Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do “Clássico das Águias” em jogo válido pelas oitavas de final da Copa Africana de Nações
Assim como a Copa do Mundo, a Copa Africana de Nações é um torneio de “tiro curto”, isto é, uma competição de poucas partidas, mas que exige concentração máxima. Qualquer erro, atuação ou dia ruim pode significar a ruína das equipes que fizeram boas campanhas na fase de grupos ou que vinham de bons resultados. Foi mais ou menos isso que aconteceu com a Nigéria neste domingo (23) em Garua, cidade localizada ao norte de Camarões. Depois de ter passado para as oitavas de final da CAN com 100% de aproveitamento, as “Super Águias” jogaram muito abaixo do que já jogaram na competição e foram derrotadas pela aplicada equipe da Tunísia por 1 a 0, com um gol solitário de Youssef Msakni no início do segundo tempo. Pode-se falar em surpresa ou até mesmo em “zebra” na Copa Africana de Nações. Por outro lado, não chega a surpreender diante do que foi apresentado em campo.
🇹🇳 The last time #TeamTunisia managed to get past Nigeria in the #TotalEnergiesAFCON knockouts they went on to win the title!
Will it happen again? ⚡#TotalEnergiesAFCON2021 | #AFCON2021 | @FTF_OFFICIELLE pic.twitter.com/nB97p6s7dY
— CAF (@CAF_Online) January 23, 2022
Isso porque, apesar de ter passado para as oitavas de final da CAN entre as melhores terceiras colocadas (com uma vitória e duas derrotas), as “Águias de Cartago” souberam segurar o ímpeto do seu forte adversário no jogo deste domingo (23). A começar pela formação escolhida pelo técnico Mondher Kebaier: um 4-3-3 que fechava nem a entrada da área do goleiro Bechir Ben Said e que tirava o espaço de circulação de Iheanacho, Moses Simon e Chukwueze logo atrás de Awoniyi. Essa disposição tática trazia Ben Slimane saindo um pouco mais pela direita (e se juntando a Hamza Rafia nas jogadas ofensivas) e Laidouni um pouco mais próximo de Skhiri na proteção da última linha de defesa tunisiana.
O primeiro tempo em Garua foi marcado por um início mais movimentado e com a Nigéria tomando mais a iniciativa do jogo. No entanto, a Tunísia sempre se posicionou muito bem na defesa. Sempre que as “Águias de Cartago” retomavam a posse, a ordem era buscar as bolas longas para o trio ofensivo Jaziri, Msakni e Rafia. Estes, por sua vez, tentavam explorar o espaço às costas dos volantes Ndidi e Aribo para dar sequência aos contra-ataques. Não foi por acaso que a Nigéria do técnico Augustine Eguavoen só finalizou quatro vezes a gol no primeiro tempo.
Conforme o tempo ia passando, a impressão de que a Nigéria (que havia marcado seis gols nas três partidas da fase de grupos) ia perdendo o controle dos nervos ia ficando mais forte. Do outro lado, a Tunísia ia controlando bem os espaços e conseguindo algumas boas chegadas no campo adversário. Logo aos dois minutos da segunda etapa, Youssef Msakni recebeu passe pela direita, se livrou de Ndidi e teve espaço e tempo suficiente para carregar a bola até a entrada da área e acertar um chute que o goleiro Maduka Okoye não conseguiu segurar. É interessante notar aqui toda a movimentação do ataque tunisiano no momento em que o camisa 7 recebe a bola na intermediária. Rafia e Jaziri arrastam a marcação de Troost-Ekong e Omeruo e os “interiores” Ben Slimane e Laïdouni atacam o espaço. Tudo para desmontar a zaga das “Super Águias” e permitir que Msakni tivesse como finalizar a gol.
A Nigéria, que já se mostrava um certo nervosismo no final do primeiro tempo, sentiu demais o gol e demorou demais para se reorganizar em campo. A Tunísia, por sua vez, manteve seu estilo de jogo e fechou ainda mais a entrada da área do bom goleiro Bechir Ben Said. Enquanto a trinca de meio-campistas tirava o espaço entre eles e a última linha de defesa das “Águias de Cartago”, os pontas Msakni e Rafia perseguiam os laterais Ola Aina e Sanusi até onde fosse necessário. Com muita compactação e boa leitura do jogo por parte de Mondher Kebaier, o escrete tunisiano conseguiu se segurar na defesa até o apito final. E não foram poucas as vezes em que Ndidi, Aribo, Iheanacho e companhia tomaram decisões ruins quando conseguiam vencer a pressão inicial do seu adversário. Mais uma prova de que um dia ruim pode colocar tudo a perder. Ainda mais numa Copa Africana de Nações.
A expulsão de Alex Iwobi aos 21 minutos do segundo tempo dificultou ainda mais a vida da Nigéria num jogo que poderia ter sido resolvido se as “Super Águias” tivessem um pouco mais de calma e concentração. Elementos esses que não faltaram na Tunísia. É verdade que o escrete comandado por Augustine Eguavoen quase empatou o jogo nos minutos finais quando Umar Sadiq recebeu belo passe de Peter Olayinka às costas da defesa tunisiana. Mas a falta de pontaria dos nigerianos acabou falando mais alto. De acordo com os números do SofaScore, a equipe finalizou treze vezes em toda a partida com apenas uma indo na direção do gol de Bechir Ben Said. Muito pouco para quem pintava como favorita ao título e para quem entrou em campo chancelada pela ótima campanha na fase de grupos. A Tunísia, por sua vez, colhe os frutos pelo ótimo desempenho coletivo apresentado neste domingo (23).
Essa é praticamente a essência de competições de “tiro curto”. Um dia ruim, uma atuação mais abaixo da média e tudo pode cair por terra. Agora, se a Nigéria aprendeu essa lição da pior maneira neste fatídico domingo (23), a Tunísia mostrou que é na fase de “mata-mata” que a Copa Africana de Nações começou de verdade. A campanha na fase de grupos e os bons números das “Super Águias” parecem areia ao vento depois da derrota para as aplicadas e valentes “Águias de Cartago”.
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