Com 16 clubes, 10 deles do interior, competição será muito competitiva; os 2 clubes que estarão na elite em 2021 serão decididos em apenas 3 meses
A receita é a seguinte: em menos de dez semanas, disputar 15 jogos e terminar a 1ª fase entre os oito melhores. Depois, derrubar dois rivais no sistema ‘mata-mata’, em jogos de ida e volta. É isso o que um clube da A2 precisa para alcançar a 1ª divisão. Parece simples, mas dada a qualidade dos 15 concorrentes, o desafio é tremendo. Os dez clubes do interior (XV de Piracicaba, Taubaté, Atibaia, Monte Azul, Penapolense, Red Bull Brasil*, Sertãozinho, São Bento, Rio Claro e Votuporanguense) terão a concorrência de dois times da capital (Portuguesa e Juventus), três da Grande São Paulo (São Bernardo FC, São Caetano e Audax) e um do litoral (Portuguesa Santista). Clique aqui para ver a tabela detalhada.
“A Série A2 está a cada ano mais competitiva”, afirma Beto Souza, gestor de futebol do XV de Piracicaba. O tradicional Nhô Quim bateu na trave nos dois últimos anos – terminou em 4º em ambas as competições. O planejamento para 2020 demonstra o grau de mobilização. “Estamos montando um elenco forte, com qualidade em todos os setores. Acredito que temos uma vantagem por mantermos uma boa base de 2019. As contratações foram pontuais. Largar bem na competição pode ser um diferencial.”
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Campeão da A3 de 2019, o caçula Atibaia antecipou o planejamento para tentar engatar outro acesso. “Assim que fomos eliminados da Copa Paulista, começamos o planejamento para a A2. Os atletas voltaram ao trabalho no dia 14 de outubro, quando demos início à parte física e fisiológica. Apostamos em contratações certeiras e muitos amistosos”, destacou Marcelo Pereira, diretor de futebol do clube que mandará seus jogos em Americana por falta de estrutura no estádio municipal de Atibaia. No dia 7 de janeiro, em amistoso realizado na cidade de Itu, o Falcão bateu o Red Bull Bragantino por 3 a 1.
Como se sabe, nos últimos anos a Federação Paulista de Futebol equalizou as três primeiras divisões do futebol paulista para 16 clubes em cada uma delas: A1, A2 e A3. A princípio, a ideia foi boa, transmite a ideia de organização, mas não leva em conta uma série de fatores que quem vive o dia-a-dia dos clubes sem divisão nacional reclama. O tempo de duração do campeonato, três meses e pouco, nada mais é do que um enorme desperdício.
A maioria dos clubes iniciou a preparação para a A2 entre o meio de novembro o começo de dezembro. As primeiras duas ou três semanas são dedicadas à preparação física, os trabalhos com bola vem em seguida. A folha salarial dos 16 clubes oscila entre 70 mil e 300 mil mensais.
Desde a introdução dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro da Série A, em 2003 – um avanço para o futebol do país –, o número de datas dos campeonatos estaduais diminuiu, o que acarretou no enxugamento, por exemplo, do Campeonato Paulista da 1ª divisão. Até aí, tudo bem, o Nacional e o Estadual não poderiam entrar em conflito. O que não se compreende é o motivo pelo qual a 2ª e 3ª divisões passaram a acompanhar o calendário da 1ª.
“É preciso revolucionar o calendário no âmbito nacional. Mas para isso precisa discussão com todos os envolvidos, CBF, Federação Paulista e clubes. Atualmente, você contrata jogadores para 4, 5 meses e depois eles vão fazer o quê? Jogar Copa Paulista, Copa Mineira, que não leva a nada. É muito pouco. Um alternativa poderia ser ampliarmos os campeonatos nacionais em mais séries: E, F e assim por diante. Quanto ao atual formato da A2, é realmente muito pouco tempo para se fazer um campeonato competitivo, que agrade a mídia, a imprensa e principalmente o torcedor que compra o produto”, opina Nilson Moreira, presidente do Penapolense.
Nilso Moreira, presidente do Penapolense | Foto: Divulgação/CA Penapolense
Há os mais variados fatores para se viabilizar uma competição de larga duração. São tempos de “vacas magras” para boa parte dos clubes do interior, principais mantenedores das divisões de acesso. No entanto, como já abordado em outras colunas, o futebol do “clube da cidade” pode caminhar em paralelo ao do “clube grande”. Se eles puderem se enfrentar um dia, ótimo, mas os “jogos raiz”, rivalidades locais, têm tudo para retornarem como um case de sucesso. Nem mesmo potencial financeiro falta em um estado rico como São Paulo. Ao invés de fragmentar as divisões em pequenas tiras – fala-se até em A4 –, por que não reagrupar os clubes em menos divisões e regionalizá-las nas fases iniciais? As divisões de acesso já funcionaram em modelo semelhante nas décadas de 70 e 80.
O diretor de marketing do Sertãozinho, Tcharles Bighetti, aponta que a viabilização econômica de uma competição mais longa dependeria de todos. “Da FPF em apresentar uma fórmula que atraia mídias e investidores, dos clubes em sua própria manutenção e na captação de parcerias e do público em si, se fazendo presente nos jogos. Um campeonato é como um organismo vivo, se uma das partes estiver com problemas, o restante vai junto.”
Rafael Gatti, gerente de futebol do Votuporanguense, segue o raciocínio. “Todo o contexto precisa ser analisado, vários fatores precisam ser colocados em pauta, mas a gente sempre vê com bons olhos uma competição com um prazo maior. A ação precisa ser conjunta entre Federação, TV, uma competição mais longa acaba sendo atrativa para o clube em relação à captação de recursos, patrocinadores, que vão ter as suas marcas sendo divulgadas por mais tempo. Você tem ainda a valorização dos profissionais que estão desenvolvendo o trabalho e também mais tempo para revelar os atletas. Tudo pode se tornar mais atrativo.”
“Hoje em dia, a maioria dos clubes do interior se organiza para cinco meses de trabalho, é difícil se programar”, afirma Dayvid Medeiros, presidente do Rio Claro. “A cota que vem da Federação não supre as necessidades. A CBF, junto com as federações, devem buscar meios para fazer com que o calendário se encaixe melhor na realidade dos clubes. Os campeonatos precisam ser mais atrativos para proporcionar aos clubes maior investimento.”
A Série A2 deste ano repetirá o modelo do ano passado, com 16 clubes jogando entre si, em turno único, na 1ª fase. Os oito melhores colocados avançam para as quartas de final, disputadas no ‘mata-mata’, em jogos de ida e volta, formato que se repete nas semifinais e finais. Na prática, cada clube cumprirá a insana maratona de 15 jogos em nove semanas e meia – de guerra –, entre 22 de janeiro e 28 de março, data em que metade dos clubes dará adeus à competição – os dois piores cairão para a A3. Mais quatro se despedirão no dia 5 de abril e, duas semanas depois, com a cabeça inchada por terem triscado o acesso, mais dois. Até o campeão e o vice não terão mais muito o que fazer em 2020 – a Copa Paulista não empolga o torcedor.
Carlos Arini, gerente de futebol do Taubaté, especula sobre outra fórmula de disputa, se mais datas fossem disponibilizadas. “Com os mesmos 16 clubes, o campeonato poderia ser disputado em turno e returno, com o 1º e 2º de cada turno avançando para a semifinal. Campeão e vice subiriam.” A quantidade de clubes que deve subir e descer de divisão é outro debate de enorme relevância.
Carlos Arini, gerente de futebol do Taubaté | Foto: Reprodução Facebook/EC Taubaté
Vale lembrar que São Bento e o São Caetano são os clubes da A2 que terão calendário nacional para a sequência do ano. O clube de Sorocaba irá disputar a Série C do Brasileiro, enquanto o Azulão (campeão da Copa Paulista) estará na Série D. O XV de Piracicaba (vice-campeão da Copa Paulista) disputará a Copa do Brasil – na 1ª fase, receberá o Londrina no Barão da Serra Negra.
*O Red Bull Brasil, por fazer parte do mesmo grupo econômico que o Red Bull Bragantino, que está na divisão de elite, não poderá subir de divisão nem mesmo se for o campeão. Hipoteticamente, neste caso, subiriam o 2º e o 3º colocados.
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Raio-X dos clubes do interior na COPA SÃO PAULO DE FUTEBOL JÚNIOR (em negrito os clubes que atuaram em suas sedes)
1ª fase (33 de 128 clubes – 26%):
Eliminados: (A1) Guarani, Inter de Limeira, (A2) XV de Piracicaba, Rio Claro, Taubaté, Penapolense, (A3) Linense, Primavera, Marília, Noroeste, Velo Clube, Comercial, Paulista, (4ª divisão) Osvaldo Cruz, Assisense, XV de Jaú, Jaguariúna e Manthiqueira
2ª fase (15 de 64 clubes ou 23%):
Eliminados: (A1) Novorizontino, Ituano, Ferroviária, (A2) Votuporanguense, Sertãozinho, (A3) Capivariano, (4ª divisão) Tanabi e Francana
3ª fase (7 de 32 clubes ou 22%):
Eliminados: (A1) Ponte Preta, (A2) São Bento, (A3) Desportivo Brasil e Itapirense
Oitavas de final (3 de 16 clubes ou 19%):
Eliminados: (A1) Mirassol e (A2) Red Bull Brasil
Quartas de final (1 de 8 clubes ou 12%):
Eliminados: (A1) Botafogo de Ribeirão
CAMPEONATO PAULISTA A1 2020 – Clique aqui para ver a tabela detalhada
Dos 16 participantes, nove são do interior.
Botafogo, Ferroviária, Guarani, Inter de Limeira, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Ponte Preta, Red Bull Bragantino (interior), Corinthians, Palmeiras, São Paulo (capital), Água Santa, Oeste, Santo André (Grande São Paulo), Santos (litoral).
CAMPEONATO PAULISTA A3 2020 – Clique aqui para ver a tabela detalhada
Dos 16 participantes, 13 são do interior.
Batatais, Barretos, Capivariano, Comercial, Desportivo Brasil, Linense, Marília, Noroeste, Olímpia, Paulista, Primavera, Rio Preto, Velo Clube (interior), Nacional (capital), EC São Bernardo e Grêmio Osasco (Grande São Paulo).
CAMPEONATO CARIOCA 2020
Os interioranos Americano de Campos e Friburguense não obtiveram sucesso na Seletiva que apontou os últimos dois participantes do Estadual do Rio.
Volta Redonda e Resende, que estreiam em casa neste sábado (18), estão no Grupo B ao lado de Fluminense, Vasco da Gama, Madureira e Macaé.
1ª rodada
Sábado (18), 16h30
Resende x Boavista, no Estádio do Trabalhador (Resende)
Sábado (18), 18h
Volta Redonda x Botafogo, no Raulino de Oliveira (Volta Redonda)
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