Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Lucas Piccinato e Breno Luis na partida disputada neste domingo (24)
Por mais que o futebol seja um esporte forjado no mais puro caos e desordem, era muito difícil pensar num resultado que não fosse a vitória do São Paulo. Ainda que a simpática e esforçada Esmac tenha equilibrado o jogo deste domingo (24) em alguns poucos momentos, o escrete comandado por Lucas Piccinato soube muito bem como explorar a qualidade individual das suas jogadoras para construir a goleada por 4 a 1 no Baenão, em Belém. O Tricolor Paulista esteve organizado e bem distribuído no campo ofensivo e quase não sofreu na defesa apesar de algumas problemas nas transições. Contra equipes mais fortes e mais organizadas, isso até pode ser um problema mais sério. Mas o que se viu em campo foi a superioridade de um São Paulo muito consistente e bastante insinuante nas tramas ofensivas.
Grande vitória do Tricolor! 🇾🇪
O @SaoPauloFC_Fem conquista mais três pontos fora de casa! Bem demais! pic.twitter.com/aaOXEQJjGv
— Brasileirão Feminino Neoenergia (@BRFeminino) April 24, 2022
O time mandado por Lucas Piccinato a campo indicava um 4-4-2 básico com duas linhas protegendo a área da goleira Michelle e duas atacantes de muita movimentação lá na frente. Assim que a bola rolou, no entanto, foi possível notar que a formação inicial era um pouco diferente. A versátil e polivalente Fê Palermo jogava como zagueira pela direita e se alinhava a Pardal e Thaís Regina. Naná e Dani se transformavam em alas, Maressa e Joyce faziam o apoio por dentro e Moninquinha se juntava a Carol e Rafa Travalão num trio ofensivo de muita velocidade e mobilidade. Com a bola, o São Paulo jogava num 3-4-3 bem ofensivo. Sem ela, no 4-4-2 mais tradicional. Tudo para ocupar bem os espaços e bagunçar a defesa da Esmac.
Do outro lado, o técnico Breno Luis apostou num 4-1-4-1/4-3-3 que não teve consistência suficiente para segurar o ímpeto do seu forte adversário. Isso porque Rafa Travalão abriu o placar logo aos três minutos de partida numa das primeiras investidas do São Paulo. Ainda que Lari Sanchez tenha empatado o jogo aos 12 minutos (num dos poucos cochilos do sistema defensivo do time de Lucas Piccinato em todo o jogo), a sensação que ficava era a de que o Tricolor Paulista só precisava de um pouco de calma para retomar o controle do jogo e a vantagem no placar. A mesma Rafa Travalão fez o segundo aos 15 minutos e Fê Palermo completou cobrança de escanteio para as redes da goleira Letícia Busatto aos 20 minutos do primeiro tempo.
Não demorou muito para que Breno Luis fizesse alterações na Esmac. Ele trocou as laterais Milena e Raquel de lado, trouxe a camisa 10 Caixeta para jogar como meio-campista pela esquerda e orientou que as Meninas de Ananindeua formassem duas linhas com quatro jogadoras na frente da área da goleira Letícia Busatto. O problema, no entanto, não estava na formação escolhida, mas na execução. Por mais que houvesse organização na saída de bola e uma proposta de jogo clara, a Esmac abria espaços generosos entre suas linhas e facilitava muito a vida do São Paulo. Moniquinha, Carol e Rafa Travalão sempre recebiam a bola em condições de arrastar a zaga da equipe de Ananindeua para trás e criar superioridade numérica no campo de ataque. Ao mesmo tempo, Joyce e Maressa tinham muita liberdade no meio-campo.
A vantagem no placar fez com que o São Paulo tirasse um pouco o pé do acelerador no segundo tempo e diminuísse o nível de intensidade. Isso fez com que a Esmac ganhasse um pouco de campo e até criasse pelo menos duas chances de gol. Faltava, no entanto, aprimoramento no último passe e capricho nas conclusões a gol. Por mais que o escrete paraense tentasse, o time comandado por Lucas Piccinato sempre encontrava um meio de se livrar da pressão e fazer a passagem da bola da defesa para o ataque de maneira rápida. Ao mesmo tempo, Breno Luis não conseguiu resolver o problema do seu 4-3-3 e viu sua equipe conceder verdadeiros latifúndios para o São Paulo explorar. Ver Naná e Dani recebendo a bola com liberdade pelos lados do campo foi uma cena bem comum no segundo tempo da partida deste domingo (24).
A rigor, o Tricolor Paulista sofreu muito pouco na defesa por conta dessa desorganização ofensiva do seu adversário e foi controlando o jogo até os 45 minutos do segundo tempo, quando Cacau recebeu às costas da zaga da Esmac e fez o quarto gol com um belo toque de cobertura. A goleada fora de casa acabou comprovando a superioridade técnica e tática das comandadas de Lucas Piccinato numa atuação coletiva bastante consistente e que fez com que a equipe sofresse muito pouco. A variação do 4-4-2 para o 3-4-3 pode ser usada mais vezes contra adversários (em tese) mais fracos. No entanto, o posicionamento do trio de zagueiras ainda precisa de alguns ajustes. Fosse a Esmac uma equipe um pouco mais organizada, as coisas poderiam ter ficado mais complicadas para o São Paulo no Baenão.
A primeira vitória do Tricolor Paulista fora de casa no Brasileirão Feminino traz sim confiança para a sequência da competição e para a solidificação da proposta de jogo de Lucas Piccinato. Este que escreve confessa que variações táticas são sempre bem vindas quando executadas da maneira correta. Mas só o tempo poderá dizer se essa será a melhor escolha para encarar equipes da parte de cima da tabela da competição. Ainda mais diante de tudo o que está em jogo nessa temporada.