A vitória da Seleção Brasileira sobre a Romênia é o tema no sexto capítulo da série especial “50 anos do Tri” aqui no TORCEDORES.COM; terceira vitória do escrete canarinho na Copa do Mundo ficou marcada pelos desfalques e pelo sufoco dos romenos no final da partida
Da água para o vinho. Bastaram duas partidas na Copa do Mundo para que a Seleção Brasileira recuperasse o prestígio junto a torcedores e imprensa esportiva. Quem acompanhou as vitórias sobre a Tchecoslováquia (4 a 1) e Inglaterra (1 a 0) pelas ondas do rádio ou pela televisão viu uma equipe coesa, bem organizada e com incríveis talentos individuais. As mesas redondas apontavam o time comandado por Zagallo como um dos candidatos mais fortes ao título no México. Tal fato fez com que o “Velho Lobo” blindasse o elenco para conter o “oba-oba” que vinha de fora da concentração. No entanto, mesmo com duas vitórias no Grupo 3 (o famoso “grupo da morte” do Mundial), a Seleção Brasileira ainda não estava garantida na primeira colocação da sua chave. E para atingir esse objetivo e permanecer jogando em Guadalajara, o escrete canarinho precisava de apenas um ponto contra a Romênia. A partida estava marcada para o dia 10 de junho.
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As vitórias em cima da Tchecoslováquia (vice-campeã mundial em 1962) e da Inglaterra (campeã mundial em 1966) deixaram o Brasil na liderança do Grupo 3 com quatro pontos. Logo depois, empatadas com dois pontos, vinham os ingleses e os romenos. E na última posição estavam os tchecos com duas derrotas em dois jogos. Em tese (e observando-se o retrospecto histórico), o último adversário da Seleção Brasileira na fase de grupos era o mais fraco da chave. No entanto, o escrete comandado por Angelo Nicolescu jogava um futebol vistoso e bem ofensivo para aqueles tempos. Além disso, a Romênia precisava vencer o Brasil por uma boa margem de gols e secar a Inglaterra (que enfrentaria a Tchecoslováquia no dia 11 de junho) para conquistar a classificação para as quartas de final. Era exatamente por isso que Zagallo deu a ordem: era preciso vencer os romenos para não depender de ninguém e disputar as partidas seguintes em Guadalajara.
On 9June70 Jornal dos Sports informed that Zagallo had given "scorched earth" orders to his team so that Brazil could be sure they would remain in Guadalajara for the quarter-finals. Brasil '70: The Dream Team. Podcast soon by @lancenet. #Mexico70 #WorldCup #England #TimeBrasil. pic.twitter.com/sTBFUY30KE
— Brasil70 (@brasilcopa70) June 9, 2020
Mas a vida de Zagallo não estava fácil. O técnico do escrete canarinho seguia com problemas para montar o time que entraria em campo no dia 10 de junho. Gérson ainda não tinha condições de jogo (o camisa 8 havia sofrido uma lesão muscular na partida de estreia contra a Tchecoslováquia) e Rivellino, seu sucessor natural no meio-campo, sentiu o tornozelo após o duríssimo jogo contra a Inglaterra e também estava fora da partida. A solução encontrada por Zagallo foi manter o seu 4-3-3 básico com a manutenção de Paulo Cézar Lima na ponta-esquerda, adiantar Piazza para o meio (sua posição original) ao lado de Clodoaldo e entrar com Fontana na zaga ao lado de Brito. Enquanto isso, o técnico romeno Angelo Nicolescu comemorava a ausência de Gérson e Rivellino. Na teoria, teríamos um Brasil jogando um pouco mais fechado e e um pouco mais precavido no seu sistema defensivo, já que a vantagem era do time de Zagallo. No entanto, não exatamente isso que foi visto no dia 10 de junho de 1970.
O @Estadao de 9/6/1970 assegurava que Gérson seria poupado de novo contra a Romênia. Rivelino estava pessimista com seu tornozelo. O técnico romeno Angelo Nicolescu era sincero: "a ausência dos 2 é ótima notícia para nós". "Brasil'70: The Dream Team ". #Mexico70 #WorldCup pic.twitter.com/P3jVG7qf9g
— Brasil70 (@brasilcopa70) June 9, 2020
A Seleção Brasileira começou a partida em alta velocidade. Paulo Cézar Lima criou as duas primeiras chances da equipe com um chute defendido pelo goleiro Adamache (que seria substituído na metade da primeira etapa) e um cruzamento da esquerda que bateu no travessão e passou à frente de Jairzinho. O primeiro gol saiu aos 19 minutos. Clodoaldo (que jogava mais adiantado do que nas duas primieras partidas da Copa) se lançou ao ataque e foi tocado por Nunweiller na entrada da área. Pelé ajeitou a bola e soltou a bomba no canto direito. Três minutos depois, Paulo Cézar Lima recebeu de Jairzinho, passou pelo zagueiro e cruzou para o camisa 7 fazer o segundo do Brasil e o quarto dele na Copa do Mundo. No entanto, aos 34 minutos, Florea Dumitrache recolocava a Romênia no jogo ao aproveitar bobeira da defesa brasileira para tocar por baixo de Félix. Apesar dos problemas defensivos (e do claro desentrosamento de Fontana com o resto da zaga), parecia que o Brasil não teria muitos problemas diante do ofensivo escrete romeno.
Paulo Cézar Lima foi mantido no time que enfrentou a Romênia assim como o 4-2-4 que variava para o 4-3-3 e até para um 4-2-2-2 conforme a movimentação de Pelé por entre as linhas adversárias. A Romênia, por sua vez, explorava a falta de entrosamento entre Fontana e o restante da zaga brasileira.
O segundo tempo da partida no Estádio Jalisco acabaria sendo marcado por mais problemas para Zagallo. Primeiro pelo ímpeto ofensivo da Romênia que se lançava ao ataque com quase cinco jogadores de frente. E depois pelos já citados problemas defensivos do escrete canarinho. Mesmo assim, os espaços no ataque apareciam com frequência. Tanto que Pelé fez o terceiro do Brasil após belo passe de Tostão aos 22 minutos da segunda etapa. Zagallo, que já havia sacado Everaldo para a entrada de Marco Antônio, mandou o hábil ponta-esquerda Edu para o jogo no lugar de Clodoaldo. Com a mexida, Paulo Cézar Lima veio jogar mais recuado. No entanto, a defesa brasileira vacilou mais uma vez. Satmareanu passou com liberdade pela direita e cruzou para a área. Dembrovschi se antecipou a Félix e fez o segundo gol dos romenos aos 39 minutos. Daí para o apito final, o Brasil teve mais uma boa chance com Tostão (que parou na grande defesa do goleiro Raducanu) e sofreu bastante com as bolas levantadas na área. Apesar disso, o placar não mudou mais. O primeiro lugar do Grupo 3 da Copa do Mundo era de Pelé, Jairzinho e companhia.
A Seleção Brasileira, mesmo com problemas defensivos, jogou praticamente num 4-2-4 com as entradas de Edu e Marco Antônio na segunda etapa. Já a Romênia manteve o ímpeto ofensivo até o final da partida, explorou bem a atuação irregular de Fontana e criou muitos problemas para o escrete comandado por Zagallo.
Após a vitória sobre a Romênia, todo os jogadores do elenco brasileiro estavam felizes pelo resultado e pela conquista do primeiro lugar no Grupo 3 (fato que garantia a permanência em Guadalajara) independente do que acontecesse no jogo entre Inglaterra e Tchecoslováquia (marcado para o dia seguinte também no Estádio Jalisco). Por outro lado, Pelé, Jairzinho, Tostão, Zagallo e toda a delegação também sabiam que aquela tinha sido a pior atuação do time até o momento na Copa do Mundo e que muita coisa precisava ser corrigida até as quartas de final. O adversário do escrete canarinho nessa fase seria a forte e surpreendente seleção do Peru comandada por ninguém mais, ninguém menos do que Didi, um dos principais nomes do Brasil na conquista das copas do Mundo de 1958 e 1962. Mas isso é papo para o sétimo capítulo do especial “50 anos do Tri”.
Relembre os capítulos anteriores do especial “50 anos do Tri”:
50 anos do Tri (Parte I): Toda história tem um começo
50 anos do Tri (Parte II): A saída de João Saldanha e a chegada de Zagallo
50 anos do Tri (Parte III): Começa a Copa do Mundo!
50 anos do Tri (Parte IV): Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia
50 anos do Tri (Parte V): Brasil 1 x 0 Inglaterra
FONTES DE PESQUISA:
Site oficial da CBF
Site oficial da FIFA – 1970 World Cup
RSSSF Brasil
The RSSSF Archive
Blog Três Pontos – Brasil 3 x 2 Romênia
A Pirâmide Invertida, de Jonathan Wilson (Editora Grande Área)
Escola Brasileira de Futebol, de Paulo Vinícius Coelho (Editora Objetiva)
As melhores Seleções Brasileiras de todos os tempos, de Milton Leite (Editora Contexto)
LEIA MAIS:
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