Home Futebol 50 anos do Tri (Parte IX): O jogo do século

50 anos do Tri (Parte IX): O jogo do século

O TORCEDORES.COM traz todos os detalhes da vitória da Itália sobre a Alemanha Ocidental no nono e penúltimo capítulo da série “50 anos do Tri”; classificação da Azzurra para a final da Copa do Mundo de 1970 entraria para a história como uma das partidas mais emocionantes de todos os tempos e ganhou a alcunha de “Jogo do Século”

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O TORCEDORES.COM traz todos os detalhes da vitória da Itália sobre a Alemanha Ocidental no nono e penúltimo capítulo da série “50 anos do Tri”; classificação da Azzurra para a final da Copa do Mundo de 1970 entraria para a história como uma das partidas mais emocionantes de todos os tempos e ganhou a alcunha de “Jogo do Século”

Enquanto a Seleção Brasileira vencia o Uruguai, despachava o fantasma de 1950 e se garantia na decisão da Copa do Mundo de 1970, os plantonistas das principais emissoras de rádio do país anunciavam que a partida entre Itália e Alemanha Ocidental (que acontecia no mesmo horário) estava indo para a prorrogação após o empate em 1 a 1 no tempo normal. O que pouca gente sabia é que aqueles trinta minutos nos reservariam alguns dos momentos mais emocionantes da história do futebol mundial. Italianos e alemães sofreram com o calor da Cidade do México e com a incrível alternância no placar. Cinco gols na prorrogação (a única partida de toda a história das Copas do Mundo a deter tal marca), duas viradas e alguns dos momentos mais icônicos de todo o imaginário do velho e rude esporte bretão. Nunca uma vaga numa decisão de Mundial seria tão disputada e tão emocionante como foi aquele duelo entre Itália e Alemanha Ocidental naquele histórico 17 de junho de 1970. Não por acaso, essa semifinal ganharia da imprensa esportiva  da época a gloriosa alcunha de “Jogo do Século”.

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A Squadra Azzurra chegou credenciada pela conquista da Eurocopa de 1968, mas fazia campanha apenas razoável em terras mexicanas. Os italianos venceram a Suécia por 1 a 0 e empataram sem gols duas vezes contra o Uruguai e Israel, fechando a fase inicial na liderança do Grupo 2 com quatro pontos. Nas quartas de final, a Itália venceu os donos da casa por 4 a 1 em jogo disputado em Toluca e marcado pela boa atuação de Gigi Riva, lendário atacante do Cagliari. O técnico Ferruccio Valcareggi utilizava o chamado “catenaccio” (criado por Helenio Herrera e amplamente difundido através da Internazionale bicampeã europeia nos anos 1960) como esquema tático básico na Azzurra. Pierluigi Cera era o líbero com Burgnich atuando como lateral pela direita mais preso e o grande Facchetti avançando ao ataque pela esquerda. Domenghini vinha até o meio-campo para ajudar na criação das jogadas e Bonisegna comandava o ataque. No meio, no enanto, Ferruccio Valcareggi criou a “staffetta” (o “revezamento”, em italiano) para encaixar as suas duas grandes estrelas: Sandro Mazzola e Gianni Rivera. Cada um jogava um tempo.

Já a Alemanha Ocidental (então vice-campeã mundial) vinha de bons resultados na Copa do Mundo. Os comandados de Helmut Schön venceram Marrocos (2 a 1), Bulgária (5 a 2) e Peru (3 a 1) na fase de grupos e tiveram a sua “vingança” contra a Inglaterra nas quartas de final da competição. Após estarem perdendo por 2 a 0 para os ingleses até a metade da segunda etapa (com gols de Mullery e Peters), os alemães chegaram ao empate com gols de Beckenbauer (aos 23 minutos) e o interminável Uwe Seeler (aos 37 minutos da segunda etapa). Coube a Gerd Müller marcar o gol da classificação da Alemanha Ocidental para as semifinais aos três minutos do segundo tempo da prorrogação. O esquema tático utilizado por Helmut Schön tinha em Beckenbauer o seu grande maestro. Mesmo jogando na zaga, o camisa 4 circulava por todo o campo e aparecia com frequência no ataque. Ao mesmo tempo, os gols de Gerd Müller, o dinamismo de Overath no meio-campo e a liderança de Uwe Seeler (que jogava a sua quarta Copa do Mundo) eram fundamentais para que o 4-2-4 do treinador alemão funcionasse com a eficiência desejada.

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Já se sabia que a Itália levava certa vantagem no confronto por causa do cansaço da Alemanha Ocidental após 120 minutos de futebol contra a Inglaterra três dias antes. E como era de se esperar, a iniciativa foi da Squadra Azzurra. Aos oito minutos de jogo, De Sisti passa a bola para Boninsegna no lado direito. Este tabela com Gigi Riva e, mesmo marcado por três alemães, consegue acertar um belo chute no canto direito do lendário goleiro Sepp Maier, abrindo o marcador. Do lado germânico, a equipe comandada por Helmut Schön tentava vencer o cansaço e o forte sistema defensivo do seu adversário. Depois de jogada individual, Beckenbauer caiu dentro da área após contato com Facchetti, mas o árbitro peruano Arturo Yamasaki Maldonado nada marcou. Aos 22 minutos, Domenghini chutou de longe e Maier defendeu bem. A Alemanha ia se soltando e buscando mais as jogadas pelos lados e trocando passes para tentar encontrar algum espaço na defesa italiana. Tanto que o goleiro Albertosi apareceu bem em chutes de Gerd Müller e Grabowski nos últimos minutos do primeiro tempo. E aos 44 minutos, Mazzolla quase fez o segundo da Itália após belo passe de Boninsegna.

Italia vs Alemanha Ocidental - Football tactics and formations

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Mais descansada, a Itália tomou a inciativa do jogo e abriu o placar logo no início com Boninsegna. Após o gol, a Alemanha passou a sair mais para o jogo e criou boas chances com Müller e Grabowski. Destaque para o duelo entre Beckenbauer e Sandro Mazzola no meio-campo.

Como já era esperado, o técnico Ferruccio Valcareggi utilizou a “staffetta” mais uma vez. Sandro Mazzola saiu para a entrada de Gianni Rivera logo após o intervalo. A mexida fez com que o ímpeto italiano diminuísse drasticamente e a Alemanha fosse ganhando espaço para criar as suas jogadas. Em rápido contra-ataque, Riva quase fez o segundo da Itália em cabeçada bem defendida por Maier. Mas o que se veria daí para frente seria um verdadeiro massacre germânico. O meia Overtah acertou o travessão após erro na saída de bola da Azzurra. Beckenbauer sofreu falta quase na linha da grande área. Na sequência do lance, o goleiro Albertosi se atrapalhou na saída de bola e acertou as costas de Grabowski salvando aquele que seria o gol de empate alemão em cima da linha. No entanto, o arqueiro italiano compensaria a lambança ao fazer grande defesa em cabeçada de Seeler logo depois de cobrança de escanteio do lado esquerdo. Era nítido que a entrada de Rivera havia sido ruim para a Squadra Azzurra.

O técnico Helmut Schön já havia feito as duas substituições na Alemanha Ocidental quando o craque Beckenbauer lesionou o ombro em disputa com o líbero italiano Pierluig Cera na metade do segundo tempo. E a imagem do camisa 4 germânico voltando para o campo com o local enfaixado ainda é lembrada no mundo todo como um grande símbolo de raça e determinação por parte do Kaiser. A essa altura o escrete alemão já se organizava num insano 3-2-5 após as entradas dos atacantes Libuda e Held nos lugares de Löhr e Patzke respectivamente. A equipe criava chances, tinha a posse da bola, mas seguia esbarrando no forte sistema defensivo da Itália. Quando tudo apontava para uma vitória da Azzurra, o zagueiro Schnellinger (que era jogador e grande ídolo do Milan naqueles tempos) marcou o gol de empate da Alemanha Ocidental após cruzamento de Grabowski da esquerda. A vaga na final da Copa do Mundo de 1970 seria decidida no tempo extra. E esses próximos trinta minutos entrariam para a história do futebol. E isso num calor sufocante diante de mais de 102 mil pessoas presentes no lendário Estádio Azteca na Cidade do México.

Aos quatro minutos do primeiro tempo da prorrogação, Libuda cobrou escanteio da direita e Grabowski cabeceou fraco. O zagueiro Poletti e o goleiro Albertosi vacilaram e Gerd Müller tocou para o gol. Era a virada alemã. Aos oito minutos, no entanto, Rivera cobrou falta, Held afastou errado e Burgnich empatou a partida. Aos 13 minutos, Domenghini lançou Riva pela esquerda e este se livrou de Schnellinger antes de acertar um belo chute no canto esquerdo de Maier e virar o jogo novamente. Logo no início do segundo tempo da prorrogação (aos cinco minutos), Overath cobrou escanteio curto para Libuda que mandou para a área. Seeler escorou e Müller (sempre ele) desviou de cabeça para o gol. A Alemanha empatava a partida mais uma vez. No entanto, logo no minuto seguinte, Facchetti lançou Boninsegna na esquerda e este se livrou de Schulz na corrida antes de cruzar para o meio da área. Rivera, o “Bambino d’Oro”, chutou no contrapé de Sepp Maier e marcou o gol da vitória da Azzurra. Completamente esgotada, mas mostrando uma fibra imensa, a Alemanha Ocidental ainda tentou se lançar ao ataque, mas não conseguiu mudar o placar final. A Itália estava na final da Copa do Mundo.

Alemanha Ocidental vs Italia - Football tactics and formations

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Mesmo jogando com cinco atacantes desde o início do segundo tempo regulamentar, a Alemanha Ocidental não conseguiu frear a Itália que se defendeu bem e soubem encaixar os contra-ataques na hora certa com Riva, Boninsegna e Rivera. Partida histórica de duas grandes seleções.

A Squadra Azzurra estava classificada para a Copa do Mundo após vencer um jogo simplesmente épico diante da Alemanha Ocidental. Reza a lenda que o povo mexicano ficou tão fascinado com a partida que 23 presos fugiram de uma cadeia da cidade de Tixtla de Guerrero no momento em que todos os guardas assistiam ao confronto entre italianos e germânicos pela televisão num bar próximo. A final estava marcada para o dia 21 de junho na Cidade do México e o reencontro entre Brasil e Itália 32 anos depois das semifinais da Copa do Mundo de 1938 prometia fortes emoções. Mas isso é assunto para o último e derradeiro capítulo do nosso especial “50 anos do Tri”.

Relembre os capítulos anteriores do especial “50 anos do Tri”:

50 anos do Tri (Parte I): Toda história tem um começo
50 anos do Tri (Parte II): A saída de João Saldanha e a chegada de Zagallo
50 anos do Tri (Parte III): Começa a Copa do Mundo!
50 anos do Tri (Parte IV): Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia
50 anos do Tri (Parte V): Brasil 1 x 0 Inglaterra
50 anos do Tri (Parte VI): Brasil 3 x 2 Romênia
50 anos do Tri (Parte VII): Brasil 4 x 2 Peru
50 anos do Tri (Parte VIII): Brasil 3 x 1 Uruguai

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FONTES DE PESQUISA:

Site oficial da CBF
Site oficial da FIFA – 1970 World Cup
RSSSF Brasil
The RSSSF Archive
Blog Três Pontos – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental
A Pirâmide Invertida, de Jonathan Wilson (Editora Grande Área)
Os 55 maiores jogos das Copas do Mundo, de Paulo Vinícius Coelho (Panda Books)

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