Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o empate entre colchoneros e bávaros pela Liga dos Campeões da UEFA
Uma das frases mais manjadas e batidas do futebol mundial é de autoria do grande Muricy Ramalho: a bola pune. E quem aprendeu isso (da pior maneira) nesta terça-feira (1) foi o Atlético de Madrid. Em situação complicada no Grupo A da UEFA Champions League, os comandados de Diego Simeone precisavam vencer o atual campeão Bayern de Munique dentro do Wanda Metropolitano para garantir a vaga nas oitavas de final logo de uma vez. Apesar do bom primeiro tempo, os colchoneros foram castigados pelo recuo excessivo nos 45 minutos finais e acabaram tendo que se contentar com o empate em 1 a 1 (com gols de João Félix e Thomas Müller). A classificação para a próxima fase ainda é possível, mas o Atlético de Madrid terá que jogar aquilo que deixou de jogar no segundo tempo se não quiser levar sustos novamente. Ainda mais tendo que medir forças com o RB Salzburg na Áustria.
HT | Atleti are in front!
The hosts have been in complete control against Bayern's second string side so far and deservedly lead 1:0 after the first 45'.
They'll secure 2nd place in this group if they hold on to win!#AtletiFCB #UCL pic.twitter.com/7RMrYsIVTB
— Sofascore (@SofascoreINT) December 1, 2020
Os números do SofaScore (ver os tweets ao longo desta humilde análise) mostram que os colchoneros fizeram um grande primeiro tempo no Wanda Metropolitano. A começar pela formação escolhida por Diego Simeone: um 4-4-2 que se transformava num 5-3-2 com Mario Hermoso como “lateral-zagueiro” pela esquerda e com Carrasco aparecendo como ala na linha de cinco defensores. Com a posse da bola, o Atlético de Madrid se trasformava numa equipe extremamente vertical e envolvente com a constante movimentação de João Félix, Llorente e Ángel Correa entre as linhas do Bayern de Munique. É bem verdade que o escrete comandado por Hans-Dieter Flick (já classificado para as oitavas de final da Liga dos Campeões) era formado essencialmente por reservas. Mas nada apaga a boa atuação dos colchoneros. Intensidade nas transições, boa ocupação dos espaços e muita velocidade na frente.
Diego Simeone apostou numa variação do seu costumeiro 4-4-2 para o 5-3-2 com Hermoso mais preso e Carrasco fazendo o papel de ala pela esquerda. O Atlético de Madrid fez um bom primeiro tempo diante de um Bayern de Munique repleto de reservas e que demorou muito para se encontrar dentro de campo no 4-2-3-1 de Hans-Dieter Flick.
É preciso dizer que o Atlético de Madrid cometeu dois grandes erros diante do Bayern. Além de não ter aproveitado as chances criadas nos primeiros 45 minutos (e construir uma boa vantagem diante de uma equipe que certamente mudaria de postura após o intervalo), os colchoneros recuaram demais e deram o campo que seu adversário queria. As entradas de Gnabry e Thomas Müller nos lugares de Arrey-Mbi e Javi Martínez (respectivamente) mudou o rumo da partida no Wanda Metropolitano. Os números do SofaScore mostram bem esse crescimento de produção do escrete bávaro nos 45 minutos finais, sempre variando bem o jogo e forçando o erro na saída de bola sem permitir que seu adversário respirasse. Do outro lado, Diego Simeone seguiu isolando João Félix no ataque com as suas substituições mais conservadoras e trocando o ofensivo Ángel Correa por Herrera.
FT | It ends a draw!
Our Attack Momentum shows Atlético seemed content with their 1:0 half-time lead and it came back to bite them, as Thomas Müller scored a penalty in the 86th minute to make it 1:1.
Atleti now mustn't lose in Salzburg in the last round! #AtletiFCB #UCL pic.twitter.com/gdJBwOTXoc
— Sofascore (@SofascoreINT) December 1, 2020
O Atlético de Madrid teve suas chances de abrir o placar no início do segundo tempo com João Félix (em chute que explodiu no travessão) e com boas descidas de Carrasco pelo lado esquerdo (fato que fez com que Hans-Dieter Flick mandasse Chris Richards para o jogo no lugar de Bouna Sarr para reforçar a marcação naquele setor). No entanto, os colchoneros pouco fizeram até aos 40 minutos, quando o Bayern de Munique conseguiu o gol de empate com o pênalti cometido pelo zagueiro Felipe em cima de Thomas Müller. O mesmo camisa 10 cobrou com perfeição e não deu chances de defesa para o bom goleiro Oblak. Um prêmio para a aplicação do escrete bávaro (e para as boas mexidas do seu treinador) e um castigo para a falta de competitividade do Atlético de Madrid. É como Muricy Ranmalho costuma dizer. A bola pune. E com requintes de crueldade em certos casos.
Hans-Dieter Flick percebeu o recuo do seu adversário no segundo tempo e mandou o Bayern de Munique ao ataque com as entradas de Gnabry e Thomas Müller nos lugares de Arrey-Mbi e Javi Martínez. Já o Atlético de Madrid foi recuando e dando o campo que os bávaros queriam para criar suas jogadas de ataque sem se preocupar muito com a defesa. Erro fatal.
O Atlético de Madrid tinha a faca e o queijo na mão para despachar o poderoso Bayern de Munique, mas vacilou muito no segundo tempo por conta dos motivos já colocados anteriormente. E a impressão que fica é que os colchoneros sempre acabam ficando no “quase”. A equipe faz boas partidas, mas o recuo excessivo depois de marcar um ou dois gols acaba sendo um dos grandes problemas do time de Diego Simeone. Do lado do Bayern de Munique (que já entrou em campo classificado para as oitavas de final), ficam as boas impressões deixadas pelos jovens jogadores que entraram em campo nesta terça-feira (1). No entanto, foi nítida a diferença de rendimento quando os titulares Gnabry e Thomas Müller foram para o jogo. Aliás, não é exagero nenhum afirmar que o escrete bávaro ainda é o grande favorito ao título da Liga dos Campeões da UEFA de 2020/21.
É verdade que a vida dos comandados de Diego Simeone não está tão complicada. Basta um empate contra o RB Salzburg na Áustria para que os colchoneros se garantam nas oitavas de final. Mas a pergunta que fica é a seguinte: qual é o Atlético de Madrid que vamos ver em campo daqui pra frente? O do primeiro tempo contra o Bayern ou o do segundo tempo? Ter a faca e o queijo na mão e não aproveitar costuma gerar consequências complicadíssimas. Ainda mais na Liga dos Campeões.
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