Luiz Ferreira analisa a lista de convocados por Tite para os amistosos contra Gana e Tunísia na coluna PAPO TÁTICO
Toda e qualquer convocação de Seleção Brasileira sempre vai gerar controvérsias, polêmicas e protestos contra a presença ou ausência de um nome ou outro. Sempre foi e sempre será assim não importa quem seja o treinador. Agora, a lista divulgada por Tite na última sexta-feira (9) deixou um recado bem claro para jogadores, imprensa e torcedores: ainda há vagas para a Copa do Mundo do Catar. Pelo menos para este que escreve, o grupo que vai tentar o hexacampeonato mundial no final do ano não está fechado apesar de alguns nomes já terem praticamente garantido seu lugar na Seleção Brasileira. As novidades da lista de convocados falam por si só.
Podemos dizer que pelo menos 90% do grupo já está praticamente fechado. Por outro lado, não é novidade pra ninguém que Tite ainda tem dúvidas no sistema defensivo (o quarto zagueiro da lista e o reserva de Danilo na lateral-direita) e no ataque do Brasil. A vaga na zaga seria de Lucas Veríssimo se este não tivesse sofrido lesão séria justamente na sua melhor fase pelo Benfica. E a lateral-direita segue disputada por Emerson Royal (do Tottenham) e pelo experiente Daniel Alves (atualmente no Pumas, do México).
Marquinhos, Thiago Silva e Éder Militão só não irão para a Copa do Mundo em caso de lesão ou qualquer outro problema mais sério. No ataque, a tendência é que Matheus Cunha, Roberto Firmino e Pedro disputem a última vaga no ataque da Seleção Brasileira (isso considerando que Gabriel Jesus tenha vaga cativa no grupo que irá ao Catar). Aliás, diante do que se viu nos últimos meses e sabendo que Tite não tem um jogador com as suas características, a convocação do camisa 21 do Flamengo era mais do que esperada.
Certo é que Tite optou por levar apenas três laterais, cinco zagueiros e nove atacantes para os amistosos contra Gana e Tunísia (marcados para os dias 23 e 27 de setembro). Danilo é o único lateral-direito de ofício convocado e Bremer (da Juventus) e Ibañez (da Roma) foram chamados para serem observados. A qualidade destes dois é bem conhecida de todos. O problema é que muita gente começou a cogitar um “improviso” de um dos zagueiros na função de lateral pela direita. Difícil imaginar Bremer ou Ibañez jogando no setor. Ainda mais sabendo como os dois jogam e onde se sentem mais confortáveis. Não deixam de ser ótimas opções, é claro.
É bem possível que as duas novidades da lista de convocados atuem nas suas posições de origem. Dito isto, o “reserva” de Danilo nas partidas contra Gana e Túnisa tem grandes chances de ser Éder Militão. O zagueiro do Real Madrid já mostrou capacidade para jogar com a bola no pé e tem a qualidade necessária para ser o “lateral-construtor” que Tite busca. Também não é absurdo nenhum pensar em Fabinho jogando como lateral visto que no volante do Liverpool sabe jogar no setor e possui mais qualidade no passe e visão de jogo.
E também temos o retorno de Everton Ribeiro à Seleção Brasileira. Tite sempre deixou claro que é fã do futebol jogado pelo camisa 7 do Flamengo e não é difícil imaginá-lo como mais uma ótima opção para desafogar a criação das jogadas. Ainda mais diante da sua evolução com Dorival Júnior e seu posicionamento um pouco mais recuado por dentro. Ele se encaixa na mesma situação de Roberto Firmino e Matheus Cunha. A sensação que fica é a de uma “última chance” antes da convocação final para a Copa do Mundo.
Dito isto, é muito difícil imaginar que Tite pense em mudanças drásticas no jeito de jogar e/ou em nomes para a Copa do Mundo. A lista (mesmo sem Philippe Coutinho e Gabriel Jesus, seus dois jogadores de confiança) faz sentido quando se analisa esse contexto. A Seleção Brasileira deve entrar em campo com uma formação bastante semelhante àquela utilizada na goleada sobre a Coreia do Sul no mês de junho. Um 4-4-2/4-2-4 que trazia Neymar se revezando com Richarlison no comando de ataque, Lucas Paquetá e Raphinha abertos, Alex Sandro avançando muito pelo lado esquerdo e o veterano Dani Alves como “lateral-construtor” pela direita.
A única certeza deste que escreve é que nunca teremos unanimidade quando o assunto é Seleção Brasileira. Primeiro pelos mais de 200 milhões de treinadores que existem no país e pelas bravatas que boa parte da imprensa esportiva solta nos programas de rádio e TV. Pouco se busca entender o contexto de cada escolha feita por Tite, sua linha de trabalho e seus conceitos. A tônica é ganhar engajamento nas redes sociais através da proliferação do caos e da confusão. Na verdade, pouco se fala sobre futebol, sobre o jogo. E não é só com o técnico da Seleção Brasileira, mas com todos os treinadores de todos os clubes brasileiros.
E o recado de Tite está dado: ainda há vagas para a Copa do Mundo. E isso fica bem claro quando se observa as opções do comandante do escrete canarinho para os amistosos contra Gana e Tunísia. As novidades na lista mostram que esse cenário ainda pode mudar até a convocação final. E não é difícil concluir que alguns nomes ali estão tendo suas últimas chances nesse ciclo que deve terminar com a conquista da Copa do Mundo se assim os deuses do velho e rude esporte bretão quiserem.