Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas de Milovan Rajevac e Norman Mapeza no jogo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo
Gana foi a última seleção da África a fazer uma campanha de algum destaque numa Copa do Mundo. Aconteceu em 2010, na África do Sul, quando as Estrelas Negras foram superadas pelo Uruguai de Loco Abreu, Forlán e Suárez nas quartas de final, numa das partidas mais emocionantes da história dos Mundiais. O treinador era o mesmo Milovan Rajevac que estava no banco de reservas neste sábado (9), no Cape Coast Sports Stadium. A vitória da equipe da casa sobre a frágil seleção do Zimbábue (comandada por Norman Mapeza) foi marcada pela facilidade com que Gana controlou o jogo e ocupou bem os espaços através do 4-2-3-1 proposto pelo seu comandante e também pelas atuações seguras de nomes conhecidos do torcedor, como o volante Thomas Partey e os irmãos André Ayew e Jordan Ayew (ambos filhos do grande Abedi Pele). Mais uma prova de que podemos encontrar futebol bem pensado e bem executado no continente africano.
Impossível falar da partida deste sábado (9) sem iniciar a análise falando do gol de Mohammed Kudus (ótimo meio-campista do Ajax) marcado logo aos cinco minutos de jogo. Isso porque a maneira como as Estrelas Negras remexeram e bagunçaram o 5-3-2 do Zimbábue de Norman Mapeza merece destaque. André Ayew puxa a marcação adversária saindo da esquerda e vindo jogar mais por dentro. O camisa 20 passa a bola para Jordan Ayew (que se posiciona de modo a segurar pelo menos dois defensores do Zimbábue próximo da marca do pênalti) e ataca o espaço aberto pela movimentação dos companheiros de equipe. O atacante do Crystal Palace apenas rola a bola e Kudus acerta um belo chute da entrada da área, sem qualquer chance para o goleiro Washington Arubi. Bela jogada que mostra que a intenção do sérvio Milovan Rajevac é recuperar a mobilidade, a organização e a desenvoltura do time que chegou longe na Copa do Mundo de 2010.
Mas também é preciso dizer que o gol condicionou bastante o jogo no primeiro tempo disputado no Cape Coast Sports Stadium. O que se via era o toque de bola no campo de ataque por parte da equipe de Gana e Zimbábue fechando suas linhas na frente da sua área. Tudo para conter os avanços do 4-2-3-1 das Estrelas Negras e o toque de bola mais envolvente do quarteto ofensivo do time de Milovan Rajevac. A postura da seleção visitante mudou no início da segunda etapa, quando Norman Mapeza soltou mais a sua equipe. Logo aos dois minutos, Jordan Zemura (lateral-esquerdo do Bournemouth) recebeu passe em profundidade e cruzou para o meio da área e Knox Mutizwa foi derrubado. Pênalti que Knowledge Musona cobrou com categoria e recolocou o Zimbábue no jogo.
O gol sofrido logo no começo da segunda etapa fez com que o time de Gana retomasse o ritmo dos primeiros 45 minutos e retomasse o controle do jogo nos seus domínios. O sérvio Milovan Rajevac sacou Issahaku Abdul Fatawu e Jordan Ayew para as entradas do atacante Benjamin Tetteh e do meio-campista Iddrisu Baba (atleta do Mallorca) e as Estrelas Negras ganharam mais consistência nas investidas por dentro. Com muito mais força na pressão pós-perda” e mais presença no campo ofensivo, Gana retomou a vantagem no placar aos 21 minutos do segundo tempo. Thomas Partey aproveitou a falha de Tendayi Darikwa (zagueiro do Wigan) na saída de bola, deixou Kelvin Madzongwe no chão com um drible de corpo e acertou belo chute no canto direito. Golaço que comprovava a superioridade técnica e tática das Estrelas Negras sobre uma equipe que tentou competir, mas que pecou pela falta de ofensividade em determinados momentos da partida deste sábado (9).
Ainda haveria tempo para André Ayew marcar o terceiro e último gol de Gana em cabeçada de manual após cruzamento vindo da esquerda. Vitória justa de um time que procurou ocupar os espaços e jogar em velocidade quando foi necessário, mas que acabou tendo sua atuação condicionada por conta do gol logo no início da partida. E diante de tudo o que se viu no Cape Coast Sports Stadium neste sábado (9), fazer com que as Estrelas Negras mantenham o ritmo, a concentração e a intensidade nos movimentos ofensivos e defensivos nos confrontos válidos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo (principalmente contra adversários mais fortes) parece ser o grande desafio de Milovan Rajevac. O time tem talento, mas a impressão que fica é de que falta foco. A equipe de Zimbábue tentou competir quando aproveitou essa queda técnica do seu adversário, mas acabou sucumbindo quando tentou equilibrar a partida na base da técnica.
Vitória importante e que deixa lições para a sequência da competição. Principalmente quando olhamos para o passado recente das Estrelas Negras no cenário mundial. Há talento e peças suficientes para fazer com que essa equipe de Gana repita a campanha da Copa do Mundo de 2010, quando chegou nas quartas de final. Mas até mesmo o técnico Milovan Rajevac (comandante do time naquele Mundial) sabe que o contexto é outro.
🎥 Match Highlights: 🇬🇭 3-1 🇿🇼
2 wins for @ghanafaofficial in the 2022 #WCQ lifts them to 2nd leaving Zimbabwe bottom of group G.#WorldCuppic.twitter.com/8nTGsXpsbT
— CAF (@CAF_Online) October 9, 2021
CONFIRA OUTRAS ANÁLISES DA COLUNA PAPO TÁTICO:
A vitória sem sustos de Camarões sobre Moçambique e as boas ideias de jogo que vêm da África
Novatos da Seleção Brasileira fazem a diferença na vitória sofrida sobre a Venezuela; entenda
Incrível reação diante da Bélgica é a prova de que a França ainda merece (e impõe) muito respeito