Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Abel Ferreira explorou problemas do Flamengo de Renato Gaúcho e conquistar a Glória Eterna
Quem acompanha este espaço aqui no TORCEDORES.COM já deve ter se acostumado com este colunista defendendo o trabalho sério e a troca de conhecimento no velho e rude esporte bretão. A vitória do Palmeiras sobre o Flamengo no Estádio Centenário, na grande final da Copa Libertadores da América, tem um pouco disso e muito mais. Difícil não perceber que Abel Ferreira havia feito seu planejamento em cima de todos os pontos fracos e das deficiências do escrete comandado por Renato Gaúcho. Estava claro que essa seria a tônica da partida desde o apito inicial do argentino Nestor Pitana. E o resultado (embora o Flamengo tenha competido bastante apesar da desorganização tática) não poderia ter sido outro. O Palmeiras pinta a América do Sul de verde mais uma vez e deixa bem claro que o conhecimento, o estudo e a ciência são fundamentais no futebol. E na vida também.
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Este que escreve, inclusive, já havia alertado para o fato de que o empate contra o Atlético-MG na última terça-feira (23) já havia revelado pistas de como Abel Ferreira pretendia montar o Palmeiras para a decisão contra o Flamengo. Linha de cinco na defesa (com Piquerez mais fixo e Gustavo Scarpa jogando como ala), dois volantes de ótimo trato com a bola e firmes na marcação (Danilo e Zé Rafael), Dudu e Rapahel Veiga explorando as costas de Isla e Filipe Luís e Rony arrastando Rodrigo Caio e David Luiz no comando de ataque. O início do lance do gol de Wesley contra o Galo lembra muito a construção da jogada do primeiro gol da tarde em Montevidéu. Bola longa nas costas do lateral adversário, jogada de linha de fundo e cruzamento para trás no espaço vazio. O que se via logo aos seis minutos de partida, meus amigos, era apenas o estudo do adversário fazendo seu trabalho numa decisão de Copa Libertadores da América.
Na prática, é como se a partida tivesse começado com o Palmeiras em vantagem no marcador. E o gol de Raphael Veiga acabaria por condicionar todo o jogo em Montevidéu. Isso porque o time do Flamengo se mostrou apático e sem muitas ideias para furar o bloqueio defensivo imposto pelo escrete de Abel Ferreira. O escrete de Renato Gaúcho espetava muito seus jogadores pelos lados e povoava pouco o espaço na frente da área. Mesmo sentindo a falta de ritmo de jogo, Arrascaeta foi fundamental para encontrar espaços na intermediária e acionar os companheiros de equipe com passes milimétricos. Só que a defesa do Palmeiras estava muito bem organizada. Gustavo Scarpa e Piquerez fechavam bem o lado direito e acabaram com a jogada de ultrapassagem de Isla e Everton Ribeiro por ali. Mayke esteve muito bem na marcação de Bruno Henrique. E Danilo foi um monstro na marcação e na saída de bola.
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Enquanto isso, o Flamengo cometia erros primários demais para uma equipe que tentava o tricampeonato da América. Erros de posicionamento, na recomposição defensiva e na criação das jogadas de ataque. Renato Gaúcho só se mexeu depois dos 18 minutos do segundo tempo, quando mandou Michael para o jogo no lugar de Everton Ribeiro. Jogando mais pela direita, o camisa 19 deu um pouco mais de profundidade ao escrete rubro-negro e aproveitou o desgaste físico do time do Palmeiras. Apesar disso, o gol de empate saiu pelo lado esquerdo, numa das poucas trocas de passe em velocidade feitas pelo Flamengo em todo o jogo. Gabigol tabelou com Arrascaeta e recebeu na frente, no espaço aberto por Bruno Henrique e Michael. O chute de esquerda saiu forte e entrou entre a trave direita e Weverton. Ainda que no “abafa”, o Flamengo voltava para o jogo e criava chances boas com muita movimentação no campo ofensivo.
Mas ainda faltava o aprimoramento necessário na conclusão das jogadas para se chegar ao gol da virada. Michael poderia ter sido o herói rubro-negro, mas perdeu oportunidade cristalina aos 40 minutos do segundo tempo. Mesmo assim, o Flamengo ia para a prorrogação com a confiança em alta. No entanto, quiseram os deuses do futebol que Andreas Pereira (um dos melhores do time de Renato Gaúcho junto com Arrascaeta) cometesse erro infantil na saída de bola. E mesmo num gol originado por uma (incrível) falha individual, foi possível notar o “dedo” de Abel Ferreira. A entrada de Deyverson no lugar de um extenuado Raphael Veiga foi importantíssima para dar profundidade ao Palmeiras e ocupar o espaço entre as linhas do Flamengo. Willian Arão e Matheuzinho estão bem longe de Rodrigo Caio, David Luiz e Andreas Pereira na saída de bola. O 5-2-3 foi mantido e tirou a superioridade numérica da defesa rubro-negra.
Difícil aliviar a barra de Andreas Pereira no lance. Assim como também é difícil aliviar a barra de Renato Gaúcho em todo o conjunto da obra. As dificuldades que o Flamengo teve para furar o eficiente bloqueio defensivo do Palmeiras eram evidentes. Do mesmo modo, todas as deficiências do time rubro-negro na organização ofensiva e o a falta de um plano claro para fazer a bola chegar no ataque foram escancarados. Por mais que Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol, Everton Ribeiro e vários outros sejam diferenciados, faltava muita coisa no Flamengo. Por mais que a qualidade individual ganhe jogos, o tabalho coletivo ganha campeonatos. Essa é a grande lição que o Palmeiras de Abel Ferreira nos deixa neste sábado (27). Dar liberdade ao talento é louvável. Mas negar que o futebol é um ESPORTE COLETIVO e que o talento precisa estar a serviço da equipe é um erro imperdoável. Ainda mais no esporte de alto rendimento.
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Esse negócio encantador e apaixonante chamado futebol move céus e terras, consagra jogadores com a Glória Eterna e condena outros ao inferno em questão de segundos. Incluindo treinadores. Se Abel Ferreira colhe os frutos do seu trabalho com o seu segundo título de Copa Libertadores da América, Renato Gaúcho colhe aquilo que plantou com as bravatas e as respostas evasivas sobre o trabalho tático realizado no Flamengo. Mas nada disso tira o mérito do Palmeiras e nem diminui a qualidade do trabalho realizado por Abel Ferreira. Você tem todo o direito de não gostar do estilo de jogo do português. Mas não pode negar ele transformou o Verdão numa equipe altamente competitiva, inteligente com e sem a bola e que tem na concentração uma das suas principais armas. E fica a pergunta: por que o futebol eficiente também não pode ser considerado bonito? Quando foi que os contra-ataques cirúrgicos perderam sua beleza?
Abel Ferreira sofreu com críticas exageradas e até mesmo desonestas durante toda a temporada. O português seguiu com seu trabalho e mostrou que estudo, dedicação e estratégia ainda fazem a diferença no velho e rude esporte bretão. Vencer duas Libertadores em sequência é para poucos. Ainda existem muitos “negacionistas da bola” por aí (principalmente na imprensa esportiva). Mas a todos eles eu recomendo que façam como o ET Bilu: busquem conhecimento. Isso faz um bem danado.
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