Gol nos acréscimos, euforia no estádio, invasão de gramado… Parecia título. Ou acesso, já que há a tradição da torcida entrar no campo para festejar quando os clubes sobem de divisão na Inglaterra. Mas era “apenas” a vitória na semifinal da Copa da Liga.
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Claro que não foram circunstâncias comuns. O gol do egípcio Trezeguet saiu aos 48 do segundo tempo, evitando a disputa de pênaltis e eliminando o favorito Leicester. Será a nona final do Aston Villa no torneio que já venceu cinco vezes.
A Copa da Liga tem algumas particularidades. Não possui a tradição da Copa da Inglaterra (a FA Cup, organizada pela Federação Inglesa desde 1871), reúne menos equipes (apenas as das quatro primeiras divisões) e recebe menos prestígio. Também é frequentemente debatida como um obstáculo em um calendário cada vez mais puxado.
A Inglaterra discute se faz sentido manter uma segunda copa nacional na agenda. De fato, a maratona precisa de intervalo e o Liverpool tem sido o maior exemplo. Não por acaso, Klopp colocou garotos em campo no jogo de dezembro, até porque estrearia no Mundial de Clubes um dia depois da partida das quartas.
Agora, promete fazer o mesmo com a Copa da Inglaterra, já que teve seu jogo marcado justamente para o período supostamente de descanso dos clubes da Premier League. O campeonato adotou uma pausa de 15 dias no início de fevereiro para que os clubes possam compensar parte do prejuízo físico causado pela maratona.
Só que falta data para tanto jogo. E de onde tirar? Aos poucos, a FA Cup reduz seus replays. Antes, cada partida empatada gerava um novo jogo, só que com mando invertido. A Copa da Liga já não tem mais prorrogação na semifinal. Só que nada disso é o bastante.
A relevância da Copa da Liga é indiscutivelmente menor. Ao mesmo tempo, a menor atenção dos gigantes costumava abrir o caminho para eventuais zebras. O Swansea foi campeão em 2013 (em uma final contra o Bradford City!), o Birmingham em 2011, o Middlesbrough em 2004 (contra o Bolton)… Nos últimos anos, sem chances. Foram quatro títulos do Manchester City em seis edições, sendo que as outras duas ficaram com Manchester United e Chelsea.
Além disso, nem os finalistas foram surpresas, com exceção de Sunderland em 2014 e Southampton em 2017. Os grandes passaram a encarar o torneio como a chance de levantar uma taça no meio da temporada, o que ajuda a aliviar a pressão ou a dar confiança ao trabalho.
Por isso a vitória do Aston Villa teve tanto valor. O tradicional clube passa por alguns de seus anos mais complicados. Embora seja sete vezes campeão inglês e tenha título até da Champions, acabou de voltar à elite após três anos na segunda divisão. Enquanto tenta garantir a sobrevivência na Premier League, ganhou a oportunidade de ir a Wembley disputar uma taça. O último título do Villa foi em 1996, justamente no torneio.
A valorização da classificação para a final de uma copa menos importante ajuda a resgatar um pouco do lado humano do jogo. Em um calendário cruel e insano, os elencos mais fortes são vistos quase como máquinas. E como geralmente correspondem, os objetivos menos relevantes viram apenas obstáculos pelo caminho. Não é culpa deles.
O debate sobre a diminuição de jogos na Inglaterra é urgente e necessário. E talvez a Copa da Liga deva ser, de fato, o primeiro ponto atacado. Mas a classificação do Aston Villa, da forma que foi e com a festa que teve, gerou um raro momento marcante recente, contrariou a lógica das últimas temporadas e deu vida ao torneio.
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