Este que escreve havia dito no dia 21 de novembro aqui mesmo neste espaço que não era prudente tirar a França do grupo dos favoritos ao título da Copa do Mundo. Mesmo com o número enorme de desfalques, o elenco comandado por Didier Deschamps transbordava qualidade e experiência para assumir o protagonismo. “Les Bleus” comprovaram essa tese ao aplicarem sonoros 4 a 1 na não mais do que esforçada equipe da Austrália com direito a grandes atuações de Giroud (que se transformou no maior artilheiro da seleção francesa), Mbappé, Theo Hernández e (pasmem) Rabiot. No entanto, a vitória não viria antes de dois sustos bem grandes no começo do jogo desta terça-feira (22).
Aos oito minutos de partida no Al Janoub Stadium (aquele mesmo com formato de “você sabe o quê”), Leckie recebeu lançamento no lado direito e cruzou rasteiro para Goodwin abrir o placar a favor da Austrália. Além do gol sofrido, a França teve que lamentar também a lesão de Lucas Hernández no mesmo lance. Para quem conviveu e convive com o medo de cortes por razões médicas das mais variadas, perder seu lateral-esquerdo titular é realmente um golpe duro que demorou algum tempo para ser assimilado pelo escrete comandado por Didier Deschamps.
Lucas deu lugar a seu irmão Theo e a característica do time francês mudou um pouco. Ao invés de laterais mais armadores por dentro, “Les Bleus” ganharam um jogador de apoio forte pelo lado do campo. Mesmo assim, Griezmann, Mbappé e companhia demoraram para “engrenar” e entrar no jogo por conta da forte marcação da Austrália (que jogava num 4-5-1 preferido do técnico Graham Arnold) e também da falta de aproximação entre os jogadores. Estava nítido que o 4-2-3-1 de Deschamps precisava de mais mobilidade e mais presença no campo de ataque.
O tempo foi passando e a França foi se acertando aos poucos. Aos 26 minutos, o criticado Rabiot empatou a partida depois de cruzamento de Theo Hernández. Cinco minutos depois, o camisa 14 (que já se soltava mais no meio-campo francês) saltou para a pressão, roubou a bola de Atkinson, tabelou com Mbappé e deixou Giroud livre para marcar o gol da virada. A essa altura, o escrete de Didier Deschamps já ocupava melhor os espaços por conta da dinâmica colocada por Rabiot junto a Griezmann na criação das jogadas e pela boa partida de Dembélé no lado direito. E com a pressão encaixada e o time bem posicionado, o talento teve espaço para aparecer e resolver.
Com a vantagem no placar, a França encontrou a tranquilidade que não apareceu no início da partida. Com Rabiot mais próximo de Griezmann, Mbappé saindo da esquerda para dentro (e abrindo o corredor para as descidas de Theo Hernández), Pavard um pouco mais preso e Tchouaméni atento aos contra-ataques australianos, “Les Bleus” presentearam os torcedores presentes no Al Janoub Stadium com um ótimo jogo coletivo no segundo tempo. E vale destacar também a grande atuação de Giroud. Não somente pelos dois gols marcados e pela artilharia histórica da França, mas por mostrar que entende muito bem o que sua equipe precisa. Pode não ser brilhante, mas sempre foi muito útil.
Acabou que a saída de Lucas Hernández ainda no primeiro tempo foi a “solução” para a falta de mobilidade do time de Didier Deschamps no primeiro tempo. Com Theo Hernández em campo, a França ganhou mais um “atacante” pela esquerda e permitiu que Mbappé fosse jogar na faixa do campo onde se sente mais confortável (saindo do lado para dentro para pegar a última linha adversária desarrumada) e pudesse fazer a diferença com passes e arrancadas fulminantes. O camisa 10 francês deixou sua marca aos 22 minutos do segundo tempo e ainda colocou a bola na cabeça de Giroud três minutos depois para fechar a bela estreia da França na Copa do Mundo do Catar com chave de ouro.
Mas a goleada não esconde alguns dos problemas apresentados pelo time de Didier Deschamps. Por mais que “Le Bleus” tenham dominado inteiramente a partida após o gol de empate, ficou claro que a defesa ainda precisa de ajustes. As ausências por lesões e falta de condições de jogo deixaram o setor desequilibrado e sem a cobertura necessária para se ter um mínimo de segurança. Se a Austrália (que não é nenhuma maravilha e tem suas limitações) cricou problemas para a França, a situação pode ficar mais muito mais complicada contra adversários mais qualificados e que sabem explorar as costas da defesa. É algo que precisa da atenção de toda a comissão técnica.
Apesar do susto com o gol da Austrália e a lesão de Lucas Hernández logo no começo da partida desta terça-feira (22), a França mostrou sua força e provou que esta sim na briga pela Copa do Mundo. Mesmo com todos os desfalques e o “inferno astral” que tomou conta do elenco. E a grande verdade é que Deschamps ainda tem talento de sobra à sua disposição no banco de reservas. E isso faz toda a diferença.