A eliminação do Corinthians da Copa Libertadores da América não deixava de ser um resultado até certo ponto esperado diante da atuação da equipe no jogo de ida em São Paulo e pela qualidade individual e coletiva do Flamengo de Dorival Júnior. Dito isto, é plenamente possível afirmar que o time se comportou bem dentro do contexto da partida desta terça-feira (9) e ainda indicou para Vítor Pereira os caminhos para se reerguer nessa temporada. Cenário bem diferente do discurso de “terra arrasada” que alguns colegas de imprensa insistem em defender nas redes sociais e nas principais mesas de debate no rádio e na televisão.
Isso porque o Corinthians entendeu o que seria preciso fazer para superar um Flamengo insinuante, intenso e altamente letal com a posse da bola. Não foi por acaso que Vítor Pereira apostou no seu 4-1-4-1 costumeiro com Roni à frente da zaga, Fausto Vera e Du Queiroz saltando para a pressão e na postura mais cautelosa de Fagner e Fábio Santos no apoio ao ataque. Tudo para tirar o espaço de circulação de Everton Ribeiro e Arrascaeta no 4-3-1-2/4-3-3 de Dorival Júnior. A marcação agressiva na saída de bola do Fla quase deu certo logo no começo da partida, em chute de Adson muito bem defendido por Santos.
O jogo de ida na Neo Química Arena deixou lições importantes para Vítor Pereira. A principal delas tinha relação direta com a postura da equipe do Corinthians. Por mais que o Flamengo tenha seus (muitos) méritos na construção do resultado em São Paulo, a impressão que ficou foi a de que o Timão teve pouca competitividade no jogo de ida. Não foi por acaso que os planos do treinador português giravam em torno dessa marcação agressiva e pela forte pressão no portador da bola. Sem ela, linhas fechadas na frente da área e muita atenção na movimentação ofensiva do time do Flamengo. A ordem era vigiar Gabigol e Arrascaeta de perto.
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O plano de Vítor Pereira era simples: usar Du Queiroz e Fausto Vera para encurtar o espaço na saída de bola do Fla (e assim fechar as linhas de passe construídas por David Luiz e Léo Pereira), manter Willian às costas de Rodinei e posicionar Adson de modo a forçar o erro de Filipe Luís na saída de bola. Esses encaixes na marcação foram importantes para que o Corinthians pudesse equilibrar as ações num primeiro tempo que deixou os torcedores com a esperança de que o “milagre” pudesse acontecer de verdade no Maracanã. Mas ainda faltava a efetividade nas finalizações que o Timão não teve nessa Copa Libertadores da América.
É preciso deixar claro que, embora a partida desta terça-feira (9) tenha indicado caminhos interessantes para Vítor Pereira, ela também escancarou alguns problemas crônicos da equipe. E todos eles têm relação direta com o setor ofensivo do escrete corintiano. Yuri Alberto ainda está bem longe de ser o goleador que a torcida tanto espera, mas ainda é cedo demais para se fazer análises mais profundas. Adson e Du Queiroz sentiram um pouco o peso da partida. E Willian esteve isolado demais na construção das jogadas de ataque. Mesmo assim, o Corinthians fazia bom jogo diante de todas as circunstâncias e do cenário desfavorável.
A postura agressiva do time se manteve na segunda etapa com a entrada de Renato Augusto no lugar de Fausto Vera (outro reforço que ainda busca adaptação no novo clube). O Corinthians avançou ainda mais a marcação e tentou empurrar o Flamengo para trás ao explorar um pouco mais as subidas de Fagner e Fábio Santos ao ataque. Willian se posicionava mais como meia-atacante do que como ponta e Adson se juntava a Yuri Alberto mais à frente. Apesar do ímpeto ofensivo, o Corinthians só conseguia levar perigo à meta rubro-negra na base das finalizações de longa distância. Faltava mais velocidade nas trocas de passe na frente da área.
Acabou que o Flamengo carimbou o passaporte rumo às semifinais da Libertadores com a trivela de Arrascaeta e o carrinho de Pedro em belo contra-ataque puxado às costas de Fagner. A grande verdade é que o cenário da eliminação já estava desenhado desde o jogo de ida na semana passada. Por outro lado, o Corinthians conseguiu competir contra um adversário mais qualificado e mais inteiro fisicamente além do esperado por muitos. Raul Gustavo e Fábio Santos sofreram um pouco com Rodinei e Everton Ribeiro, mas não comprometeram. E Cássio salvou o Timão com grandes defesas depois do cartão vermelho (justo) dado para Bruno Méndez.
Mesmo assim, está claro para este que escreve que o discurso de “terra arrasada” está bem longe da realidade. Mas isso não quer dizer que o time não precise realizar ajustes. Principalmente no ataque. Há como se dar mais consistência ao setor mesmo com Yuri Alberto longe da sua melhor forma. Mas para que isso aconteça, Vítor Pereira precisa apostar no talento. Por mais que isso signifique abrir mão de alguns dos seus conceitos.