Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida válida pela Supercopa Feminina e as escolhas de Patrícia Gusmão e Rodrigo Campos
Grêmio e Cruzeiro mostraram nesta sexta-feira (4) uma pequena amostra do que as duas equipes estão preparando para esse início de temporada no futebol feminino. E como não poderia deixar de ser, o primeiro jogo da temporada das Gurias Gremistas e das Cabulosas acabou sendo pela falta de entrosamento, de ritmo e também por uma certa imposição de estilos no gramado do Estádio do Vale, em Novo Hamburgo. Principalmente no segundo tempo. Isso porque as mexidas (no posicionamento e nas peças em campo) realizadas por Patrícia Gusmão surtiram mais efeito do que as feitas por Rodrigo Campos. Na prática, o Grêmio esteve mais organizado e mais “inteiro” nos duelos físicos, foi eficiente nas bolas paradas e construiu a vitória que o colocou na semifinal da Supercopa do Brasil com gols de Patrícia Maldaner (após cobrança de escanteio) e Dani Ortolan (cobrando penalidade que ela mesma sofreu).
ESTAMOS NA SEMIFINAL! #Grêmio 2×0 Cruzeiro
A Pati Maldaner fez de cabeça e no apagar das luzes a Dani Ortolan marcou de pênalti, e vencemos o Cruzeiro na #SupercopaFeminina2022! No domingo, conheceremos o nosso adversário, no confronto Flamengo x Esmac.
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— Grêmio FBPA (@Gremio) February 5, 2022
É bom que se diga que o cenário descrito acima e a falta de entrosamento e de ritmo de jogo são perfeitamente naturais quando se observa o contexto do jogo disputado nesta sexta-feira (4). Não dá pra cobrar futebol em alto nível de duas equipes que ainda buscam o entendimento mútuo entre as jogadoras que já faziam parte do elenco, as que chegaram na janela de transferências e as comissões técnicas. As oscilações nas atuações de Grêmio, Cruzeiro e de qualquer outra equipe ainda vão ser vistas por um bom tempo ou até que esse processo de adaptação de ideias aconteça por completo. E a velocidade disso tudo depende muito de cada situação, de cada contexto e de cada clube. Realmente, não é fácil.
Mas é possível dizer que foram as Cabulosas quem começaram melhor a partida por conta da postura mais vertical e objetiva da equipe de Rodrigo Campos. Logo aos dois minutos do primeiro tempo, Mari Pires aproveitou vacilo da defesa das Gurias Gremistas na saída de bola (muito por conta da falta de concentração natural desse início de jogo) e passa para Rita Bove acertar a trave esquerda de Lorena (goleira convocada para a Seleção Brasileira). Difícil não perceber alguns problemas no posicionamento defensivo do time de Patrícia Gusmão. Principalmente na marcação na frente da zaga. A melhor chance de gol do Grêmio no primeiro tempo saiu de uma cabeçada de Jéssica que acertou o travessão de Rubi.
Na prática, as Gurias Gremistas começaram a entrar mais no jogo e impor seu estilo na medida em que Rafa Levis (a grande referência técnica da equipe de Patrícia Gusmão) conseguia se livrar da marcação de Robinha e Rafa Andrade. O panorama melhorou consideravelmente a partir do segundo tempo e no momento em que a técnica do Tricolor Gaúcho sacou a volante Tchula e mandou a atacante Cássia para o jogo. A conexão entre a camisa 21 e a camisa 10 melhorou demais a produção ofensiva do time do Grêmio. Rafa Levis (jogando um pouco mais recuada) tinha espaço para distribuir passes e Cássia se somou a Lais Estevam, Caty e Luany num 4-2-4 que aproveitava muito bem os espaços nos lados do campo e na frente da dupla de zaga do Cruzeiro. As laterais Nine e Isa Fernandes mostravam muita dificuldade para acompanhar as atacantes gremistas e sofriam com os problemas na recomposição defensiva.
Patrícia Maldaner abriu o placar em bela cabeçada no ângulo da goleira Rubi aos 30 minutos do segundo tempo (após cobrança de escanteio de Rafa Levis). Enquanto o Grêmio se postava bem em campo e seguia executando muito bem a estratégia de Patrícia Gusmão, o Cruzeiro mostrava certa dificuldade para atacar como atacou no primeiro tempo. Primeiro porque seu adversário acertou o posicionamento defensivo. E depois, por conta das mexidas na formação e das entradas de Cássia e Dany Barão. Ao mesmo tempo, a saída de Mari Pires deixou as Cabulosas sem ter quem organizasse o jogo no meio-campo, tornando a equipe mineira refém das bolas longas para Marília, Rita Bove e Vanessinha. Do outro lado, as Gurias Gremistas seguiam explorando bem os espaços que surgiam na intermediária ofensiva com muita intensidade nas transições e buscando abrir o campo e explorar bem a profundidade.
A pá de cal foi colocada por Dani Ortolan aos 49 minutos do segundo tempo com Dani Ortolan cobrando penalidade que ela mesma sofreu. E isso em mais uma jogada de ataque em que as Gurias Gremistas exploraram bem os espaços que surgiam na última linha do Cruzeiro. Na prática, o que se viu nesta sexta-feira (4), em Novo Hamburgo, foi a imposição de um estilo de jogo. O escrete comandado por Patrícia Gusmão se acertou no intervalo, a própria treinadora foi muito bem nas mexidas e a equipe gaúcha acabou sendo mais efetiva nas bolas paradas. Como Sepp Herberger (campeão da Copa do Mundo de 1954 com a Alemanha Ocidental) costumava dizer, “futebol é um jogo de imposição de estilos”. E foi exatamente isso que o Grêmio conseguiu fazer diante de um Cruzeiro que, assim como ele, ainda busca a forma física e o entrosamento ideal para ir longe nessa temporada. Se impor em campo é fundamental.
Embora seja o pontapé inicial do futebol feminino nesse início de 2022, a partida desta sexta-feira (4) já nos mostrou um pouco das ideias de Patrícia Gusmão e Rodrigo Campos e a maneira como os dois treinadores pretendem que suas equipes se comportem com e sem a bola. A boa execução dessas estratégias depende, é claro, de tempo, treinamento e condições de trabalho. Grêmio e Cruzeiro vão passar pelo mesmo processo que as demais equipes que disputam a Supercopa Feminina. Paciência é fundamental nesse momento.
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