Antes de mais nada, é preciso dizer que Vasco e Grêmio fizeram um jogo movimentado, de pouca técnica e de muitas reclamações em São Januário. O contexto da partida desta quinta-feira (2) explica bem esse cenário, visto que Roger Machado chegava ao Rio de Janeiro pressionado pelos últimos resultados do Tricolor Gaúcho no Brasileirão da Série B. É possível dizer que o jogo poderia ter entregado muito mais em todos os aspectos apesar da melhora sutil na atuação coletiva das duas equipes e também no nível de competitividade. Se o Tricolor Gaúcho conseguiu criar chances de gol (ainda que bem abaixo do esperado), o escrete comandado por Zé Ricardo soube como se livrar da retranca do seu adversário e explorar bem os espaços que apareceram no ataque. Faltou mesmo caprichar na pontaria.
Quem viu a partida dessa quinta-feira (2) ficou com a nítida certeza de que os dois times precisam subir de patamar se quiserem sonhar mais alto nessa Série B e não sofrer tanto para voltar para a primeira divisão. E é aqui que reside o principal ponto desta humilde análise. Tecnicamente falando, o Vasco de Zé Ricardo e o Grêmio de Roger Machado são duas das melhores equipes da competição (pelo menos na teoria) e envergam duas das camisas mais pesadas do futebol brasileiro. Só que é preciso mais. Ainda mais se tratando de Série B. Principalmente na identificação das adversidades que cada equipe terá pela frente no decorrer dessa cansativa temporada.
É lógico que os mais de 21 mil presentes em São Januário fariam a balança pender para o lado do Vasco. E o escrete de Zé Ricardo parece mais entrosado com sua torcida depois de um início irregular. E falando jogo desta quinta-feira (2) em si, Zé Ricardo apostou no seu costumeiro 4-2-3-1 diante de um Grêmio que prometia forte marcação e uma postura ainda mais reativa do que o usual. Figueiredo e Gabriel Pec entraram pelas pontas, Getúlio ganhou a vaga de Raniel e Nenê assumiu mais uma vez o protagonismo na criação das jogadas. O bom início de partida, no entanto, não escondeu alguns dos principais problemas do Trem Bala da Colina já mencionados aqui neste mesmo espaço.
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Isso porque o desenho tático escolhido por Zé Ricardo tende a sobrecarregar Nenê na criação das jogadas por conta da ausência de um volante que assuma o papel de “box-to-box”, isto é, que seja aquele jogador que vai de área a área ajudando na criação das jogadas e finalizando a gol. Do outro lado, o Grêmio se fechava num 3-4-2-1/5-4-1 com Bruno Alves, Kannemann e Pedro Geromel na zaga, Edílson e Nicolas nas alas e Benítez e Gabriel Teixeira se aproximando de Diego Sousa. O escrete comandado por Roger Machado obrigou o goleiro Thiago Rodrigues a trabalhar no primeiro tempo e explorou bem o espaço entrelinhas do seu adversário. No entanto, faltou aquele aprimoramento, aquele capricho necessário nas finalizações a gol e nas tomadas de decisão quando a bola chegava no setor ofensivo.
A escolha de Roger Machado por um time mais “cascudo” acabaria cobrando seu preço no segundo tempo. O Grêmio diminuiu o ritmo e passou a apostar mais nos contra-ataques com Gabriel Teixeira e Janderson (que substituiu Benítez no intervalo). Conforme o tempo passava, o comandante gremista ainda mandou Jhonata Varela, Elkeson e Diogo Barbosa para o jogo com o claro objetivo de dar mais fôlego para sua equipe, mas sem muito sucesso. Os 45 minutos finais nos apresentaram um Vasco mais presente no campo de ataque e que cresceu com as mexidas de Zé Ricardo (ainda que algumas delas tenham sido realizadas para preservar os jogadores amarelados). Apesar das chances criadas, o Trem Bala da Colina sofreu do mesmo mal do seu adversário. Faltava qualidade na hora de finalizar a gol e de decidir o que fazer com a bola. E um pouco de sorte também.
A reação do chileno Palacios depois de acertar o travessão de Brenno resume bem o espírito do Vasco. Um misto de frustração pelas chances desperdiçadas e de reconhecimento pela clara melhora coletiva do time comandado por Zé Ricardo. O 4-2-3-1 preferido do treinador vascaíno ganhou consistência e mais velocidade com as substituições e o Grêmio fazia o que podia para se defender e conter o ímpeto do seu adversário. Roger Machado não mexeu na formação básica da sua equipe, mas viu seus jogadores recuarem demais no final da partida. Se Diogo Barbosa conseguia desafogar um pouco o jogo pelo lado esquerdo, a entrada de Lucas Silva deixou o time mais plantado na defesa. Acabou que o Tricolor Gaúcho foi salvo pelo travessão e pela falta de pontaria de um Vasco mais afobado do que intenso.
A sensação que fica do empate sem gols em São Januário é muito clara para este que escreve. Embora tenham mostrado evolução, Grêmio e Vasco podem e devem jogar mais e melhor. Principalmente o time comandado por Roger Machado. Difícil não imaginar que a atuação coletiva mais consistente do que em outros jogos se deve muito mais à possibilidade de demissão e mudança no departamento de futebol do que qualquer coisa. Mesmo assim, o 3-4-2-1 utilizado nesta quinta-feira (2) pode ser a base para as próximas partidas do Tricolor Gaúcho. Ainda mais com o retorno de Kannemann na zaga e a boa atuação de Gabriel Teixeira no ataque. Falta ainda encontrar o nome que assuma definitivamente o papel de articulador de jogadas. Por mais que tenha qualidade, Benítez ainda sofre muito para entrar em forma.
Já o Vasco de Zé Ricardo parece mais inteiro e mais consistente. Principalmente no sistema defensivo. No entanto, assim como o Grêmio, ainda falta a subida de patamar definitiva para se consolidar entre os quatro melhores times da Série B. Mas a melhor notícia parece ser o entrosamento e a ligação dos jogadores com a torcida presente em São Januário. Todo esse apoio será importantíssimo nessa caminhada.
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