Home Opinião Gabriela Brino: A mulher, o esporte e a obrigação de aprender a lidar com assédio

Gabriela Brino: A mulher, o esporte e a obrigação de aprender a lidar com assédio

Relatos e desabafos sobre uma profissão predominantemente masculina e machista

Gabriela Brino
Colunista do Torcedores.com.

Relatos e desabafos sobre uma profissão predominantemente masculina e machista

“Você mora sozinha em Santos?”, “que gata na foto”, “o Santos não me procurou, linda”, “que saúde” (…). Essas são algumas frases que já ouvi durante apurações. Nenhuma delas cabe em uma conversa profissional, mas quando você é mulher soa ainda pior. E eu vou te explicar.

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Ser mulher no jornalismo esportivo é uma dificuldade diária. Vão olhar pra você, julgar sua roupa, a forma como você anda e até como você fala para justificar a conversa fiada. Você não pode ser simpática, porque você está dando mole. Você não pode usar decote, porque está dando mole. E se você puxar assunto? Está dando mole.

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A pressão diária em pensar duas vezes antes de enviar uma mensagem e, no fim das contas, ainda ter que ler graça, é um saco. Não poder aceitar convite de tomar um café com fonte por medo é um saco. Não poder se sentir livre em seu ambiente de trabalho é um saco. Mas nada é pior do que você duvidar do seu próprio desempenho.

Particularmente uma das minhas coisas preferidas na minha profissão é apurar. Procurar notícias novas e quentes para pautar meus concorrentes. Conseguir isso é puro mérito jornalístico, mas nem sempre para as mulheres.

Nunca irei me esquecer do dia que eu realmente me questionei se consegui uma notícia por ser mulher. “E se ele me respondeu só por eu ser mulher, mas não por respeitar meu trabalho?”… “E se ele me respondeu pensando em se beneficiar disso mais para frente?”…

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Vocês conseguem entender o quão duro isso é? E como isso é injusto conosco?

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Parece óbvio, mas vale frisar que o assédio vem unicamente por você ser mulher. Não se trata de ser bonita ou não, legal ou não, boa no que faz ou não. Ele vem. E você é obrigada a ter jogo de cintura (ou não, mandar o cara à merda tá liberado também, rs).

Desde que eu iniciei o jornalismo setorizado pelo LANCE!, lá em 2017, eu já sabia o que viria pela frente. E optei, particularmente, por driblar isso diariamente e me fortalecer. A resposta para tudo que estava acontecendo era com trabalho. Entregar novidade ao leitor, produzir boas pautas, melhorar meus textos (…)

Isso é um pouco do que vivo e, por conta, decido continuar exercendo o que eu amo. Porém, é completamente compreensível ver mulheres desistindo da área.

Como toda a profissão tem lado ruim, o bom também existe. E produzir pautas emocionantes, como foi a de Jobson com Renato, nos dá um gás. Receber reconhecimento é sempre legal. Atingir números que não esperamos e ver matérias repercutirem também.

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Tenho muita, mas muita sorte do meu dia a dia no CT Rei Pelé ser leve. Sou rodeada de bons amigos. O que vocês veem no Twitter, as interações entre os setoristas do Peixe, é tudo muito real. Há uma parceria e um laço forte de amizade ali. Isso é impagável.

Você também pode encontrar fontes que se transformarão em amigos(as), torcedores que criará elo e até passará seu WhatsApp e ganhar a admiração daqueles que você admira.
 
E mesmo com todo machismo que nos cerca e o desrespeito com a mulher… e os que tentam nos censurar e que questionam nosso trabalho e tentam nos oprimir… e que duvidam da nossa capacidade e apontam o dedo sem pensar em como nos fere… e com todos os motivos para desistir: nós resistimos.

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