Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória dos comandados de Rogério Ceni sobre o Internacional de Abel Braga
Não foi uma grande partida de futebol, é verdade. O nervosismo e a afobação se fizeram presentes em vários momentos muito por conta do que estava em jogo neste domingo (21), no Maracanã. Mas quem riu por último na “decisão antecipada” do Campeonato Brasileiro foi o Flamengo de Rogério Ceni. Não é exagero afirmar que virada sobre o Internacional de Abel Braga ficou marcada pelas decisões confusas do árbitro Raphael Claus e pela intervenção do VAR em pelo menos dois lances capitais. Mas reduzir a atuação de Bruno Henrique, Gabigol, Arrascaeta e companhia a isso é fechar os olhos para a sólida atuação coletiva e para a concentração do escrete rubro-negro nos momentos decisivos. Principalmente quando o Internacional abriu o placar com Edenílson convertendo penalidade sofrida por Yuri Alberto. Mesmo sem ser brilhante, o Flamengo foi extremamente competitivo e está a apenas dois passos do paraíso.
Todo mundo já sabia qual seriam as posturas de Fla e Inter antes mesmo da bola rolar no Maracanã. Enquanto os donos da casa tentariam ocupar o campo de ataque, o escrete comandado por Abel Braga iniciou o jogo exercendo uma forte pressão na defesa rubro-negra. A formação básica também não mudou: Rogério Ceni manteve seu 4-4-2/3-4-2-1 com Filipe Luís mais preso como um “lateral/zagueiro”, Isla e Bruno Henrique abriam o campo, Everton Ribeiro e Arrascaeta circulavam no espaço entre o meio e a defesa e Gabigol dava profundidade ao time. Do outro lado, o Internacional jogava no 4-1-4-1 costumeiro de Abel Braga com Rodrigo Dourado “regendo” a marcação na frente de Zé Gabriel e Lucas Ribeiro, Edenílson e Patrick muito intensos nas transições, Rodinei e Moisés apoiando constantemente e buscando Yuri Alberto e Caio Vidal no ataque. Era praticamente um jogo de xadrez.
O Flamengo forçava o jogo mais pela esquerda com Bruno Henrique e Arrascaeta forçando o erro de Rodinei e com Isla abrindo o campo pelo outro lado. Já o Internacional aproveitava os espaços no meio-campo e a atuação insegura de Gustavo Henrique na cobertura para colocar muita intensidade nas transições para o ataque.
A tal “decisão antecipada” tinha tudo para ser uma grande partida de futebol, mas não foi exatamente o que se viu no Maracanã. Nem Flamengo e nem Internacional conseguiam colocar em prática as suas estratégias com a qualidade desejada. Os comandados de Rogério Ceni sofriam demais com a falta de compactação e com uma lentidão absurda na recomposição defensiva no início da partida. Não foram poucas as vezes em que a última linha ficou exposta para a velocidade de um Internacional um pouco mais ligado em campo. Caio Vidal se alinhava a Yuri Alberto e puxava a marcação de Gustavo Henrique na zaga, Edenílson e Rodinei forçavam o jogo em cima de Filipe Luís e Patrick e Moisés faziam o mesmo pelo outro lado. Abel Braga percebeu que os espaços existiam e entendeu que precisava colocar intensidade nos movimentos para chegar aos gols que tanto queria. Faltou caprichar mais nas conclusões a gol.
O Internacional começou a partida explorando muito bem os (muitos) espaços entre as linhas do Flamengo. Caio Vidal e Yuri Alberto davam profundidade ao ataque, Edenílson e Patrick se juntavam aos laterais Rodinei e Moisés e forçavam o jogo em cima de Filipe Luís e Isla. Foto: Reprodução / TV Globo
Já falamos anteriormente que, gostem os torcedores do Flamengo ou não, Rogério Ceni vem conseguindo melhorar o desempenho da sua equipe. Aliás, vale destacar a concentração e a força mental dos jogadores rubro-negros após o gol marcado por Edenílson aos 11 minutos da primeira etapa. Não era raro ver o Fla se desmanchando em campo ao menor obstáculo. Só que as coisas foram diferentes nesse domingo (21). A equipe manteve a estratégia e foi tocando a bola em busca de espaços. Numa das primeiras vezes em que acelerou o jogo, Flipe Luís achou Bruno Henrique na esquerda, este se livrou de Rodinei e passou para Arrascaeta escorar para o gol de Marcelo Lomba aos 28 minutos. O início do lance, no entanto, mostra que a formação utilizada por Rogério Ceni foi a responsável por abrir espaços na defesa do Internacional. Principalmente pelo lado esquerdo, com BH27, Arrascaeta e Filipe Luís.
Everton Ribeiro e Arrascaeta buscavam o espaço entre as linhas do Internacional, Gabigol dava profundidade às jogadas de ataque, Bruno Henrique saía da esquerda para dentro e Isla abria o campo do outro lado. Rogério Ceni conseguiu melhorar o desempenho do Flamengo usando as características dos seus jogadores. Foto: Reprodução / TV Globo
O Flamengo foi mantendo o padrão de jogo, mas seguia sofrendo com os problemas na recomposição defensiva. Tanto que o Internacional ainda desperdiçou grande chance fazer o segundo com Rodinei acertando a trave direita de Hugo nos minutos finais da primeira etapa. Isso até a expulsão do lateral colorado aos três minutos do segundo tempo. Há como se discutir se o árbitro Raphael Claus foi rigoroso demais ao aplicar o cartão vermelho logo de cara. Mas o que ninguém discutia era o fato de que a zaga do Internacional (formada por Lucas Ribeiro e Zé Gabriel) também sofria com a movimentação de Gabigol e Bruno Henrique. A entrada de Pedro no lugar de Isla (ainda que um pouco precipitada na visão deste que escreve) ajudou a empurrar a defesa colorada para trás e a abrir o espaço onde o camisa 9 recebeu o belíssimo passe de Arrascaeta no lance do gol da virada rubro-negra.
Pedro, Gabigol e Bruno Henrique se lançam ao ataque e empurram a zaga do Internacional para trás. Arrascaeta percebe o camisa 9 se lançando entre Lucas Ribeiro e Zé Gabriel e faz o passe certeiro. A zaga colorada já sofria para fechar os buracos na última linha antes mesmo da expulsão de Rodinei. Foto: Reprodução / TV Globo
Se a expulsão de Rodinei é discutível, é impossível não concluir que Raphael Claus pode ter dado aquela famosa “compensada” ao anular belo gol de Pedro após disputa com Lucas Ribeiro aos 47 minutos do segundo tempo. Este que escreve viu muito mais corpo mole do zagueiro do Internacional do que um empurrão do camisa 21. Seja como for, o resultado final deixa o Flamengo a dois passos do paraíso. E por mais que o torcedor ainda critique Rogério Ceni, é preciso reconhecer que o treinador vem conseguindo tirar o melhor do seu elenco (extremamente qualificado) na hora certa. A entrada de Diego Ribas deu mais mobilidade e qualidade no passe, Gerson cresceu demais nessa reta final e vem jogando o fino da bola e Arrascaeta segue extremamente decisivo. Em tempo: a equipe rubro-negra sentiu demais a falta de Willian Arão na zaga. Gustavo Henrique ainda precisa recuperar a confiança.
O Flamengo parece ter recuperado pelo menos parte da consistência e da força mental de outros tempos nem tão longínquos assim. A maneira como o time reagiu ao gol de Edenílson mostrou que os nervos estão mais controlados e que Rogério Ceni vem melhorando o desempenho da equipe sim (apesar das críticas). Por outro lado, somente depois do jogo contra o São Paulo (algoz do Fla na Copa do Brasil) é que vamos poder dizer se essa arrancada final valeu a pena.
#Brasileirão 🇧🇷
🆚| #FLAxINT 2-1
⚽️| Arrascaeta e Gabigol
⚽️| Edenilson
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📊 Estatísticas:📈 Posse: 59% – 41%
👟 Finalizações: 10 – 12
✅ Finalizações no gol: 4 – 3
🛠 Grandes chances: 1 – 1
☑️ Passes certos: 388 – 229💯 Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/FYKefqgKvO
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) February 21, 2021
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