Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do time de Maurício Souza e os problemas do escrete de Marcelo Chamusca
É preciso sempre lembrar que a temporada ainda está no início e que muitos dos nossos clubes praticamente não tiveram tempo para praticamente nada. Equipes com o poderio financeiro do Flamengo podem se dar ao luxo de descansar os titulares e apostar em jogadores pouco aproveitados e jovens promessas da base. Já times como o Botafogo ainda sofrem com oscilações naturais por conta do início de um processo de reconstrução profundo no clube. Por outro lado, a derrota para o escrete comandado por Maurício Souza expôs os pontos fracos do Glorioso e as (claras) dificuldades que o técnico Marcelo Chamusca ainda tem em fazer sua equipe propôr o jogo no Estádio Nilton Santos. Tudo dentro de uma normalidade até certo ponto aceitável e natural dentro do contexto do Campeonato Carioca, mas que ainda merecem atenção e de ajustes por parte da comissão técnica alvinegra nos próximos dias.
Nem mesmo com a saída do atacante Pedro no início do jogo diminuiu o ímpeto ofensivo e o volume de jogo de um Flamengo que mantinha o ataque posicional das últimas partidas com Vitinho e Michael pelos lados, Matheuzinho avançando como ponta pela direita, Pepê organizando as jogadas no meio-campo e com Hugo Moura e João Gomes se revezando no apoio ao ataque. Na prática, um 4-2-3-1 que se desdobrava num 4-3-3 e num 3-2-5 conforme a movimentação dos jogadores na intermediária do Botafogo. Este, por sua vez, sofria para bloquear espaços e bloquear as saídas de um adversário superior tecnicamente e mais organizado dentro de campo. O time de Marcelo Chamusca sofria com a falta de compactação e com o espaço às costas dos laterais Jonathan e Paulo Victor. Era nítida a falta de consistência defensiva de um Glorioso que passava pelo seu segundo grande teste na temporada de 2021.
O Flamengo ocupava o campo de ataque e explorava bem os espaços na defesa do Botafogo gerando amplitude e profundidade com muita movimentação do quarteto ofensivo. Os laterais Jonathan e Paulo Victor deixavam muitos espaços às suas costas e sobrecarregavam zagueiros e volantes. Foto: Reprodução / YouTube / Cariocão TV
O gol marcado por Rodrigo Muniz ainda expôs outro problema do escrete comandado por Marcelo Chamusca. O Botafogo tinha muita dificuldade para manter a bola no ataque e tentar fazê-la chegar nos pés de Matheus Babi, Marcinho e Warley. A estratégia do treinador alvinegro era clara: se fechar em duas linhas na frente do bom goleiro Douglas Borges e sair em alta velocidade nos contra-ataques. O problema aqui é que nem José Welison, nem Matheus Frizzo e nem Rickson conseguiram dar um mínimo de consistência ao meio-campo do Botafogo. Ao mesmo tempo, Hugo Moura e João Gomes pisavam na área a todo momento. Vitinho, Michael e Rodrigo Muniz (substituto de Pedro) empurravam a zaga alvinegra para trás e abriam ainda mais espaços. Matheuzinho, Renê e os já citados volantes rubro-negros encontravam muito espaço entre as linhas do Glorioso. A falta de compactação era facilmente percebida no time comandado por Chamusca.
Vitinho, Michael e Rodrigo Muniz empurravam a zaga do Botafogo para trás e abriam espaços entre as linhas do adversário desta quarta-feira (24). Ao mesmo tempo, Hugo Moura, João Gomes, Matheuzinho e René apareciam na intermediária com frequência para dar opção de passe. Foto: Reprodução / YouTube / Cariocão TV
Os problemas do Botafogo não estão apenas no sistema defensivo. Mesmo com todos os jogadores em campo, foi possível notar que todo o time foi tirado da sua “zona de conforto” por um adversário superior tecnicamente. Ronald e Felipe Ferreira não tinham com quem jogar e se limitavam a levantar bolas na área procurando Matheus Babi. Muito pouco para quem vinha fazendo apresentações consistentes não faz muito tempo e para quem precisa elevar o nível das atuações às vésperas da disputa do Brasileirão da Série B. Só que o gol marcado por Hugo Moura (quando Kanu já havia sido justamente expulso) praticamente acabou com o que sobrou do ânimo de um Glorioso que se via sem ter muito o que fazer dentro de campo. Enquanto Maurício Souza via o Flamengo dominar cada espaço do gramado do Estádio Nilton Santos, Marcelo Chamusca se via sem soluções para os problemas do seu Botafogo.
Mesmo com todos os jogadores em campo, o Botafogo tinha muitas dificuldades para fazer a bola chegar no ataque com um mínimo de qualidade. A sensação que fica é a de que o setor ofensivo também sofre com os problemas de posicionamento e de tomadas de decisão no campo ofensivo. Foto: Reprodução / YouTube / Cariocão TV
Este que escreve tem suas dúvidas se o choque entre Renê e Matheus Babi era motivo suficiente para que o árbitro Mauricio Machado Coelho Junior assinalasse pênalti a favor do Botafogo. Ao mesmo tempo, a expulsão de Kanu (ocorrida no lance seguinte) poderia ter sido evitada se a infração tivesse sido marcada. Seja como for, a grande verdade é que Marcelo Chamusca está coberto de razão quando fala que o Glorioso precisa melhorar seu desempenho. Seu segundo grande teste na temporada (o primeiro foi contra o Vasco no último final de semana) mostrou que a equipe ainda precisa de mais consistência e de uma formação ideal para a sequência da temporada. Enquanto o Flamengo já tem consolidada a sua maneira de jogar (e vai descobrindo ótimas opções nas suas vitoriosas categorias de base), o escrete da Estrela Solitária ainda está em formação e as oscilações (todas elas absolutamente naturais) vão acontecer.
Apesar da derrota no clássico (a primeira sob o comando de Marcelo Chamusca), é preciso reconhecer que o saldo é positivo no Botafogo. Ainda mais quando se sabe que a equipe alvinegra conseguiu recuperar o ânimo de outros tempos. Há uma ideia de jogo bem clara sendo colocada em prática e isso leva tempo. O Glorioso pode chegar longe se mantiver os nervos no lugar e entender todo esse processo mais do que necessário.
Os números do jogo!
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— Flamengo (@Flamengo) March 25, 2021
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