O TORCEDORES.COM traz a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970 no quarto capítulo da série “50 anos do Tri”; goleada em cima da Tchecoslováquia foi marcada pelos lançamentos mágicos de Gérson e pela velocidade fulminante de Jairzinho
Os três meses que antecederam a estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo do México foram extremamente movimentados. João Saldanha deixou o comando do escrete canarinho, Zagallo assumiu a equipe, a imprensa torcia o nariz para o elenco que iria tentar o tricampeonato mundial e o torcedor não mostrava a confiança de tempos não tão longínquos assim. Tanto que pouquíssimas pessoas acreditavam que Pelé, Tostão e companhia fossem conseguir uma boa colocação na nona Copa do Mundo da história. Ainda mais com o time caindo no chamado “grupo da morte”, junto com Tchecoslováquia, Inglaterra (então campeã mundial) e Romênia. A estreia brasileira aconteceu no dia 3 de junho de 1970 diante dos tchecos, no Estádio Jalisco, em Guadalajara, diante de mais de 50 mil pessoas. A partida ficaria marcada pelo nervosismo inicial do escrete canarinho e também por lances que entrariam para a história do velho e rude esporte bretão.
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A delegação brasileira já estava no México há pelo menos um mês para se adaptar à altitude do país-sede da Copa do Mundo e também para que a comissão técnica pudesse realizar os últimos preparativos na equipe. Vale lembrar que essa foi a primeira vez em que uma Seleção Brasileira pôde contar com um trabalho científico e bem planejado na preparação física. Admildo Chirol, Carlos Alberto Parreira, Cláudio Coutinho e Raul Carlesso trataram de deixar o time inteiro “na ponta dos cascos”. Como veremos mais para a frente, essa preparação seria fundamental na campanha brasileira no México. No entanto, Zagallo teria que lidar com uma baixa de última hora no tiem que havia escolhido como titular. O lateral-esquerdo Marco Antônio sofreu uma lesão muscular no músculo adutor da coxa e não teria condições de enfrentar a Tchecoslováquia. O escolhido por Zagallo foi Everaldo, lateral-esquerdo do Grêmio de bom porte físico, ótimo poder de marcação e boa leitura de jogo.
O Jornal do Brasil de 2/6/70 afirmava que Marco Antonio estava fora da estreia no dia seguinte contra a Checoslováquia, enquanto Zagallo se dizia satisfeito com a atuação do juiz Tschencher na abertura da Copa. Brasil '70: The Dream Team. Podcast em breve por @lancenet. #Mexico70 pic.twitter.com/pSpwzZnJb8
— Brasil70 (@brasilcopa70) June 2, 2020
Zagallo manteve Rivellino no time (fazendo a função do ponta-esquerda que recua para ajudar na criação do meio-campo), Pelé e Tostão se revezando no comando do ataque e Jairzinho entrando em diagonal a partir da direita. No papel, um 4-2-4. Na prática, um 4-3-3, um 4-2-3-1 e até mesmo um 3-4-3 conforme Carlos Alberto subia ao ataque. Mas a Seleção Brasileira não começou bem a partida. Demonstrando muito nervosismo e sentindo um pouco a pressão da estreia, a equipe comandada por Zagallo viu Pelé desperdiçar chance clara debaixo das traves logo no começo da partida. Aos 11 minutos de jogo, Brito errou passe para Clodoaldo e Ladislav Petras aproveitou o cochilo da defesa canarinho para abrir o placar. Aos poucos, o Brasil foi se encontrando e igualou o marcador com Rivellino cobrando falta e quase mandando o excelente Ivo Viktor pra dentro das redes junto com a bola aos 24 minutos.
A Seleção Brasileira encontrou dificuldades para conter o ataque tcheco no início da partida. O nervosismo falava mais alto quando Brito e Clodoaldo vacilaram no gol de Petras. A Tchecoslováquia jogava num 4-2-4 que variava para o 4-3-3 conforme a movimentação de Frantisek Veselý e fechava bem os lados do campo.
Conforme o tempo ia passando, a Seleção Brasileira ia se acalmando e tomando conta do jogo no Estádio Jalisco. Rivellino passou a fechar mais pela esquerda, Pelé se movimentava bastante pela intermediária (tal como um “falso 9” dos dias atuais) e abria espaços para que Tostão e Jairzinho entrasse em diagonal para aproveitar os lançamentos de Gérson. Vale lembrar que a Tchecoslováquia também variava para o 4-3-3 com o recuo de Frantisek Veselý e recuava os pontas para o meio, seguindo a tendêmncia lançada pela Inglaterra quatro anos antes. Ainda no primeiro tempo, no entanto, o Rei seria o protagonista de um lance que entraria para a história. Aos 42 minutos, o nosso camisa 10 percebeu que Ivo Viktor estava adiantado e arriscou um chute de seu próprio campo. A transmissão da TV mostrou o desespero do goleiro tcheco tentanto voltar enquanto a bola passava a míseros 40 centímetros da trave.
Já com os nervos controlados e a certeza de que eram muito melhores do que o adversário, a Seleção Brasileira deu um verdadeiro show no segundo tempo mostrando que a preparação física foi quase perfeita nas semanas que antecederam a Copa do Mundo. Aos 15 minutos, Gérson fez um lançamento de 40 metros para Pelé. O Rei amaciou a bola no peito, escolheu o canto e marcou o gol da virada. Com a Tchecoslováquia se lançando ao ataque, o escrete canarinho teve condições de explorar uma das suas especialidades: o contra-ataque. Aos 18 minutos, Gérson faz novo lançamento de 40 metros. A bola chega em Jairzinho que dá um chapéu em Ivo Viktor e estufa as redes. E já nos minutos finais da partida, o “Furacão da Copa” dominou a bola na intermediária se livrou de Hagara e Horváth e chutou cruzado no canto direito do goleiro tcheco. O Brasil mostrava toda a sua força logo na estreia.
A Tchecoslováquia se lançou ao ataque após o gol da virada da Seleção Brasileira e abriu o espaço que Pelé, Jairzinho e Gérson procuravam para encaixar os contra-ataques. Os comandados de Zagallo dominaram as ações no meio-campo e construíram a goleada que marcou a estreia do Brasil na Copa do Mundo do México.
Mas nem tudo foram flores para a Seleção Brasileira e para Zagallo. Na metade da segunda etapa, poucos minutos depois de deixar Pelé e Jairzinho na cara do gol, Gérson sofre uma distensão muscular e precisa ser substituído por Paulo Cézar Lima. O camisa 18 vai para a ponta-esquerda com Rivellino recuando para fazer a função do “Canhotinha de Ouro”. Até o apito final, o escrete canarinho não sofreu mais sustos. O próximo adversário na fase de grupos seria a fortíssima seleção da Inglaterra. Bobby Moore, Bobby Charlton e “Sir” Alf Ramsey chegaram ao México confiantes de que poderiam conquistar o título sem muitos sustos. No entanto, a equipe da terra da Rainha Elizabeth encontrou certas dificuldades para vencer a Romênia por 1 a 0 no dia 2 de junho, com gol marcado por Geoff Hurst, aquele mesmo que marcou três vezes na final da Copa do Mundo de 1966 diante da Alemanha Ocidental.
Zagallo tinha apenas quatro dias para preparar a Seleção Brasileira e encontrar uma maneira de parar a forte equipe da Inglaterra que, de acordo com o que se dizia naqueles tempos, estava mais forte do que quatro anos antes. As condições físicas de Gérson mostravam que Rivellino poderia seguir no meio-campo com Paulo Cézar Lima ganhando nova oportunidade no ataque. Mas isso é papo para o quinto capítulo do nosso especial sobre os 50 anos do tricampeonato da Copa do Mundo.
Relembre os capítulos anteriores do especial “50 anos do Tri”:
50 anos do Tri (Parte I): Toda história tem um começo
50 anos do Tri (Parte II): A saída de João Saldanha e a chegada de Zagallo
50 anos do Tri (Parte III): Começa a Copa do Mundo!
FONTES DE PESQUISA:
Site oficial da CBF
RSSSF Brasil
The RSSSF Archive
Blog Três Pontos – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia
A Pirâmide Invertida, de Jonathan Wilson (Editora Grande Área)
Escola Brasileira de Futebol, de Paulo Vinícius Coelho (Editora Objetiva)
As melhores Seleções Brasileiras de todos os tempos, de Milton Leite (Editora Contexto)
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