Receitas do clube desde de 2015 não apresentaram forte dependência
“Sem a Crefisa, o Palmeiras não teria essa estabilidade”; “As contratações de jogadores só são possíveis por causa da patrocinadora”. Conclusões como essas são recorrentes em conversas entre torcedores, e até mesmo entre alguns jornalistas da mídia esportiva. De fato, os valores pagos pela Crefisa ao Palmeiras para estampar sua camisa estão acima do que é praticado pelo mercado atual. Contudo, os números das demonstrações financeiras do clube corroboram com esta intuição? Caso, de uma hora para a outra, a Leila Pereira decida retirar o patrocínio, o Palmeiras quebraria?
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Para responder isso, o Torcedores analisou as receitas do Palmeiras entre 2015 e 2019, e o quanto cada uma delas representa do total arrecadado. Além disso, foi elaborado um índice de diversificação de receita, que representará em um único número a situação das rendas alviverdes.
Patrocínio x outras receitas
A relação entre Palmeiras e Crefisa iniciou-se em 2015 com um contrato de patrocínio válido por quatro anos. Em 2019, o vínculo foi renovado até o final de 2021, tornando-se o maior patrocínio da América Latina, no valor de R$ 81 milhões anuais.
De 2015 a 2019, a receita bruta do Palmeiras subiu 54%, figurando entre os clubes de futebol brasileiros que mais arrecadaram neste período. Na última temporada, o Palmeiras teve a segunda maior receita do país, com R$ 641,9 milhões, atrás apenas do Flamengo. Entre as receitas mais relevantes estão a venda do direito de transmissão para a TV, a venda de atletas e o patrocínio. Juntas, essas três contas representam quase 70% da receita total em 2019.
Desde 2015, o direito de transmissão foi a maior fatia das receitas alviverdes, variando entre 25% e 33%. Já a segunda maior receita bruta variou entre os anos de exercício. Em 2015 e 2018, esta posição foi ocupada pelas contas de Bilheteria e Negociação de Atletas, respectivamente. Já nos outros anos, as receitas com patrocínio ocuparam a posição.
Mix de receitas
Ao primeiro olhar, as contas alviverdes parecem equilibradas e estáveis, sem depender exclusivamente do dinheiro da empresa de Leila Pereira.
No entanto, para uma análise mais completa, devemos levar em consideração o crescimento das principais receitas e seu impacto no total. Além disso, para entender melhor a variação dos faturamentos, elas devem ser padronizadas, para que, assim, possam ser comparadas. Para tal, foi utilizado um índice que expressa em um único número o quão diversificado é o mix de receitas alviverdes.
Para isso, algumas adaptações tiveram que ser feitas. Primeiramente, todas as contas de receita foram divididas em três grupos: Estádio, Transmissão e Comercial.
O grupo Estádio refere-se ao que é arrecadado junto ao torcedor, ou seja, a bilheteria em dias de jogo (Arrecadação de jogos) e o programa de sócio-torcedor (Sócio-Torcedor Avanti). Já o Transmissão engloba todas as receitas com a venda dos direitos de transmissão para TV, sendo aberta, fechada e o Pay-per-view.
Por fim, as receitas com o patrocínio da Crefisa (Publicidade e Patrocínio) e com o licenciamento da marca para produtos (Licenciamento) integram o grupo Comercial
Outra alteração necessária foi a exclusão das receitas com a venda de atletas. Para a análise, foram consideradas apenas as receitas recorrentes, isto é, aquelas arrecadações que não enfrentam grandes variações e estão ano a ano presentes no balanço do clube. Portanto, por ter grande variação (ver gráfico) e não estar sob o controle do Palmeiras, a venda dos direitos esportivos de jogadores não foi considerada.
O Palmeiras tem bons resultados no índice de diversificação de renda. Entre 2015 e 2019, o mix das receitas alviverdes ficou acima dos 80%, que é patamar mínimo para que as contas sejam consideradas diversificadas.
O viés mostra qual dos três grupos é dominante em relação aos outros. No ano de menor variação, em 2019, o grupo Transmissão foi o mais relevante. Nos cinco anos analisados, 2017 foi o único ano em que o grupo Comercial teve predominância. Contudo, este ano foi o segundo ano de maior diversificação com 93%.
O diagrama abaixo condensa a análise. O eixo radial inicia-se na borda em direção ao centro, e varia de 0 a 1, sendo que se posicionado no centro do diagrama, representa que as contas estão completamente diversificadas. Caso o clube fosse 100% dependente de uma única receita, ele estaria em uma das extremidades do diagrama.
Já o viés de concentração é representado no eixo angular, sendo positivo em sentido horário, e negativo no anti-horário.
O modelo apresentado, portanto, atesta que o Palmeiras não tem grande dependência do dinheiro da patrocinadora em suas finanças.
Mas há um porém
Apesar dos resultados serem positivos, eles tiveram uma piora nos últimos anos. Ao atingir a maior diversificação do período em 2016, o clube passou por sucessivas reduções.
Apesar disso, os números mostram que o clube pratica uma administração responsável. No entanto, conforme declarado publicamente, Leila Pereira tem interesse em ampliar sua participação no clube, tornando-se presidente da equipe. Caso vença as eleições de 2021, Leila concentraria em si os papéis de presidente e patrocinadora.
Aqui não há qualquer insinuação de que, por interesses próprios, a figura forte da Crefisa direcione a política financeira alviverde para o favorecimento da dependência em relação ao patrocínio. No entanto, a junção destas duas posições em uma única pessoa pode trazer consequências negativas para o futuro do clube.
No cenário oposto, em que a patrocinadora desista da candidatura ou seja derrotada nas eleições, Leila Pereira pode decidir por encerrar o vínculo com Palmeiras (o contrato de patrocínio encerra-se em 2021, mesmo ano das eleições). Neste caso, dificilmente o clube encontrará empresas que paguem os mesmos valores para estampar a camisa. Contudo, mesmo com receitas menores, o clube conseguirá manter seu orçamento equilibrado, sem necessariamente enfrentar uma crise.
*A metodologia utilizada na matéria pode ser encontrada aqui .
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