Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Roger Machado e a atuação da equipe tricolor no empate contra o Barcelona de Guayaquil
Este que escreve compreende muito bem a irritação do torcedor do Fluminense após a eliminação da equipe na Copa Libertadores da América. O chaveamento era favorável e os comandados de Roger Machado tinham sim condições de eliminar o Barcelona de Guayaquil nos dois jogos das quartas de final da competição. Por outro lado, o empate desta quinta-feira (19) também deixou a sensação de que o Tricolor das Laranjeiras chegou no seu limite dentro do contexto no qual o time está inserido. Há cobranças fortes pela demissão de Roger Machado (o que já era esperado). Mas é preciso chamar a atenção para uma série de outras questões que estão sendo colocadas de lado nesse momento em que o torcedor está de cabeça quente por conta da eliminação e das últimas atuações bem abaixo da média por parte do Fluminense. Compreender esse contexto é fundamental nesse momento pelo qual a equipe tricolor vem passando na temporada.
🆚| #BARxFLU 1-1 | AGG: 3-3
⚽️| Mastriani
⚽️| Fred
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📊 Estatísticas:📈 Posse: 32% – 68%
👟 Finalizações: 16 – 11
✅ Finalizações no gol: 3 – 4
🛠 Grandes chances: 3 – 1
☑️ Passes certos: 204 – 484💯 Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/QllCngrBl3
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) August 20, 2021
É preciso dizer também que o escrete comandado por Roger Machado fez sim um bom primeiro tempo contra o Barcelona de Guayaquil. Ainda que sua equipe tenha jogado num 4-2-3-1 torto para a direita, Yago Felipe protegeu bem o lado esquerdo e liberava Ganso (que vinha de boa atuação até sair de campo lesionado) para encostar em Fred e Luiz Henrique. Mais atrás, Martinelli cuidava da saída de bola e André dava sequência às jogadas acionando Samuel Xavier e Egídio nas laterais. Do outro lado, o time de Fabián Bustos sofria para sair da marcação encaixada e concedia espaços demais na frente da sua área. Fora isso, os volantes Molina e Piñatares demoraram demais para entender a movimentação ofensiva de um Fluminense muito mais vertical do que no jogo de ida e que controlava o jogo em Guayaquil com uma certa facilidade. O problema é que o escrete tricolor não conseguia transformar esse controle em chances de gol.
Roger Machado apostou num 4-2-3-1 torto para a direita com Luiz Henrique se aproximando de Paulo Henrique Ganso e Fred no ataque. Yago Felipe guardava mais sua posição pelo lado esquerdo e ajudava o Fluminense a controlar o jogo contra o Barcelona de Guayaquil, mas sem efetivamente agredir o Barcelona de Guayaquil
O time de Roger Machado sofria muito mais com a execução dos movimentos e das conclusões das jogadas do que propriamente com uma organização tática ruim. Por mais que o meio-campo estivesse mais povoado e preenchido, o Fluminense ainda pecava pela falta de intensidade nos movimentos. Na prática, foram apenas três chances de gol no primeiro tempo: um chute de Luiz Henrique por cima, uma outra finalização de Samuel Xavier defendida por Burrai e a bicicleta de Ganso. Nada além disso. E o mais interessante é que o Fluminense controlava a posse da bola diante de um Barcelona de Guayaquil que apenas esperava o tempo passar com o regulamento debaixo do braço. Mesmo com o escrete comandado por Fabián Bustos concedendo alguns espaços entre suas linhas e mesmo com os jogadores tricolores tendo certa liberdade de circulação no terço final. Faltava agressividade e intensidade ao Fluminense.
O Fluminense conseguiu encontrar espaços entre as linhas do Barcelona de Guayaquil e controlar as ações em boa parte do primeiro tempo, mas não conseguiu transformar essa posse de bola em volume de jogo. Os problemas do time de Roger Machado eram muito mais de execução do que de organização. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Libertadores
É preciso admitir que as críticas ao trabalho de Roger Machado no Fluminense são compreensíveis. O time realmente tinha muitos problemas na criação das jogadas e mostrava para ser mais ofensivo e agressivo quando a situação do jogo pedia algo nesse sentido. Mesmo assim (e como falamos aqui no TORCEDORES.COM várias e várias vezes), é preciso analisar o contexto. As referências técnicas do Tricolor das Laranjeiras são dois jogadores veteranos (Fred e Nenê) e que já não entregam o mesmo desempenho de outros anos e deixavam a pressão pós-perda mais frouxa. A utilização dos dois no mesmo time sobrecarregava o meio-campo, já que os volantes adversários tinham liberdade para aparecer na frente sem serem lá muito incomodados. Tudo isso fazia com que os pontas ficassem mais desgastados e ajuda a explicar porque Roger Machado optou por um esquema com três volantes e Ganso mais próximo de Fred.
Roger Machado no comando do Fluminense por torneios nacionais e internacionais:
⚔️ 29 jogos
✅ 11 vitórias
❌ 9 derrotas
📊 48.3% apv.
⚽️ 35 gols pró
🚫 31 gols sofridos
🛠 56 grandes chances
🔓 50 grandes chances cedidas
📈 47% posseO que está achando do trabalho dele? 🤔 pic.twitter.com/cMg0buccaQ
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) August 20, 2021
A situação do jogo e as lesões de Ganso e Yago Felipe obrigaram o treinador tricolor a voltar ao esquema com dois pontas abertos. Com mais volume de jogo e mais espaço no meio-campo, o Barcelona de Guayaquil aproveitou o cochilo do sistema defensivo do Fluminense para abrir o placar com Mastriani aproveitando belo passe de Hoyos aos 27 minutos do segundo tempo. O lance mostra muito bem como nenhum dos volantes do Fluminense tentou diminuir o espaço do camisa 7 do Barcelona de Guayaquil e como a última linha estava desestruturada. Essa falta de intensidade do Tricolor das Laranjeiras foi fatal no jogo de ida e fez a diferença na partida desta quinta-feira (19). Se o time de Roger Machado fez uma boa primeira etapa, as saídas de Yago Felipe e Ganso praticamente destruíram o planejamento do treinador. Fred ainda empatou a partida nos acréscimos, mas já era tarde de mais para qualquer reação.
As saídas de Yago Felipe e Paulo Henrique Ganso praticamente destruíram o planejamento de Roger Machado. A formação com dois pontas abriu espaços no meio-campo e deu espaços que o Barcelona de Guayaquil soube aproveitar muito bem, além de escancarar a falta de intensidade do Fluminense. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Libertadores
Por mais que o trabalho de Roger Machado tenha problemas, a sensação que ficou do novo empate com o Bacelona de Guayaquil foi a de que o Fluminense chegou até onde poderia chegar nessa Libertadores. Mesmo tendo forças para ir um pouco mais além por conta do chaveamento favorável. E não há como se avaliar o trabalho do treinador sem levar em consideração as lesões de jogadores importantes como Caio Paulista e Gabriel Teixeira, a má fase de Nenê e todas as “gambiarras” que precisavam ser feitas para compensar a falta de combatividade dos mais veteranos. A escalação de três volantes deu mais consistência ao meio-campo, mas não resolveu o grande problema do Fluminense nesses últimos meses: a falta de intensidade nas transições ofensivas e defensivas. Roger Machado deve sim ser questionado e cobrado. Mas é meio complicado exigir ainda mais de um elenco muito mais modesto do que o dos outros clubes que disputam a Libertadores.
É possível que a diretoria do Fluminense opte pela troca no comando da equipe pensando na sequência da temporada, na recuperação do time no Brasileirão e nas quartas de final da Copa do Brasil. Por outro lado, diante de tudo o que se viu aqui, a sensação de que o Tricolor das Laranjeiras “bateu no teto” fica muito mais forte. E não será uma simples troca de técnicos que irá resolver todos os problemas.
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