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Entrevista com Carlos Antunes, líder de Esports da Riot Games no Brasil

Em conversa exclusiva, Caco Antunes conta um pouco de sua história e fala sobre a inclusão feminina nos torneios da Riot Games; confira

Mateus Pereira
Colaborador do Torcedores.com desde 2022, nasci no estado do Rio de Janeiro e alinho minha maior paixão à minha vocação através da produção de conteúdo sobre esportes. Entre as minhas áreas de maior domínio e experiência profissional estão o futebol, o automobilismo e o universo geek. Certificado como Jornalista Digital e Social Media pela Academia do Jornalista, contribui no passado como Colunista, Editor-chefe e Líder da editoria de Esportes nos portais R7 Lorena e iG In Magazine.

Nesta quinta-feira (10), a equipe do Torcedores.com e Op.Ninja teve acesso ao escritório da Riot Games Brasil, em São Paulo, desenvolvedora de tpitulos gigantes para o cenário competitivo atual, como League of Legends e Valorant.

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Durante a manhã, conversamos de forma exclusiva com Carlos Antunes, também conhecido como Caco Antunes (@cacoantunes, no Twitter e Instagram), líder de Esports da Riot Games no Brasil. Você pode conferir como foi esse papo mais do que especial abaixo:

Davi França (Op.Ninja): Pra gente poder começar, conta um pouquinho da sua história. Como você chegou até aqui nesta área de Esports da Riot Games?

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Caco Antunes: Bom, obrigado pela pelo papo e por essa oportunidade muito legal de conversar com vocês. Cara, eu entrei na Riot há 7 anos em uma área que não era a de Esports e sim o que a gente chama de publishing, que é a área de conteúdo e marketing dos jogos. Eu vim de publicidade, trabalhava em uma agência, então precisavam de pessoas com essa experiência de criação de conteúdo, entendendo tudo o que envolve um jogo e transformar isto em uma forma de comunicação para a comunidade entender.
Sempre fui apaixonado por games, sempre sofria como jogador quando era disponibilizado algo novo no jogo e eu nem sabia de onde tinha vindo e tinha de me virar sozinho […] então entrei na empresa para essa função. Só que eu entrei dois meses antes da final do CBLoL de 2016 e me encantei. Ali foi quando já tracei um plano e decidi “eu vou mudar para Esports, cara, eu vou gostar desse negócio”. Eu ainda era pereba toda a vida em LoL, mas gostava da energia dos times, da galera e das discussões que tinham.
Continuo não jogando tão bem assim, mas acho que hoje já consigo acompanhar muito bem qualquer cenário, porque é isso que eu acho muito legal do Esports, você saber apreciar a boa jogada, entender a estratégia e a energia da galera.
Então, uns 4 ou 5 meses depois, eu comecei um processo aqui dentro para ver se tinha alguma posição para eu começar a trabalhar com isso, virei o líder de Esports na Riot e estou nessa função há mais ou menos 6 anos […]
Um pouco do meu papel no time acaba sendo muito ligado também a essa parte de marketing, além de ajudar também a equipe em tudo que precisam, né? Porque naquele tempo a gente só tinha o CBLoL e o Circuito Desafiante, ao longo do tempo veio o Valorant com ligas internacional e local, veio TFT e a gente vai se preparando e crescendo.

Davi França (Op.Ninja): Falando um pouco do cenário inclusivo feminino, tanto do League of Legends quanto do Valorant: como você vê essa expansão e como está sendo esse processo de estruturação?

Caco Antunes: A gente trabalhar para tornar o cenário verdadeiramente inclusivo era uma dívida super histórica que a gente tinha no cenário profissional do League of Legends. Nós nunca tivemos um programa específico para receber jogadoras interessadas em seguir esta carreira. Então, quanto mais se passava o tempo, maior ficava essa sensação das jogadoras de não ter um espaço dedicado a elas dentro do League of Legends.
Quando a gente lançou o Valorant globalmente, a gente viu a oportunidade de, desde o começo, criar uma cena que contemplava todo mundo que deveria ter acesso à ela. E aí, globalmente na Riot, começou uma discussão sobre a gente criar esse programa do Game Changers e avaliar quais seriam as coisas que precisaríamos fazer no cenário de Valorant desde o começo para garantir que esse acesso seria dado do jeito certo e junto com todo o Esports.
No momento que surgiu essa ideia, o nosso time aqui do Brasil falou “cara, a gente quer testar um monte de coisa, queremos fazer isso” […] nós fomos uma das regiões pioneiras no mundo com o Game Changers do Valorant durante o ano passado. A nossa ideia de como agir no cenário estava fortemente baseada em três frentes de atuação. Então, dependendo do jogo e do cenário, a gente muda o que a gente faz, mas a ideia é a mesma.
[…]
A gente tem até hoje uma frente de investimento em torneios amadores dedicados às mulheres, isso tem que acontecer para incentiva-las a partirem para o competitivo e tem que ser frequente. A gente tem no Valorant e estamos expandindo para os outros jogos também um projeto onde organizadores de torneio apresentam para nós os seus projetos e a gente vai lotando nosso calendário, apoiando financeiramente esses parceiros […] Esse tipo de acesso os homens têm em vários torneios independentes e era muito escasso para as mulheres, então a gente quer incentivar que o mercado tenha mais torneios femininos e a gente bota uma grana nisso aí.
O segundo ponto que a gente queria por em prática já é aquela fase de transição entre o semiprofissional e o profissional, onde haverá jogadoras que vão se destacar e times que vão investir nelas, preparando elas mais rápido com estrutura, formação, estafe e tudo mais. Então a gente criou o que chamamos de Game Change Series, que a Team Liquid gabaritou neste ano, onde a gente já tem uma série que possui um circuito qualificatório, realizada aqui no estúdio, sendo uma experiência profissional completa para essas jogadoras […]
E o terceiro ponto que a gente quer trabalhar é contar histórias e dar visibilidade às mulheres que já estão fazendo e vão cada vez mais fazer esse canário. Aí tem vários caminhos que a gente explora, desde fazer conteúdo, onde a gente tem um podcast envolvendo as grandes atletas de Valorant, e no caso do League of Legends a gente está trabalhando também com outros projetos, como o ReveLAH Casters, onde damos incentivo de informação e visibilidade para quem são as novas vozes, casters, narradoras e streamers do cenário. Ou seja, a gente quer que mais mulheres conheçam histórias de outras mulheres que estão nesse caminho […]
É muito importante que todos vejam que a gente veio para o longo prazo. Todo mundo tem que entender que a gente vai comprar e apoiar essa ideia, então não é só montar a estrutura de torneios, mas também contar essas histórias para que cada vez fique mais normal. Esta é a nossa estratégia de atuação […]
Também é muito importante pra gente mostrar essa questão do valor que o Esports tem. É um mercado, então a gente também quer mostrar para essas mulheres que existe receita e pagamento pelo envolvimento delas com o Esports.
Então, a gente trabalhou com o pessoal da Inhouse para criar um servidor só para jogadoras, trabalhamos com alguns torneios que já estavam mais presentes no mercado para que eles tivessem mais edições […] e todos os projetos que a gente fez esse ano estamos estudando como aumentar o impacto e continuar no próximo ano porque tudo deu certo […]
Outra coisa que a gente fez esse ano foi aumentar a quantidade de vozes femininas, metade de nossos casters já são mulheres. E no LoL a gente também encontrou uma necessidade das mulheres que jogam poderem olhar em volta e verem outras mulheres como casters, criadoras de conteúdo, técnicas, e tudo mais. Então, a gente começou a trabalhar em cima disto […]
E chegando no fim de tudo isso, a gente consolida nosso projeto com a Ignis Cup, essa copa dos melhores times femininos de League of Legends, que é um projeto que tem mulheres em todos os pontos da produção.

Davi França (Op.Ninja): A Ignis Cup também é algo que eu quero perguntar sobre, visto que no League of Legends há uma barreira maior para a entrada das mulheres, pelo fato delas só terem recebido suporte e apoio agora, após precisarem por tanto tempo. Como está funcionando essa parte de estruturação deste projeto que vocês tem feito, como nesse primeiro torneio feminino oficial de LoL organizado pela Riot Games?

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Caco Antunes: Bom, a nossa ideia para o futuro é continuar com todas as ações que a gente tem feito, porque a gente entende que ainda chegarão muitas novas jogadoras interessadas em começar e o Inhouse Jinx vai recebê-las. A gente tem novas criadoras de conteúdo interessadas em ser casters e nossos programas vão ajudar a formá-las. Então, a gente entende que esse movimento que fizemos agora é de longo prazo e temos muitas jogadoras na comunidade interessadas em participar. Vamos continuar trabalhando a base por muito tempo, pois entendemos que mais jogadoras profissionais entrem no cenário, ainda que só pelo Ignis, que precisamos fazer crescer. 00Então ele vai fazer mais torneios, vai aumentar a frequência da Copa Ignis por ano, dando mais interações e oportunidades, como tem sido no Valorant […] a gente vai continuar abrindo mais janelas para para mostrar o quão longe isso pode chegar.
A gente trabalha muito com as organizações para convencê-las e mostrar o valor de criarem uma line feminina, então isso também ajuda muito, porque a gente gera do lado dos times a vontade de investir nas jogadoras, então isso é uma coisa que fizemos esse ano e vamos continuar trabalhando muito forte no próximo, mas nunca iremos abandonar os projetos de base, como ter o servidor Inhouse Jinx para quem quer começar a jogar.
Agora também estamos muito focados na questão de caster e streamers, com relação a programas de desenvolvimento de talentos e para o ano que vem a gente pode gerar mais outras oportunidades dentro da indústria do Esports […]

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Davi França (Op.Ninja): Hoje você acredita que o cenário feminino de League of Legends pode chegar a ter um Campeonato Mundial para elas?

Caco Antunes: Olha, eu Acredito que sim, a gente a questão de trabalhar muito bem e desenvolver a cena local para que depois a gente faça uma cena Internacional. Eu Acredito que em nada difere do que a gente fez com o Valorant antes. A nossa ideia sempre vai ser acelerar esse desenvolvimento das jogadoras e conectar isso com as cenas principais. Então, criar mais contatos internacionais entre entre os times, sejam masculinos ou femininos, ajuda no crescimento da performance, na melhoria e até nos investimentos dos times. Então isso, junto do plano de crescimento como um todo, está no nosso radar, mas o “end game” que a gente realmente imagina está em conectarmos as cenas. […]
Estar envolvido em um palco internacional sempre é uma oportunidade de negócio muito interessante, mas onde a gente acredita que vai ter o grande impacto no cenário é a gente criar mais pontes como Elite Cup, que temos no Valorant, onde as jogadoras elas tenham acesso ao Academy e a liga principal. Então, a gente vai trabalhar nas duas frentes.

Davi França (Op.Ninja): Mudando um pouco de assunto, vamos falar sobre o Champions, o qual as meninas da Team Liquid já estão em Berlim para representar nosso país. A Riot Games Brasil está fazendo parte dessa importante estrutura de inclusão feminina no cenário nacional, então como está sendo dado esse suporte para esse primeiro e extremamente essencial Mundial feminino que a gente tanto fala? Vocês participaram diretamente da estrutura do Champions?

Caco Antunes: Olha, aqui na Riot quando a gente faz um evento Internacional, e isso vale para todos, a gente tem um time global que organiza e coordena o torneio e o time da região, aonde o evento está acontecendo, que dá muito suporte na operação dele. Então, a região anfitriã opera bastante e todas as regiões dos países que estão mandando seus times trabalham juntas na produção e na cobertura do evento.
Por exemplo, a gente vai dividir um trabalho com o pessoal da Alemanha na produção do sinal, fazemos conteúdo com a Liquid para que os times lá de fora possam localizar no seu idioma e apresentar, assim todo mundo trabalha para que o torneio inteiro tenha a máxima visibilidade global […]

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Davi França (Op.Ninja): Pra gente poder finalizar, sobre planos para o futuro, hoje você acredita que possa rolar um Valorant Champions Tour do cenário feminino?

Caco Antunes: Olha, a gente já está desenhando sobre isso e como que a gente vai trabalhar. Mas um dos pontos que pegamos um feedback muito positivo dos próprios times é essa lógica da gente integrar o cenário a partir de um determinado ponto, ou seja, as equipes que são líderes do Game Changers a gente já começar a aproximá-las do VCT é o caminho, porque acelera muito o próximo pulo de crescimento da jogadora.
Então, o Game Changers Series irá continuar, mas a gente entende que não se trata só da Liquid, tem outras equipes também que constantemente estão jogando muito bem e chegando nas finais, mas essas equipes precisam de mais disposição aos times locais de tier alto para continuarem evoluindo. O que a gente não quer é que o cenário feminino se acomode em um estado menor por não tem mais desafios. Vamos continuar com uma série feminina do Game Changers, mas a nossa ideia está mais no caminho de criar conexões entre o Game Changers e o VCT Brasil, a liga doméstica. Acho que o caminho do crescimento do Game Changers é esse palco global onde os melhores talentos se encontram.
Podemos pensar em fazer isso mais ou menos vezes, mas o caminho realmente forte da inclusão no cenário é a gente conectar o Game Changers ao VCT Brasil. Então, a nossa ideia é criar essa estrutura onde um time feminino se desenvolve, chega na liderança do Game Changers, consegue ir para o VCT, vence e consegue ir para a franquia.

Por fim, confira também as nossas entrevistas com as meninas da paiN e da Raizen, finalistas da primeira Ignis Cup.

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