Luiz Ferreira analisa a vitória da equipe de Bragança Paulista sobre o São Paulo na coluna PAPO TÁTICO
Por mais que ainda seja necessário ter certo cuidado com as análises de cada equipe nesse momento, existem casos que merecem destaque. Não somente pelo resultado obtido dentro de campo, mas pela manutenção de uma ideia de jogo, por algo que vem sendo mantido desde antes da paralisação do futebol por conta da pandemia de COVID-19. E o Red Bull Bragantino é um exemplo quase perfeito. Os comandados de Felipe Conceição (aquele mesmo chamado de “Tigrão” nos tempos de Botafogo) provaram (mais uma vez) que não estão a passeio e venceram o São Paulo dentro do Morumbi nesta quinta-feira (23) por 3 a 2. E isso jogando um futebol vistoso e ofensivo. Destaque para as boas atuações de Morarto, Vitinho, Matheus Jesus e (principalmente) Arthur. Definitivamente, o Red Bull Bragantino não chegou apenas para fazer figuração. O potencial de crescimento é imenso e pode dar ainda mais frutos.
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É preciso dizer que a equipe comandada por Felipe Conceição é muito bem armada e muito bem organizada em torno de uma ideia de futebol ofensivo e de triangulações. Desde o início da temporada, o Red Bull Bragantino mostra uma predileção pelo ataque e pela posse de bola. Intensidade, amplitude, velocidade e ocupação inteligente dos espaços são alguns dos pontos (muito) positivos dessa equipe. O gol de Morato (o segundo do Braga na partida e marcado depois de uma bela entortada em Arboleda) tem muito dessas ideias de futebol. O zagueiro Ligger sobe para o campo adversário e faz o passe que “quebra as linhas” defensivas do São Paulo. O frame abaixo mostra os comandados de Fernando Diniz tentando diminuir o espaço no meio-campo, mas sem pressionar o homem que está com a bola. Morato infiltra no espaço e Ligger recebe o passe. Simplicidade e objetividade.
O time do São Paulo está compactado à frente da sua área, mas não tem ninguém que pressione o homem da bola. Ligger percebe a infiltração de Morato e faz o passe certeito para o companheiro entortar Arboleda e chutar cruzado. Jogada fruto de boas ideias sobre futebol no Red Bull Bragantino. Foto: Reprodução / Premiere
A proposta de Felipe Conceição alia velocidade nas transições, bom toque de bola e pressão no portador da bola, além de já demonstrar o momento certo de cadenciar e/ou de acelerar o jogo dependendo da situação em que se encontre. Dentro desse cenário, o Red Bull Bragantino também mostra um repertório bem interessante de jogadas e variações. O (belíssimo) gol da vitória saiu de lançamento longo de Ytalo, a referência móvel no ataque que abre espaços para as entradas em diagonal de Morato e Arthur. Ao mesmo tempo, os laterais Weverton e Luan Cândido variam de posição, ora aparecendo por dentro como “construtores”, ora abrindo o campo pelas laterais. E isso sem mencionar a chegada quase que constante dos volantes Matheus Jesus e Vitinho ao ataque. Se o primeiro marcou o primeiro gol do Braga, o segundo deu a assistência que deixou Arthur em condições de acertar o ângulo de Tiago Volpi.
Laterais aparecendo por dentro, volantes pisando na área e trio ofensivo móvel e veloz no terço final do campo. O Red Bull Bragantino tem uma proposta de jogo bem definida e sabe muito aplicá-la com eficiência sem se importar com o adversário. Intensidade e bom posicionamento. Foto: Reprodução / Premiere
Também é preciso destacar que o Red Bull Bragantino dificultou demais a vida do São Paulo na partida. Vitinho e Matheus Jesus subiam para perseguir Tchê Tchê e Daniel Alves quando estes apareciam entre os zagueiros para iniciar a transição ofensiva. A saída de bola ficava lenta e as jogadas não fluíam. Aliás, a falta de intensidade e de velocidade são problemas quase crônicos da equipe comandada por Fernando Diniz. Quando acelerou, o São Paulo foi perigoso. Tal como aconteceu no segundo gol do Tricolor Paulista, talvez a primeira boa transição realizada em toda a partida. Igor Gomes aparece alinhado a Alexandre Pato e vê a chegada de Daniel Alves. O camisa 10 apenas escora de calcanhar para Pablo, que tem tempo para ajeitar o corpo e chutar rasteiro, sem defesa para Júlio César. Mesmo assim, faltou mais objetividade e mais repertório ao São Paulo. Mesmo com a retomada recente das atividades.
Daniel Alves sobe ao ataque e Pablo aparece por dentro para concluir a gol. O São Paulo de Fernando Diniz também apresenta boas ideias, mas peca demais pela lentidão na saída de bola e pela falta de pressão no portador da bola. Falta intensidade na grande maioria das transições. Foto: Reprodução / Premiere
Red Bull Bragantino e São Paulo possuem propostas de jogo semelhantes. Os comandados de Felipe Conceição, no entanto, superaram a equipe treinada por Fernando Diniz no quesito intensidade. Os dois técnicos possuem estilos que dependem demais do volume de jogo dos seus times e concentração a todo instante. E essa diferença na execução das duas propostas acabou sendo determinante para a vitória do Massa Bruta. Mais uma vez: é preciso relativizar bastante cada atuação nesse retorno das atividades no futebol brasileiro. Por outro lado, a maneira como o Red Bull Bragantino manteve seu estilo de jogo sem que quase nada tenha mudado é motivo suficiente para ter a equipe comandada por Felipe Conceição entre as de maior potencial de crescimento nessa temporada de 2020. A liderança geral do Campeonato Paulista (obtida após vitória sobre o São Paulo) é prova disso.
Não esperem uma equipe figurativa no Campeonato Brasileiro. Este que escreve pode errar feio na previsão, mas a tendência é que o Red Bull Bragantino surpreenda muita gente ainda em 2020. Não somente pela equipe bem montada e bem armada por Felipe Conceição, mas por todo o aparato financeiro montado pela conhecida multinacional. É um time que vai dar trabalho e vai cobrar seu lugar ao sol.
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