Home Futebol Ao contrário do que muitos pensam, encaixe de Marinho no time do Flamengo não é tão simples assim; entenda

Ao contrário do que muitos pensam, encaixe de Marinho no time do Flamengo não é tão simples assim; entenda

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as características do novo reforço do Fla e como Paulo Sousa pode utilizá-lo na equipe rubro-negra

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as características do novo reforço do Fla e como Paulo Sousa pode utilizá-lo na equipe rubro-negra

Anunciado oficialmente no dia 27 de janeiro, Marinho chega ao Flamengo cercado de expectativas por parte da torcida e de quem já o viu jogando em altíssimo nível no Santos vice-campeão da Libertadores em 2020. No entanto, ao contrário do que muitos podem pensar, o “mini míssil aleatório” não chega para substituir Michael (negociado com o Al-Hilal da Arábia Saudita) pelo simples fato de não se encaixar nesse perfil. É evidente que estamos falando de alguém que foi eleito o “Rei da América” não faz muito tempo e que teve sua convocação para a Seleção Brasileira pedida por torcedores e jornalistas. Marinho é sim um baita jogador e de nível altíssimo para os padrões da América do Sul. Mas é preciso deixar bem claro que ele vai precisar superar alguns obstáculos para se firmar no Flamengo. Seu encaixe no time titular não é tão simples como pode parecer.

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Antes de mais nada, é preciso dizer que a “melhor versão” de Marinho começou a surgir com Jorge Sampaoli no Santos em 2019 durante a campanha do vice-campeonato brasileiro. Impossível não perceber ali que o atacante cresceu muito com o argentino e subiu ainda mais de patamar quando Cuca assumiu o Peixe no ano seguinte. Na prática, era o principal jogador da equipe da Vila Belmiro e a referência técnica de uma equipe que surpreendeu muita gente. Por outro lado, é impossível não perceber que Marinho oscilou demais em 2021 por conta de uma série de fatores que envolvem lesões, problemas internos e erros na avaliação do próprio jogador dentro de campo em vários momentos.

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Para render aquilo que se espera dele no Flamengo, Marinho vai precisar se reinventar e se adaptar ao novo cenário. Se ele foi dos líderes do elenco santista nas últimas três temporadas, agora terá que encontrar seu lugar num grupo de jogadores consagrados, experientes e altamente unidos no rubro-negro da Gávea. Ao mesmo tempo, ele terá que convencer o técnico Paulo Sousa de que pode sim render e entregar um bom desempenho dentro do modelo de jogo adotado pelo treinador português. E já falando de aspectos táticos, Marinho gosta de atuar em faixas do campo que já são ocupadas por vários outros nomes que parecem estar na frente da lista de prioridades do técnico Paulo Sousa.

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Marinho gosta de jogar pelo lado direito do campo. Ele pode ser aquele ponta mais fixo que espera a bola no lado para dar amplitude às jogadas de ataque e buscar as jogadas individuais. Ou também pode ser aquele atacante que parte em diagonal da direita para dentro na direção da área para o chute a gol (o chamado “mini míssil aleatório”). Foi assim que Marinho jogou com Fábio Carille no 3-4-2-1 implementado pelo treinador no Santos nesses últimos meses. Era bem comum ver o atacante sempre buscando a entrelinha para receber o passe enquanto pelo menos dois companheiros de equipe davam profundidade e empurravam a defesa adversária para trás. Tudo para que Marinho pudesse receber com liberdade na entrada da área para tentar o chute de média e longa distância. Só que às vezes essa decisão nem sempre era a mais acertada. Esses erros nas tomadas de decisão foram recorrentes em 2021.

Marinho jogava no lado direito do 3-4-2-1 de Fábio Carille no Santos na temporada passada. O atacante buscava a jogada individual saindo em diagonal na direção da área para tentar o chute de média e longa distância. Nem sempre essa era a melhor decisão. Foto: Reprodução / Premiere / GE

Nos momentos defensivos, Marinho voltava para fechar o lado direito da defesa do Santos na variação para um 5-4-1. Voltava, mas nem tanto. Isso porque ele sempre se posicionava de modo a ser o jogador mais avançado (ou um dos mais avançados) do time para puxar os contra-ataques. O problema é que isso sobrecarregava um dos setores do sistema defensivo do Peixe. Foi assim com Jorge Sampaoli, Cuca e também com Fábio Carille. A impressão que fica é a de que Marinho pouco ajudava na marcação embora participasse sim da pressão pós-perda ainda no campo de ataque. O problema todo estava quando a bola passava da linha do meio-campo. Por mais que guardasse sua posição, o combate ao adversário não era o ideal.

Já pensando no seu encaixe no time do Flamengo, eu e você sabemos que Paulo Sousa gosta de montar suas equipes num 3-4-2-1 nos momentos ofensivos e que Marinho se encaixaria muito bem jogando pelo lado direito saindo em diagonal e abrindo o corredor para o lateral ofensivo. Só que esse é o setor onde joga Everton Ribeiro. Apesar da má fase, o camisa 7 entrega muito em criatividade e recomposição defensiva. E pode também ser o setor onde Gabigol (que é ponta de origem) pode atuar caso Pedro seja realmente utilizado como titular por Paulo Sousa. Defensivamente, todos os dois entregam mais do que Marinho. Difícil não ver uma necessidade de adaptação do camisa 31 do Flamengo nesse sentido.

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Marinho voltava pela direita no 5-4-1 de Fábio Carille no Santos, mas participava pouco da marcação no campo defensivo. Por mais que guardasse sua posição, o jogador quase sempre se colocava como o jogador mais avançado da equipe para puxar os contra-ataques. Foto: Reprodução / Premiere / GE

É possível que Marinho possa ser adaptado pelo lado esquerdo (mais ou menos como Michael atuava na equipe do Flamengo) para que Filipe Luís tenha liberdade para vir armar o jogo por dentro. Mesmo assim, há a necessidade de adaptação a essa nova função, ao novo clube, aos novos companheiros e aos novos métodos de trabalho. Paulo Sousa é um técnico autoral e que tem um modelo de jogo muito bem definido. E pelo que tem se visto e ouvido dos treinamentos, o português ainda não parece inclinado a fazer concessões nesse sentido. Pelo menos não num primeiro momento. A identificação com o clube pode ajudar muito nessa adaptação e esse primeiro momento de entrosamento e recuperação da melhor forma física podem fazer com que Marinho ganhe alguns minutos nesses primeiros jogos. No entanto, certo é que o “mini-míssil aleatório” terá que se adaptar aos conceitos de Paulo Sousa.

Existe ainda o fator extracampo. Sabemos que Marinho que envolveu em problemas internos no Santos e que teve diferenças com funcionários e jogadores expostas pela imprensa esportiva. Não se trata aqui de afirmar quem está certo ou errado, mas é preciso lembrar que os próprios torcedores santistas afirmam que o jogador deixa o clube sem deixar muitas saudades justamente por causa de polêmcias nas redes sociais e pela postura dos últimos meses. Seu acerto com o Flamengo não deixa de ser uma tentativa de “respirar novos ares”. Mas é também uma aposta para recuperar seu melhor desempenho e buscar espaço num dos clubes mais ricos e mais fortes do país junto com Palmeiras, Corinthians e Atlético-MG. É realmente um verdadeiro desafio para o jogador que foi eleito o “Rei da América” em 2020 e que ainda busca retomar o nível de uma das suas melhores temporadas da sua carreira.

Repetimos: Marinho é um grande jogador e pode ser muito útil ao Flamengo. Principalmente quando se sabe que jogadores como Gabigol, Everton Ribeiro e até mesmo Bruno Henrique e Pedro devem ser presenças constantes nas convocações para a Seleção Brasileira. Mesmo assim, o camisa 31 terá que se adaptar e se reinventar aos 31 anos para conquistar uma vaga no time. Superar obstáculos colocados pelo próprio atacante também será fundamental para que ele tenha sucesso no Mais Querido do Brasil.

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As ideias táticas de Paulo Sousa (PARTE I) – A experiência vitoriosa como jogador da Juventus e do Borussia Dortmund

As ideias táticas de Paulo Sousa (PARTE II) – Formações preferidas, filosofia de jogo e a “sombra” de Jorge Jesus

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