É possível dizer que Renato Gaúcho e Grêmio foram feitos um para o outro. Por mais que estejam separados em algum momento, o retorno daquele que é o maior ídolo da história do Tricolor Gaúcho sempre é especulado pela imprensa e pela torcida. Quase um ano e meio depois de sua demissão (após a queda para o Independiente del Valle na pré-Libertadores de 2021), “Reinight” está de volta ao clube onde se sagrou campeão da Libertadores como jogador (em 1983) e técnico (2017). Não é difícil concluir que a diretoria gremista optou pela saída mais segura e também a mais óbvia diante da sequência ruim de resultados na Série B e do desgaste com Roger Machado.
Enquanto estiver desempregado, Renato Gaúcho sempre será uma sombra para qualquer treinador que esteja no comando do Grêmio. O status de ídolo dentro dos gramados acaboui invadindo o banco de reservas com as conquistas da Libertadores, da Recopa Sul-Americana e da série invicta sobre o Internacional. Além disso, o jeito mais fanfarrão e (quase) irresponsável de Renato Gaúcho sempre fez a alegria dos torcedores gremistas de 2017 a 2021, período em que esteve no clube e em que chegou até a ser especulado na Seleção Brasileira.
Por outro lado, não é preciso ser nenhum gênio para concluir que o contexto atual é completamente diferente. Do time campeão da Libertadores em 2017, apenas Edílson, Kannemann e Pedro Geromel permanecem no clube. Fora isso, o até então impensável rebaixamento para a Série B em 2021 atingiu a confiança do elenco como um soco no queixo. Por mais que Renato Gaúcho seja sim um ótimo gestor e encontre soluções rápidas em contextos desfavoráveis, o desafio que ele terá pela frente será sim um dos maiores da sua carreira.
Mas qual é o Grêmio que “Reinight” vai reencontrar? O time que venceu o Vila Nova por 2 a 1 na última sexta-feira (2) mostrou sim poder de reação e bom futebol no primeiro tempo da partida disputada em Porto Alegre. O interino César Lopes (que revelou conversas com o próprio Renato Gaúcho para acertar o time) apostou num 4-2-3-1 que se desdobrava para um 4-1-4-1 com a movimentação de Bitello para junto de Campaz. Com Guilherme e Gabriel Teixeira bastante ligados e buscando sempre o espaço aberto por Diego Souza na frente, o Tricolor Gaúcho conseguiu construir o resultado que o levou para a terceira posição na tabela da Série B e que acalmou um pouco os ânimos.
Renato Gaúcho deve encontrar um Grêmio mais tranquilo e aberto para entender e assimilar seus conceitos de jogo. O status de maior ídolo da história do clube deve fazer com que a diretoria mais uma vez entregue a chave do vestiário para que o treinador possa fazer aquilo que sabe e fez com muito brilhantismo em anos passados. Renato vai encontrar nomes experientes (Kannemann, Geromel, Edílson, Lucas Leiva, Diego Souza, Elkeson e vários outros) e também jovens (Brenno, Campaz, Gabriel Teixeira, Bitello, dentre outros) que já mostraram capacidade de decidir jogos importantes e de “carregar o piano” quando necessário. Há sim como fazer esse time jogar mais e melhor.
Mas qual será o Renato Gaúcho que o Grêmio vai reencontrar? Difícil não se lembrar da passagem conturbada pelo Flamengo e que foi prejudicada pelas declarações polêmicas do treinador sobre o “time de 200 milhões de reais” após os 5 a 0 aplicados na Libertadores de 2019. O desejo de todos no Tricolor Gaúcho, obviamente, é que o treinador recupere o futebol vistoso da conquista da Libertadores de 2017. O 4-2-3-1 tinha força pela direita com Ramiro e mais fluidez pela esquerda com Fernandinho, Arthur e Luan se aproximando de Lucas Barrios. A questão é que o contexto mudou completamente. Assim como quem decidiu o título naquele ano. Muita coisa acontece em cinco anos.
Lembranças afetivas e doses cavalares de saudosismo fazem parte do futebol. A tentativa de se repetir fórmulas que deram certo sem se observar o contexto é algo frequente e costuma causar danos ainda mais fortes do que os que já existem. E é exatamente por isso que o retorno de Renato Gaúcho não garante nada além de alguns dias de paz para o elenco e para a diretoria do Grêmio. Mesmo sabendo que esta última optou pela escolha mais segura e (também mais óbvia) diante dos protestos da torcida e dos resultados ruins na Série B. Ao mesmo tempo, o status de maior ídolo do clube será sim usado como escudo. Foi assim em 2017 e também deve ser assim nesse resto de 2022.
Mas Renato Gaúcho sabe bem onde está pisando e o que deve fazer para recuperar a confiança dos jogadores que terá à disposição. Por outro lado, ele retorna ao Grêmio bastante desgastado por conta das próprias bravatas num passado nem tão distante assim. Se entender que “a língua é o chicote da alma” e mostrar sabedoria, “Renight” pode se dar bem e recuperar o prestígio.