Home Mídia Esportiva Tiago Nunes declara que esperava reforços de “nível europeu” e revela detalhes das dispensas de Jadson e Ralf

Tiago Nunes declara que esperava reforços de “nível europeu” e revela detalhes das dispensas de Jadson e Ralf

Ex-treinador do Corinthians deu longa entrevista à ESPN, onde também lamentou a ausência da torcida e a falta de equilíbrio entre ataque e defesa

Flavio Souza
Formado em Gestão de TI e cursando Jornalismo. Desde 2006 escrevo sobre esportes em geral, ingressando em dezembro de 2018 no site Torcedores.com, onde atualmente exerço função de Colaborador Sênior. Atualmente meu foco é no futebol brasileiro e internacional, mas procuro falar sobre outras modalidades, como esportes olímpicos, por exemplo. Meu foco é trazer informações relevantes sobre os clubes fora de campo, como entrevistas, análises financeiras, desempenho das equipes em redes sociais e análises táticas.

Ex-treinador do Corinthians deu longa entrevista à ESPN, onde também lamentou a ausência da torcida e a falta de equilíbrio entre ataque e defesa

Nesta terça-feira (6), Tiago Nunes deu entrevista ao programa “Futebol Na Veia” da “ESPN”. Em sua primeira aparição pública após sua demissão, o ex-treinador do Corinthians respondeu diversas perguntas falando sobre sua passagem pelo clube. Questionamentos sobre mudanças, seu trabalho e , óbvio, sobre a dispensa de Jadson e Ralf.

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Em quase uma hora de entrevista, Nunes não fugiu de nenhuma das perguntas. Além disso, foi possível esclarecer diversas ‘pontas soltas’ que estavam no ar desde sua saída do Timão. Confira os principais trechos.

Dispensa de Ralf e Jadson e reforços

“Acabou vindo para mim essa responsabilidade porque o Corinthians me deu autonomia para tal. Os dois estavam em uma lista de outros 50 jogadores que a gente elegeu por um perfil tático e técnico que queríamos implementar. E para essas ideias a gente não queria contar com os dois. Falei isso para a direção e para o grupo de atletas.

Mas a forma como os atletas foram comunicados, de que forma, isso não é o treinador que faz. Até porque não foi me pedido isso. Fica meu respeito, sei da polêmica por conta da dispensa, mas em nenhum momento eu senti que desrespeitei os dois. Claro que eles poderiam ser úteis, são atletas de grande qualidade, mas acho que ser útil é muito pouco para o Corinthians.

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Eu estava pensando em atletas que poderiam ser titulares absolutos, não só do Corinthians, mas do City, Chelsea, Real Madrid, Barcelona e Flamengo. Esse perfil que eu pensei. Porque ser útil é até um desrespeito com a carreira dos atletas”.

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Mudanças na forma do Corinthians jogar

“Tem coisas que precisam ser direcionados à direção, não a mim. O trabalho foi muito transparente. Cobramos quem tinha que cobrar e elogiamos quem tinha que elogiar. Fomos honestos de maneira íntegra, 100% do tempo.

Dentro da proposta que nos foi colocada no ano passado, quando o Corinthians me procurou, numa intenção clara de uma mudança numa cultura de futebol, mudança de metodologia de trabalho e aproveitamento da categoria de base. Tentamos sempre pensar primeiro no clube, na instituição, pensando no bem maior do projeto. O resultado tem um peso fundamental na troca do comando, é natural que aconteça (mudanças) quando o resultado não vem.

Oscilação é normal, mas não para o Corinthians. A exemplo do Flamengo, são clubes de grande cobrança, grande expressão e muita popularidade. É difícil imaginar que o torcedor possa aceitar o projeto, que possa aceitar que exista vários fatores que podem influenciar na performance.

Tenho certeza de que esse processo que foi iniciado vai trazer frutos a longo prazo. Uma mudança no perfil de ideias, de jogadores, era necessária. Mas é um processo que faz parte para um clube voltar a ser grande como sempre foi”.

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Falta de resultados no comando do Corinthians

“Conceitualmente estávamos conseguindo construir boas ideias. Tinha um retorno dos atletas na execução das propostas, mas no momento mais determinante, no jogo, isso não estava acontecendo. Esse foi o nosso desafio, entender o porquê distanciamento entre a prática no treino, entre as ações do dia a dia com a execução no campo. Então não tenho uma resposta exata para dar sobre isso.

O que posso afirmar com toda certeza é que você não consegue mudar um processo dessa magnitude somente com as ideias. É necessário ter uma mudança na postura dos atletas, de todos que executam. Se você não consegue conduzir a característica do atleta, você tem que mudar o atleta.

Seria necessário mais tempo ou uma mudança radical, até mesmo com contratação maior de atletas para ter uma mudança mais significativa, como outros clubes fazem e estão tendo sucesso nesse ano, como exemplo o Atlético-MG. O Flamengo também, que contratou no ano passado.

Tenho responsabilidade total sobre o trabalho desenvolvido. Acreditei que era possível fazer com o grupo de atletas que eu tinha. O Corinthians passa por dificuldades financeiras, sem contratar em jogadores renomados. Buscamos apostas e jogadores do próprio clube.

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Não tenho uma resposta 100% fidedigna sobre todos os fatores que foram determinantes para a distância entre os treinos e o trabalho dentro de campo.

Acho que todos nós não entregamos e eu me incluo nisso. Imaginava que podia se produzir mais. Muitos jogos nós merecíamos vencer, produzíamos para isso e não venceu. Tem circunstâncias que fogem do controle do treinador e do jogador muitas vezes. A pandemia talvez nem sirva como argumento relevante, mas para mim a ausência da torcida foi determinante”.

Jogos sem torcida

“Quando você coloca 30, 40 mil torcedores na Arena, isso faz uma diferença significativa no nível de concentração, no nível de competitividade. No nível de atuação do adversário dentro do nosso estádio.

Um dos desafios que não conseguimos resolver foi manter o nível de concentração sem o torcedor. Se a gente pegar os dois últimos anos, são dois anos que o Corinthians tem dificuldade no Brasileiro. Não é de agora esses problemas em termos do Campeonato Brasileiro. Fomos vice-campeões do Paulista sem fazer muita força.

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No momento da volta da parada da pandemia, a gente faz opção por jogadores mais defensivos, se preocupa mais em não sofrer gols e expor menos a equipe. O Campeonato Paulista não é um grande diferencial de performance para o resto da temporada. E o Corinthians vem a um tempo fazendo grandes apostas, mas que por si só precisa ter um “up” para disputar títulos, como a grandeza do time pede”.

Problemas financeiros do Corinthians

“Não sabia das dificuldades financeiras do clube. A direção se esforçou para trazer os jogadores que solicitamos. Muitos jogadores foram oferecidos e demos muitas negativas. Acreditávamos que o Corinthians precisava de jogadores de nível europeu, jogadores como o do Flamengo, maior expoente, nesse patamar. Não aceitamos jogadores que estavam em uma prateleira abaixo.

Vim convicto que o clube precisava buscar uma mudança na filosofia de jogo e também um aproveitamento da sua categoria de base. Desde o primeiro dia, investimos mais energia em questões internas e gestão da formação do clube com categoria principal. Gastamos mais energia nisso do que na equipe e talvez esse tenha sido um erro crucial meu.

Tentei cumprir de forma transparente o que me foi pedido pelo presidente. Fazer uma gestão geral, incluindo formação, porque havia um distanciamento. Isso não é algo que acontece no Corinthians, mas também em outros clubes. Quando cheguei ao clube me foi passado uma lista de mais de 50 jogadores pertencentes ao clube. A gente tentou olhar para dentro do próprio Corinthians, ajudar na saúde financeira e repatriar jogadores, como Camacho, Richard, Pedro Henrique entre outros. Utilizar a formação, usar o sub-23.

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O que fica como lição é que primeiro precisa pensar no resultado. Infelizmente é isso. Para só depois pensar nos processos, na gestão interna. Isso não é uma crítica ao Corinthians, mas sim ao futebol brasileiro como um todo”.

Passagem pelo Corinthians

“Foi uma escola, foi um aprendizado bárbaro ter trabalhado no clube. Por toda a pressão, por toda a magnitude do clube. Tenho certeza de que em pouco tempo o clube vai voltar a figurar na parte de cima de todos os campeonatos.

Esse momento de transformação que a cada ciclo, seis, sete, dez anos, eles vêm para que o clube se redescubra, como tenho certeza de que vai acontecer no ano que vem.

Minha relação com os atletas sempre foi em altíssimo nível. Tinha uma relação profissional e conversei individualmente com todos eles. Existe um modismo que quando os resultados não vêm é porque o treinador perdeu o grupo. Quem é do vestiário, quem está no dia a dia sabe. Eu dificilmente vi alguma atleta fazer corpo mole. Isso não existe, o atleta estaria se prejudicando, sua carreira, sua imagem.

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Sempre tive uma relação muito clara e franca. Não quer dizer que a gente é amigo de todo mundo, como acontece em qualquer empresa. Existe uma máxima no futebol que o treinador tem 11 amigos, que são os que iniciam a partida. Sete a oito que estão mais ou menos porque estão no banco e o resto está p* da vida”.

Dispensa de Ralf e Jadson e reforços

“Acabou vindo para mim essa responsabilidade porque o Corinthians me deu autonomia para tal. Os dois estavam em uma lista de outros 50 jogadores que a gente elegeu por um perfil tático e técnico que queríamos implementar. E para essas ideias a gente não queria contar com os dois. Falei isso para a direção e para o grupo de atletas.

Mas a forma como os atletas foram comunicados, de que forma, isso não é o treinador que faz. Até porque não foi me pedido isso. Fica meu respeito, sei da polêmica por conta da dispensa, mas em nenhum momento eu senti que desrespeitei os dois. Claro que eles poderiam ser úteis, são atletas de grande qualidade, mas acho que ser útil é muito pouco para o Corinthians.

Eu estava pensando em atletas que poderiam ser titulares absolutos, não só do Corinthians, mas do City, Chelsea, Real Madrid, Barcelona e Flamengo. Esse perfil que eu pensei. Porque ser útil é até um desrespeito com a carreira dos atletas”.

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Estilo de jogo

“A gente não voltou atrás com as ideias conceituais. O time que tentava sair jogando com seu goleiro, um time que chegava ao meio de campo com a bola trabalhada. Em termos de posse de bola, nosso time esteve melhor que quase todos os adversários, finalizamos mais que quase todos os adversários que enfrentamos na temporada.

O que se tem agora é um foco muito maior no Corinthians, Palmeiras, Flamengo e outras equipes que não estão jogando bem. Eu pergunto para alguns amigos é ´quem está jogando bem´: ? Eu só vejo o Atlético-MG jogando bem. Não vejo nenhuma outra equipe destoando dos demais.

Esquecemos que vivemos uma pandemia, que os atletas estão jogando jogos quarta e domingo, que os treinadores não têm tempo para treinar. Tudo isso me faz refletir no nível que o Corinthians está, onde pode chegar, qual o foco que foi proposto lá atrás. Está no caminho certo em termos de transformação, mas vai sofrer este ano, vai ser difícil. Mas pensando a longo prazo, sei que as coisas vão melhorar.

Vi praticamente toda a última rodada do Campeonato Brasileiro. E com exceção do jogo do Atlético-MG, não consegui ver nenhum jogo de altíssima qualidade. O Corinthians deveria estar jogando um futebol melhor porque é o Corinthians, porque tem essa cobrança. Mas pensando em todo esse processo de mudança interno, essa oscilação, esse momento negativo infelizmente faz parte. Mas vai servir de balizador para aquilo que vier quando tiver um aporte de investimento que ainda está pela frente”.

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Demissão após derrota no clássico

“Tenho 22 clubes na carreira e mais de 20 anos no futebol. A gente começa a entender quando tem sinais internos. Para mim era claro que se não tivéssemos um resultado positivo contra o Palmeiras o resultado seria interrompido. Faz parte do processo normal do futebol porque temos um contrato, que tem rescisão.

Se a gente vence o clássico, dá uma apaziguada nos ânimos e dá um fôlego para seguir por mais algumas rodadas. Mas ao mesmo tempo a maneira que aconteceu, um jogador expulso, teve um pênalti, perdeu energia, perde força, a autoestima acaba caindo. Por mais que você tenha clareza, chega um momento que a confiança é fundamental. E você adquire de várias maneiras. Com o diálogo, com o discurso, com a relação de proximidade, ma também com o resultado. Os resultados acabam não vindo e naturalmente se encaminha para um final”.

Falta de equilíbrio entre defesa e ataque do Corinthians

“Minha preocupação sempre foi equilíbrio. Por exemplo, optei pelo Ramiro jogando mais aberto pela direita, sendo um terceiro jogador de meio de campo, praticamente um segundo volante, um cara de chegada. Para poder ter dois jogadores atrás dele (Camacho e Cantillo), com capacidade de jogo e não fossem tão marcadores. Ter um time leve, com Luan solto, um jogador agudo pela beirada de velocidade, um nove de referência e os laterais com muita liberdade para chegar.

Vencemos assim e tivemos boas apresentações dessa maneira. Mas a gente bate na questão da confiança Chega um momento que por mais que você consiga mostrar que está produzindo, mas quando você não ganha, o jogador se sente prejudicado.

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No retorno da pandemia, jogamos para dar confiança aos jogadores. Tínhamos um clássico contra o Palmeiras. Não fomos bem, mas vencemos o jogo. A gente vai para o jogo contra o Red Bull Bragantino, até então o time da moda e vencemos com autoridade.

Nos jogos contra Oeste, Red Bull Bragantino, Mirassol e as finais contra o Palmeiras defensivamente a gente pouco sofreu, mas ofensivamente pouco produziu. O equilibro não veio. Com a venda do Carlos Augusto, necessária para tentar amenizar as questões econômicas do clube, a gente perdeu um jogador que vinha muito bem na função, que dava suporte para o Avelar para o Gil.

A maior dificuldade foi achar um equilíbrio entre a equipe que defendia bem e atacava bem. Ou estávamos atacando, produzindo mais chances e defendendo mal, ou defendíamos bem e produzíamos pouco ofensivamente. Essa foi minha maior dificuldade enquanto comandante do Corinthians”.

Luan

“Criamos uma ideia muito focada nisso. Quando falei da presença do Ramiro, Camacho e Cantillo eram três articuladores, muito parecida com o que o Luan atuava no Grêmio, com Artur, Maicon e Ramiro. A ideia era ele ter espaço, ser um cara mais criativo. Penso que tem muito a ver com expectativa em cima dele, que ele venha a ser o jogador que foi na conquista da Libertadores da América.

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A gente não conseguiu dar o suporte ideal ao Luan. Deixar muito claro que ele percorre 12 quilometro por jogo. Ele se dedica muito pelo time, é um cara que quando chega próximo do gol, ele consegue fazer gols, ele tem essa qualidade.

Ele não é velocista, ele não é forte no arranque de 10 metros. Ele é um cara de movimentação. A bola pra ele finalizar precisa ser de pé em pé. E muitas vezes a gente tentou verticalizar, acelerar e isso deixava ele fora da sua melhor qualidade. Talvez eu não tenha conseguido colocar ele numa posição para maximizar o futebol dele”.

Entrevista de Coelho

“Não me senti atingido. Tenho total respeito pelo trabalho que ele desenvolve, um profissional reconhecido, que está buscando seu espaço. Fico na torcida para que ele consiga desenvolver um bom trabalho.

É importante deixar claro que tive uma relação muito boa com toda direção do clube. Principalmente com Duílio. Quando se pensar em Corinthians, planejamento, títulos. tem que se pensar nele. Não é campanha política. Tive oportunidade de conviver com ele, um cara fantástico na gestão no dia a dia. O suporte para o treinador, as relações com os atletas. Ele fez parte desse processo todo de melhora dos ajustes”.

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Relação com CIFUT

“Foi um equívoco usar a palavra ´sucateado´ em uma entrevista. Eu reiterei que era sucateado em relação a comunicação interna. Porque o CIFUT é um departamento importantíssimo na gestão interna, no planejamento de contratações, na gestão da categoria de base, pensando em um planejamento de médio ou longo prazo, mas que não tinha muita comunicação e autonomia no clube. 

Por minha opção, eu tomei frente. Penso que o treinador quando quer deixar um legado, não pode ser só no resultado. O legado passa por tentar deixar e melhorar processos internos. Fazer com o que o clube possa se tornar independente dos treinadores. Que possa ter uma linha de cultura de jogo, condução profissional, para que na hora que mude o treinador, ele não precise iniciar do zero. E isso pode ter gerado algum desconforto”.

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