Home Futebol Copa do Mundo de 82: Há 40 anos, Paolo Rossi silenciava o Brasil de Telê Santana na derrota para a Itália

Copa do Mundo de 82: Há 40 anos, Paolo Rossi silenciava o Brasil de Telê Santana na derrota para a Itália

Em 5 de julho de 1982, acontecia um dos jogos mais marcantes de todos os tempos no estádio Sarriá, pela Copa do Mundo

Marco Maciel
Marco Maciel é jornalista que atua cobrindo futebol brasileiro, com ênfase para o futebol gaúcho com Internacional e Grêmio e para a mídia esportiva. Graduado em jornalismo pela pela PUC-RS, em 2007, está no Torcedores.com desde 2022; passou pela redação e assessoria de imprensa da ALAP (Associação Latino-Americana de Publicidade); edita o site SAMBARIO, voltado para sambas-enredo, desde 2004; e passou a escrever para o site NasPistas.com a partir de 2023.

Quem tem mais de 50 anos, se recorda certamente das lágrimas derramadas logo após o inesperado fim daquela célebre partida. Afinal, nenhum brasileiro cogitava a derrota de uma Seleção que encantava o mundo. Há exatos 40 anos, Paolo Rossi anotava o hat-trick mais doloroso entre os torcedores do país pentacampeão. Assim, o 3 a 2 para a Itália contra o Brasil de Telê Santana no estádio Sarriá, em Barcelona, até hoje gera teses e debates sobre os rumos que o futebol tomou depois do apito final do árbitro israelense Abraham Klein.

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O estilo refinado de uma equipe que tinha jogadores em seus auges tornou a Seleção Brasileira o time a ser batido na Copa do Mundo de 1982. A escalação chega a ser tão repetida quanto a de 12 anos antes: Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Falcão, Toninho Cerezo, Zico e Sócrates; Serginho Chulapa e Éder.

“Voa canarinho, voa”, cantavam os “pachecos”

Telê Santana regia aquela equipe, enquanto todas as emissoras de rádio e TV tocavam à exaustão o samba “Voa Canarinho” na voz de Júnior, cujo nome é “Povo Feliz”. Música que sintetizava o otimismo e o “pachequismo” do torcedor. Afinal, Pacheco era o garoto-propaganda de um comercial bastante veiculado na época, de um personagem fanático pela Seleção Brasileira.

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Contudo, aquele time que aparentemente beirava a perfeição tinha seus problemas. Telê Santana não conseguiu encontrar um ponta-direita para seu esquema. Então, escalou a equipe no 4-4-2, com mais um homem no meio, sem um ponteiro por aquele lado. Jô Soares eternizou o bordão “bota ponta, Telê”, em que o personagem Zé da Galera “ligava para o técnico” de um orelhão e implorava pelo jogador. Entretanto, o treinador não lhe deu ouvidos. Embora tenha experimentado Dirceu na difícil estreia contra a União Soviética (vitória por 2 a 1). Posteriormente, alternaria entre Zico e Sócrates caindo pelo setor, com Paulo Isidoro entrando no segundo tempo para ocupar o lugar.

Itália não ganhou na primeira fase

Logo após os problemas no primeiro jogo, a Seleção Brasileira deslancharia nas rodadas seguintes: 4 a 1 na Escócia, 4 a 0 diante da Nova Zelândia e o 3 a 1 contra a Argentina com autoridade. Em contrapartida, a Itália se classificou na primeira fase aos trancos e barrancos, com três empates. Só passou pelos critérios, por ter feito um gol a mais que Camarões. A primeira vitória só veio sobre os argentinos, no Sarriá, já pelo triangular da segunda fase. Foi a única Copa do Mundo que teve este regulamento. De três times na chave, um classificava para a semifinal.

Então a atual campeã, a Argentina já estava eliminada com duas derrotas. Brasil e Itália decidiriam a vaga, com a seleção de Telê jogando pelo empate, já que tinha feito dois gols de diferença na equipe de Maradona contra um de saldo dos italianos. Ou seja, o escrete canarinho era o grande favorito para a classificação.

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Veio a segunda-feira, 5 de julho de 1982. O jogo começou ao meio-dia, horário de Brasília. O técnico Enzo Bearzot repetiria o esquema de marcação homem-a-homem. O zagueiro Gentile, que anulara Maradona na partida anterior, ficaria na sombra de Zico. Então, o acanhado estádio Sarriá, que futuramente daria lugar a conjuntos residenciais em Barcelona, recebia um dos maiores jogos da história do futebol.

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Paolo Rossi tinha voltado de suspensão de dois anos

Paolo Rossi, que ainda não havia marcado gols na Copa do Mundo, estava desacreditado. O centroavante recém havia regressado ao futebol, depois de cumprir longa suspensão de dois anos por um escândalo da loteria esportiva italiana, o Totonero. Entretanto, ele deslancharia justamente contra a Seleção Brasileira. Aos cinco minutos de jogo, aproveitaria cruzamento de Cabrini para cabecear no contrapé de Waldir Peres.

Sete minutos depois, Sócrates empataria logo após grande jogada de Zico para cima de Gentile. Contudo, aos 25 minutos, uma bola mal atravessada por Toninho Cerezo no campo defensivo encontraria os pés de Paolo Rossi, que livre e cara-a-cara com Waldir Peres, não desperdiçou. A Itália iria para o intervalo na frente. Anteriormente, Zico reclamara de pênalti, logo após ter sua camisa rasgada por Gentile dentro da área.

O segundo tempo seguiu com o Brasil propondo o jogo, enquanto a Itália apostava em contra-ataques. O empate brasileiro viria aos 23 minutos. Falcão acerta o ângulo direito de Dino Zoff. A comemoração do então volante da Roma, uma explosão de alegria com todas as veias saltando, se tornou uma das imagens mais famosas da história do futebol.

Vitória do pragmatismo sobre o futebol-arte?

Mas a alegria duraria apenas seis minutos. Aos 29, logo após um escanteio duvidoso em que Waldir Peres teria conseguido evitar a saída, Paolo Rossi aproveita um bate-e-rebate na grande área, para mandar para as redes na pequena área. Júnior lhe dava condição. O Brasil se atira para cima em busca do empate que lhe daria a classificação. Entretanto, Antognoni tem um gol anulado por um questionável impedimento nos minutos finais. Na sequência do lance, o veteraníssimo Dino Zoff, então com 39 anos, faz uma das maiores defesas de todas as Copas do Mundo. Ele impede o gol numa cabeçada à queima-roupa do zagueiro Oscar, segurando a bola em cima da linha.

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Por fim, a Itália venceu aquela que seria eternizada como a Batalha do Sarriá. O passo decisivo para embalar o tricampeonato da Squadra Azzurra. Há 40 anos, teses sustentam que o futebol-arte foi suplantado pelo pragmatismo. O toque de bola vistoso teria sido vencido pela estratégia. Conforme os críticos, o legado é um futebol privilegiando os resultados com relação ao jogo praticado. Dessa forma, a queda seria acentuada nas Copas do Mundo seguintes. Por exemplo, o Mundial de 1990 de partidas truncadas e poucos gols.

Como diria o saudoso Luciano do Valle, nos instantes finais da transmissão da partida: “É um jogo que jamais você vai esquecer“.

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