É possível dizer que a Seleção Feminina aproveitou essa Data FIFA da melhor maneira possível. A goleada sobre a Noruega na última sexta-feira (7) e a vitória sobre a Itália nesta segunda (10) evidenciaram o amadurecimento do time de Pia Sundhage como um todo e nos mostraram que temos sim um processo em andamento no escrete canarinho. Ainda que a equipe apresente alguns problemas em alguns pontos (como as tomadas de decisão e os erros no último passe), foi bom ver o Brasil buscando soluções para os problemas que a Squadra Azzurra apresentou na partida desta segunda-feira (10). Ao mesmo tempo, Pia encontrou mais respostas para as perguntas que vinha se fazendo.
A única mudança feita na Seleção Feminina com relação ao time que enfrentou a Noruega foi a entrada de Kerolin no lugar de Ludmila. No mais, o Brasil entrou em campo no mesmo 4-4-2/4-2-4 de muita movimentação e fluidez pelos lados do campo. No entanto, ao invés dos espaços generosos que teve na última sexta (7), o escrete comandado por Pia Sundhage se deparou com a marcação forte da Itália na saída de bola e pelos lados do campo. Difícil não notar que a Squadra Azzurra exigia muito mais atenção do Brasil em termos defensivos.
As dificuldades para sair jogando com a bola pelo chão puderam ser notadas quando as jogadoras começaram a rifar a bola buscando Geyse, Bia Zaneratto, Adriana e Kerolin. Ao mesmo tempo, Duda Sampaio e Ary Borges estiveram muito bem vigiadas e sentiram um pouco o cansaço da viagem e a forte marcação no meio-campo. A solução encontrada por Pia Sundhage foi deixar a bola com a Itália e recuar as linhas do 4-4-2/4-2-4 brasileiro até o meio-campo (num bloco médio para baixo). Tudo para explorar a velocidade das nossas jogadoras nas transições.
O primeiro tempo foi sim mais truncado e mais lento do que vimos na goleada sobre a Noruega. Isso porque a Itália jogava de maneira muito inteligente ao tirar a velocidade da Seleção Feminina e explorar as costas de Antônia e Tamires (principalmente a capitã brasileira e aniversariante do dia) com bolas longas assim que a posse era retomada. As coisas só melhoraram no segundo tempo, quando Pia Sundhage percebeu que sua equipe precisava de velocidade e sacou Bia Zaneratto para a entrada de Ludmila. Com mais velocidade e força, o Brasil manteve o plano e marcou o único gol da partida em lançamento de cinema de Antônia para Adriana no primeiro minutos da segunda etapa.
É interessante notar que esse jogo foi o tipo de teste que realmente tirou algumas jogadoras da zona de conforto. Ao invés da falta de combatividade dos jogos da Copa América (com a exceção dos confrontos contra Paraguai e Colômbia) e dos amistosos contra a África do Sul (onde o time de Pia Sundhage mostrou um certo nervosismo antes de aproveitar todas as falhas no posicionamento das suas adversárias), a Itália marcou em cima e tentou explorar os pontos fracos da Seleção Feminina a todo instante. Não é difícil concluir que esse será o cenário que o Brasil deve encontrar pela frente na Copa do Mundo de 2023. Talvez situações ainda mais complicadas dependendo do adversário.
Após o gol de Adriana, a Seleção Feminina ainda encaixou bons contra-ataques puxados por Adriana, Ludmila e Tamires, mas novamente pecou nas tomadas de decisão e nas finalizações. A única critica deste que escreve com relação às ideias de Pia Sundhage no jogo desta segunda-feira (10) tem relação com a formação escolhida no segundo tempo. Duda Francelino tem talento, mas é nítido que ela tem certas dificuldades para jogar como volante. O Brasil só “recuperou o meio” quando a treinadora sueca promoveu as entradas de Yaya e Ana Vitória. O time se fechou bem num 4-4-2 mais ortodoxo e conseguiu conter o ímpeto ofensivo da Itália com um posicionamento quase perfeito na defesa.
Pia está mais do que correta quando falou sobre a necessidade de se enfrentar escolas diferentes e de se adaptar aos mais variados cenários dentro de campo. Essa talvez será a maior exigência que a Seleção Feminina terá pela frente durante a Copa do Mundo de 2023. Isso talvez explique os motivos pelos quais a treinadora sueca vem depositando suas fichas numa base que tem Ary Borges, Duda Sampaio, Antônia, Tamires e Adriana (sem mencionar, é claro, as lesionadas Rafaelle e Debinha). São elas quem mais se adaptaram ao esquema tático e melhor executaram o plano de jogo da treinadora sueca. É nítido que há um processo em curso na Seleção Feminina. E ele está dando resultados.
Essa Data FIFA foi importante para Lelê (que parece ter retomado a confiança), Tainara, Geyse (que mostrou versatilidade jogando pela ponta) e Ludmila. Há opções boas para se pensar a equipes. E essa talvez seja a grande notícia desses jogos contra Noruega e Itália. A recuperação de jogadoras importantes e a assimilação dos conceitos trabalhados por Pia Sundhage é o caminho para que a subida de patamar definitiva da Seleção Feminina aconteça de uma vez.