Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação das Palestrinas contra as Meninas de Aço e as escolhas do técnico Ricardo Belli
No último dia 16 de maio, a equipe do Santos já havia mostrado o caminho para frear o ótimo time do Palmeiras. Linhas fechadas, muita velocidade nas transições e muitas bolas longas para a correria das atacantes na intermediária adversária. Não é possível afirmar o quanto o empate sem gols na Vila Belmiro influenciou na escolha da estratégia da equipe comandada por Igor Morena neste domingo (23) em jogo válido pela nona rodada do Brasileirão Feminino contra o mesmo Palmeiras. As Palestrinas venceram por 1 a 0 (com gol marcado por Bia Zaneratto aos 42 minutos do primeiro tempo), mas a atuação das Meninas de Aço acabou escancarando as dificuldades que o escrete de Ricardo Belli tem em encontrar espaços e soluções contra adversários mais fechados na sua defesa. Por mais que o Palmeiras seja bem superior ao Bahia, ficou claro que a equipe nordestina criou vários problemas e incomodou bastante.
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Ricardo Bello escalou o Palmeiras no seu 4-4-2 costumeiro. Bia Zaneratto e Duda Santos se movimentavam bastante no terço final e contavam com as chegadas de Ary Borges e Camilinha pelos lados e com o apoio constante de Bruna Calderan pela direita. O problema é que o Bahia simplesmente “estacionou um ônibus” na frente da área da goleira Anna Bia (o principal nome do jogo no Allianz Parque). Fabi Sandoval, Roqueline e Esquerdinha se juntavam à linha defensiva numa espécie de 6-2-2 bem fechado e que negava quase todos os espaços possíveis. Não demorou muito para que as Palestrinas começassem a rodar a bola de um lado para outro sem que a equipe paulista conseguisse ser tão agressiva nas tramas ofensivas. É verdade que as Meninas de Aço adotaram uma postura mais pragmática diante de um adversário muito mais qualificado. Mas é preciso reconhecer que o Bahia criou dificuldades e ainda arriscou alguns contra-ataques.
Fabi Sandoval, Roqueline e Esquerdinha se juntaram ao sistema defensivo e fecharam o Bahia numa espécie de 6-2-2. O Palmeiras tinha presença no ataque, rodava a bola de um lado para outro, mas esbarrava no “ônibus” estacionado na frente da área tricolor. Foto: Reprodução / MyCujoo
Faltava ao Bahia, no entanto, a força ofensiva para transformar esses (poucos) contra-ataques em chances reais de gol. Na prática, as Meninas de Aço quase não ameaçaram a goleira Jully. Isso porque o Palmeiras mantinha um mínimo de organização na sua última linha e ainda contava com a dupla Júlia Bianchi e Thaís na organização da saída de bola e com a ótima Katrine fazendo mais uma boa partida pela esquerda aparecendo por dentro como lateral-construtora. Até Bia Zaneratto abrir o placar aos 42 minutos da primeira etapa (após belo cruzamento da camisa 5 Palestrina), a goleira Anna Bia já havia realizado pelo menos três grandes defesas e as Meninas de Aço se mostravam satisfeitas com o resultado parcial no Allianz Parque. Tanto que a marcação do escrete de Igor Morena permanecia em bloco baixo com pelo menos uma jogadora do meio-campo tricolor voltando para fechar os espaços na frente da área.
O Palmeiras tinha a posse da bola e espaço para organizar as jogadas de ataque, mas esbarrava no bloco baixo de marcação do Bahia de Igor Morena. O sufoco só passou quando Júlia Bianchi encontrou Bia Zaneratto atacando o espaço no lance do único gol da partida. Foto: Reprodução / MyCujoo
Vale destacar aqui que a postura do Palmeiras não mudou no segundo tempo. Os obstáculos, no entanto, continuaram sendo a forte retranca do Bahia e a grande atuação da goleira Anna Bia. Camilinha, Ary Borges e Duda Santos seguiam se movimentando muito, mas pouco conseguiam bagunçar a última linha das Meninas de Aço. Bia Zaneratto poderia ter aumentado o placar em cobrança de pênalti, mas a camisa 1 das Meninas de Aço estava lá (mais uma vez) e protagonizou grande defesa. Diante das dificuldades que sua equipe apresentava, Ricardo Belli mandou Dandara, Carol Baiana, Chú, Rafa Andrade e Karol Arcanjo para o jogo, mas o panorama não mudou. Igor Morena manteve seu anacrônico 6-2-2 e as Meninas de Aço seguiram fechando todos os espaços na frente da área, mas sem força para tentar os contra-ataques. E quando a bola passava pela última linha, Anna Bia estava lá para salvar a pátria tricolor com boas defesas.
Ricardo Belli fez as cinco substituições, manteve a postura ofensiva, mas viu o Palmeiras esbarrar no forte bloqueio defensivo do Bahia na partida. O técnico Igor Morena manteve o 6-2-2 à frente da área e deu a impressão de estar satisfeito com a derrota pelo placar mínimo. Foto: Reprodução / MyCujoo
Por mais que as Meninas de Aço tenham conseguido segurar a forte equipe do Palmeiras em boa parte do jogo no Allianz Parque, o que fica no final de tudo é o resultado negativo e o jejum de vitórias no Brasileirão Feminino. É nítido que jogadoras e comissão técnica do Bahia sentiram demais as diferenças entre a Séries A1 e A2 e o alto nível de exigência da elite da modalidade no país. Anna Bia, Esquerdinha, Roqueline e Fabi Sandoval são jogadoras de qualidade, mas poderiam render muito mais em outro contexto. Do outro lado, o Palmeiras de Ricardo Belli teve seus problemas escancarados mais uma vez. É mais do que natural que as equipes da parte de baixo da tabela joguem mais fechadas e dificultem a vida do escrete paulista. A função da comissão técnica é, justamente, se adaptar a cada situação que o jogo pede. Além disso, as Palestrinas precisam de mais calma e frieza nos momentos decisivos.
Não foi a primeira e nem será a última vez que o Palmeiras vai enfrentar equipes fechadas na defesa. Cada um usa as opções que têm à disposição para tentar arrancar alguns pontos dos times que brigam pelo título do Brasileirão Feminino. É do jogo. O Bahia até conseguiu mostrar uma certa consistência e incomodou, mas não teve a força que (por exemplo) o Santos teve para criar dificuldades para as Palestrinas na defesa. É um ponto que merece a atenção de Ricardo Belli.
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— Esporte Clube Bahia (@ecbahia) May 24, 2021
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