Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Solskjaer e Rafa Benítez na partida que abriu a sétima rodada da Premier League
Este que escreve entende perfeitamente que o processo de formação de uma grande equipe exige treinamento, repetição, compreensão mútua entre jogadores e comissão técnica e principalmente tempo. Não basta ter um elenco recheado de estrelas, dar a bola e esperar que as coisas se resolvam como num passe de mágica. Por outro lado, há como se exigir algo além de “mais do mesmo” nesse processo citado acima. Buscar novos caminhos, novas ideias, qualquer coisa que saia da mesmice. É mais ou menos o que vem acontecendo com o Manchester United de Ole Gunnar Solskjaer. O treinador norueguês tem grandes jogadores no seu elenco, mas vem mostrando muitas dificuldades para encaixar seus principais jogadores num time minimamente equilibrado e consistente. E mais: a atuação dos Red Devils contra o Everton só não foi mais trágica porque o gol marcado por Yerry Mina foi anulado pelo VAR por conta de impedimento milimétrico nos minutos finais. Mais uma apresentação ruim. E nem Cristiano Ronaldo se salvou.
FT. A great effort by the lads, who arguably deserved more than the one point. Well played, Blues. 👏
🔴 1-1 🔵 #MUNEVE pic.twitter.com/eCRmD4Su5s
— Everton (@Everton) October 2, 2021
É verdade que o Manchester United nos mostrou algumas das ideias de Solskjaer. Com a bola, Bruno Fernandes avançava para junto de Cavani num desdobramento do 4-2-3-1 para um 4-2-4 mais posicional que sofria com a lentidão do meio-campo e que sentia demais a falta de Pogba distribuindo passes no setor. Sem a bola, a equipe de Old Trafford se fechava em duas linhas na frente da área do goleiro De Gea. É verdade que o time de Solskjaer levava uma certa vantagem nos duelos pelos lados quando se movimentava com mais intensidade e inteligência para bagunçar (pelo menos um pouco) o organizado e compacto 4-4-2/4-4-1-1 do Everton de Rafa Benítez. Mas nada muito além disso. A jogada do gol marcado por Martial (aos 42 minutos do primeiro tempo) foi um desses raros lampejos coletivos. McTominay passou para Greenwood (que veio jogar mais por dentro) arrastando a marcação. O jovem camisa 11 passou para Bruno Fernandes que viu o francês se lançando às costas do lateral Godfrey.
Mesmo assim, a impressão que ficava era a de que o Manchester United dependia quase que completamente do talento individual dos seus jogadores. A lentidão na troca de passes e o posicionamento mais estático dos jogadores de ataque eram os principais problemas de uma equipe travada e sem muitas ideias além de acionar as estrelas do elenco que, por sua vez, começaram a partida no banco de reservas por opção de Solskjaer. Vale lembrar mais uma vez que organização tática (que compreende os movimentos defensivos e ofensivos) e qualidade individual estão diretamente ligadas. Uma não existe sem a outra. E quando vemos o Manchester United em campo, temos a certeza de que a equipe tem potencial para fazer muito mais do que simplesmente passar a bola para Cristiano Ronaldo, Pogba, Bruno Fernandes ou Sancho e esperar que as coisas funcionem como num passe de mágica. Até mesmo os craques precisam de times fortes coletivamente falando para poderem fazer o que sabem.
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O gol do Everton (marcado por Townsend em contra-ataque de manual puxado por Grey e Doucouré) aos 19 minutos do segundo tempo ajudou a escancarar ainda mais os problemas coletivos do Manchester United. O time pouco criava e também marcava muito mal os rebotes dos escanteios e faltas cobradas na área. E por mais que Cristiano Ronaldo e Sancho já estivessem em campo antes dos Toffes abrirem o placar em Old Trafford, o panorama pouco mudou: os Red Devils seguiram com os mesmos problemas mencionados antes e completamente dependentes do brilho individual de alguma das suas estrelas. Por mais que Solskjaer tenha planejado poupar seus principais jogadores e lançado mão deles quando viu a “vaquinha indo para o brejo”, o que se via em campo era uma equipe desorganizada e que dialogava pouco quando tinha a posse da bola. Fora o fato de Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes, Sancho e Greenwood jogarem extremamente afastados uns dos outros. Isso se refletia no baixo número de chances criadas.
Também é preciso dizer que o Everton se fechava bem no 4-4-2 de Rafa Benítez e explorava muito bem o espaço entre o meio-campo e a defesa do Manchester United com passes mais longos buscando Grey, Rondón e Townsend. Ao mesmo tempo, o brasileiro Allan fazia boa partida na proteção da defesa. Ao mesmo tempo, o gol anulado de Yerry Mina também evidenciava a desorganização defensiva do time de Solskjaer. Há como se compreender a falta de tempo para treinar e encontrar o melhor encaixe dos reforços que chegaram há relativamente pouco tempo no Manchester United. O problema, no entanto, está na falta de uma proposta de jogo coletivo, em formas de se organizar ofensivamente e defensivamente e em ideias para extrair o melhor de Cristiano Ronaldo, Pogba e companhia numa equipe com um mínimo de consistência. E nesse aspecto, o trabalho de Ole Gunnar Solskjaer segue muito abaixo do que poderia ser. Ainda mais com tantas opções dentro de um elenco altamente qualificado.
É verdade que ainda estamos na sétima rodada da Premier League e na segunda rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA. Muita coisa ainda pode acontecer e muitas equipes ainda vão oscilar na temporada. Isso é certo. A questão, no entanto, parece ficar muito mais complicada quando Solskjaer simplesmente não consegue implementar um mínimo de trabalho coletivo num Manchester United com tanto potencial e que deixou ótimas impressões no início de temporada. Isso sim é preocupante.
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