueiro Saïss, Walid Regragui montou uma linha de cinco defensores e trouxe Marrocos ainda mais para trás com o claro objetivo de aproveitar o espaço às costas de Pepe e Rúben Dias. O goleiro Bono foi preciso em finalizações de Cristiano Ronaldo e João Félix. Antes de ser expulso, Cheddira ainda perdeu grande chance de “matar” o confronto na frente de Diogo Costa e nem chutou para o gol e nem passou para Ziyech. E Aboukhlal ainda desperdiçou oportunidade de ouro depois de chutão do campo de defesa e uma “cavadinha” mal feita. Mesmo assim, Marrocos mostrou muita valentia para suportar o bombardeio português no final de um jogo épico.

Walid Regragui assumiu de vez a retranca com a entrada do zagueiro Benoun e a formação de uma linha de cinco defensores. Marrocos foi valente. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

O mesmo Pepe que perdeu chance cristalina no apagar das luzes foi o mesmo que perdeu a razão com um “chororô” inexplicável ao final da partida deste sábado (10). Por mais que estivesse de cabeça quente (o que é natural nesses momentos), seria mais elegante reconhecer que o adversário se saiu melhor na partida e mereceu o resultado dentro do Al Thumama Stadium. É verdade também que, enquanto alguns jogadores chegam ao final de ciclo em Portugal, Marrocos conseguiu fazer história com um jogo coletivo altamente consistente, valentia e todo o espírito característico dos “Leões do Atlas”. E isso sem falar nos valores individuais. Hakimi, Amrabat, Ounahi e outros foram gigantes.

Mas talvez o grande nome dessa Copa do Mundo seja o técnico Walid Regragui. Mesmo tendo assumido a equipe há poucos meses, o comandante marroquino conseguiu implementar um padrão de jogo consistente e altamente eficaz. Mesmo se não chegar na final ou se perder as duas próximas partidas, ele já merece o posto de melhor treinador desse Mundial do Catar com sobras. Por colocar uma equipe africana numa semifinal de Copa, pela montagem de um elenco altamente competitivo e por todo o conjunto da obra.

Better Collective