Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da Albiceleste contra o Paraguai nesta quinta-feira (12)
Por mais que a Seleção Argentina esteja na bronca com o árbitro brasileiro Raphael Claus, é preciso dizer que os problemas da equipe comandada por Lionel Scaloni vão muito além dos erros de quem opera o VAR ou do rendimento de Messi. O empate com o Paraguai dentro da Bombonera nos mostraram que a Albiceleste ainda encontra muitas dificuldades para furar defesas mais organizadas e que ainda precisam se livrar da dependência do seu camisa 10, capitão e principal jogador. Do outro lado, o escrete comandado por Eduardo Berizzo (mais um treinador inspirado pelo Newell’s Old Boys de Marcelo Bielsa) fez partida correta diante do contexto apresentado antes da bola rolar em Buenos Aires. Fechou os espaços, encaixotou Messi e ainda levou perigo ao gol de Armani com muita velocidade pelos lados do campo com Ángel Romero (aquele mesmo) e Almirón.
Lionel Scaloni armou a Seleção Argentina com Messi mais solto partindo do lado direito para dentro e se juntando a Lautaro Martínez no comando de ataque. O 4-3-3 se fechava num 4-4-2 em duas linhas com Ocampos e De Paul fechando os lados e Paredes protegendo a entrada da área. O grande problema estava na falta de intensidade nas transições e nos espaços deixados às costas dos laterais Montiel e Nicolás González (talvez o melhor em campo pela Albiceleste). Só que o Paraguai de Eduardo Berizzo levava certo perigo mesmo adotando uma postura bem pragmática ao abrir mão da posse da bola para acelerar nos contra-ataques. O gol marcado por Ángel Romero (em penalidade sofrida por Almirón na metade do primeiro tempo) não só colocava o time visitante na frente como escancarava a falta de ideias e a “messidependência” dos comandados de Lionel Scaloni.
A Argentina tinha a posse da bola, variava as jogadas, mas não encontrava espaços para chegar ao gol defendido por Antony Silva. O Paraguai marcava forte e ainda acelerava bastante nos contra-ataques com bolas longas para Almirón, Lezcano e Ángel Romero às costas de laterais e zagueiros portenhos.
E aí voltamos a Messi. É mais do que natural que todas jogadas de ataque na Argentina passem pelos seus pés. O grande problema estava no restante da equipe portenha. Lautaro Martínzez não correspondeu às expectativas mais uma vez, Ocampos parecia perdido no lado esquerdo e Montiel não avançou tanto ao ataque como faz no River Plate. Ao mesmo tempo, o camisa 10 sofria com a marcação encaixada e era muito bem vigiado por Junior Alonso, Gustavo Gómez, Villasanti e Almirón. Com a chamada “zona Messi” congestionada e com jogadores rápidos nos contra-ataques, o técnico Eduardo Berizzo conseguiu fazer com que o Paraguai criasse alguns problemas para a defesa da Albiceleste com Lezcano e Giménez arriscando chutes de longa distância. E tudo isso ao mesmo tempo em que forçava o erro de Messi e anulava o principal jogador do escrete adversário. Não é pouca coisa.
¡Que elegancia, Lionel! 📸😍#EliminatoriasSudamericanas pic.twitter.com/RtLnFoh3kN
— CONMEBOL.com (@CONMEBOL) November 13, 2020
O gol marcado por Nicolás González no final da primeira etapa devolveu um pouco de confiança aos comandados de Lionel Scaloni. Tanto que a Argentina voltou com outra postura do intervalo e foi empurrando o Paraguai para seu campo. Mas foi a partir dos primeiros minutos do segundo tempo que as coisas começaram a desandar. Primeiro com as oportunidades incríveis que Lautaro Martínez não aproveitou. Depois com o gol de Messi anulado pelo VAR por falta cometida no início do lance (em mais uma decisão amplamente discutível de Raphael Claus). A entrada de Di María no lugar de Ocampos deixou a Albiceleste mais consistente no ataque, mas ainda sem a intensidade necessária para furar o bloqueio defensivo do seu adversário que apenas se fechava na frente da sua área e aguardava o apito final. Messi tentou de todos os jeitos, mas não conseguiu ser efetivo.
A Argentina melhorou no segundo tempo com o recuo do Paraguai, mas o técnico Lionel Scaloni viu Lautaro Martínez falhar demais nas conclusões e Messi errar mais do que o esperado. Faltou intensidade nos movimentos diante de um adversário que abriu mão da posse de bola e do direito de atacar.
Apesar da clara interferência do cada vez mais enrolado Raphael Claus, a grande verdade é que a Argentina de Lionel Scaloni pode e deve produzir mais dentro de campo. O elenco é bom, possui jogadores de muita qualidade individual e que podem render muito mais em campo. Principalmente Lautaro Martínez, o principal nome da mais nova geração de atletas da Albiceleste. É exatamente por isso que o primeiro ingrediente para se acabar com a “messidependência” na Seleção Argentina é o fortalecimento do jogo coletivo da equipe. E aqui ainda vai um outro adendo: os números do SofaScore mostram que a Albiceleste teve posse de bola, criou mais oportunidades, mas finalizou mal a gol. Das 15 conclusões a gol, apenas cinco foram na direção do gol de Antony Silva. Por mais que o VAR tenha atrapalhado, o escrete portenho pode e deve melhorar muito.
Mais do que nunca, a atuação ruim de toda arbitragem (de Raphael Claus ao VAR) não pode esconder os problemas do time comandado por Lionel Scaloni. Ainda mais quando a Seleção Argentina segue refém do futebol de Messi sem mostrar muitas alternativas dentro de campo. E isso sem falar nos erros nas conclusões a gol. É possível fazer a Albiceleste jogar mais e melhor nessas Eliminatórias da Copa do Mundo.
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